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Ciranda rubro-negra


 

  • Da Redação

Publicado em 27/10/2018 às 05:00:00
Atualizado em 19/04/2023 às 02:00:06
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Devido ao horário em que este texto deve estar na página do jornal, escrevo sem saber quanto o foi o jogo do Vitória diante do São Paulo. Se ganhou, o pessoal deve estar animado para escapar do rebaixamento. Se empatou ou perdeu, a cabeça deve estar inchada, porque indica que a reta final será mais difícil do que já seria, mesmo com o triunfo.

Sem saber o resultado do jogo, dá pra ter somente uma certeza: o Vitória vai penar até o fim, trajetória que, aliás, já faz parte da rotina rubro-negra. Esta rotina foi construída por dirigentes que, se sucedendo no cargo, foram incapazes de imprimir boa gestão no departamento de futebol do clube.

Ano após ano, o Vitória torra sua própria grana com jogadores medíocres (ou péssimos), que não acham espaço em canto nenhum, mas na Toca do Leão são apresentados como grandes promessas ou atletas de ótimo nível.

No entra e sai da diretoria de futebol, os nomes mudam, mas as práticas são as mesmas, criando uma espécie de ciranda: contratações a granel, desempenho abaixo da crítica, time fraco, jogadores afastados, mais contratações de balde, time continua fraco, rebaixamento à espreita e... pode escapar ou não da degola, a depender do alinhamento dos astros.

No entra e sai da diretoria de futebol, rola também aquela história de valorizar a base. Depois de tanto ouvir a mesma ladainha, concluo que, na verdade, ninguém mentiu. Todos, efetivamente, valorizaram a divisão de base – de outros clubes.

Volta e meia aparece no Vitória um jovem que tem tudo pra arrebentar. Ninguém explica por que ele não arrebentou onde foi revelado e em outras equipes por onde já tenha passado, mas aqui o rapaz chega com ares de solução, tomando espaço de garotos que, veja só, foram formados pelo Vitória e estão esperando sua chance de arrebentar.

Perdido no seu próprio labirinto, o rubro-negro tem sete jogos para se manter na primeira divisão e precisa somar pontos dentro e fora de casa. Nisso, há um único alento: com Carpegiani, o time pelo menos compete. Antes, nem isso.

Se a missão for cumprida com êxito, já podemos até vislumbrar o presidente Ricardo David chegando ao microfone para dizer que, na próxima temporada, tudo será diferente. Dirá umas boas frases sobre planejamento e transição da base e utilização do setor de inteligência e por aí vai. A ver.

O risco metafísico, por assim dizer, é que, por causa das eleições, o Vitória fez duas partidas recentes em noites de sexta-feira. A torcida só espera que não tenham sido já ensaios para a Série B.

O ódio Escrevo essa coluna há seis anos. Já recebi trocentas mensagens de gente que discorda do que escrevo. Nunca mensagens virulentas, mesmo quando critiquei este ou aquele clube, o que sempre aflora os sentimentos.

Nas últimas semanas, a partir de episódios do universo esportivo, escrevi duas colunas com críticas a Jair Bolsonaro, que pode ser eleito presidente do Brasil pregando apenas o ódio pelo diferente (de ideias, de cor, de orientação sexual...), sem debater e sem apresentar qualquer proposta. Foi o que bastou para seus simpatizantes rosnarem via mensagens eletrônicas, reproduzindo a mesma virulência das falas do candidato.

É isso que vai resolver nossos problemas?

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados