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O que é que a Austrália tem? País tem baianos e agora Carnaval


 

Colunista conversou com conterrâneos sobre as vantagens e desvantagens de morar na terra dos cangurus

  • Da Redação

Publicado em 12/03/2018 às 16:56:00
Atualizado em 18/04/2023 às 04:16:07
. Crédito: Fotos: Divulgação

Para um baiano nato, com toda sua malemolência e seu gingado, a Austrália - país localizado na Oceania - sempre foi um lugar distante. Longe como a Malásia, as ilhas Maldivas, ou outro país digamos exótico do outro lado do mundo. Afinal, por vias normais, não se gasta menos do que 32 horas voando de Salvador até chegar a cidades como Sidney, Melbourne, Adelaide ou Brisbane. Pois foi justamente em Brisbane que, neste final de semana - precisamente no sábado (10) - aconteceu o primeiro CarnAustralia, que teve como a atração a Jammil e Uma Noites, comandada por Levi Lima. Banda Jammil, comandada pelo vocalista Levi Lima, subiu ao palco do Brisbane Showgrounds para comandar o primeiro CarnAustrália, em Brisbane (Foto: Divulgação) E sabe quem organizou tal evento? Dois jovens baianos: o empresário Danilo Pedreira (We Are Carnaval) e Gustavo Andrade (Surto Entretenimento). Danilo, 30 anos, vive há três anos em Brisbane. Gustavo, 39, morou durante um ano na cidade - onde veio estudar inglês. Quis o destino que os dois se conhecessem através de amigos e, como tinham a mesma ideia, não foi difícil iniciar um diálogo. Ambos sonhavam em fazer um Carnaval fora de época na Austrália. Parecia fácil. Mas Gustavo teve que voltar para a Bahia. Mesmo assim, eles foram conversando via e-mail, WhatsApp e redes sociais, acertando os ponteiros e derrubando barreiras até que conseguiram, com esforço próprio e a ajuda dos amigos e familiares, marcar a data, acertar com a Jammil e, como se diz na Bahia, “correr atrás”.

“O CarnAustrália foi um sonho que tinha que acontecer e foi contado nos dedos por quem tem nas veias dendê”, definiu Danilo Pedreira. E, se depender dele, não vai parar. Trabalhando como cozinheiro e organizador de eventos, Danilo viu na Austrália, segurança, oportunidade de crescimento pessoal e profissionais, além do pensamento coletivo: “A desvantagem é a distância”. Uma possivel solidão ele tira de letra com sua mulher, a baiana Ana Paula Magalhães Leal, 32, advogada que vive na Austrália há 3 anos e onde trabalha como assistente administrativa. Danilo e a esposa, Ana Paula (Foto: Divulgação) Ela garante que está valendo a pena. “Desde que decidi viver com meu marido na Austrália o aprendizado é diário. Se adaptar com uma nova língua, superar paradigmas culturais, viver numa cultura diferente da nossa, sentir saudade constante da família e amigos não é fácil. A qualidade de vida aqui é muito boa, poder trabalhar com dignidade e se sentir seguro o tempo todo é uma das maiores vantagens. Aqui a gente conhece gente do mundo todo. Mas é prazeroso e gratificante ter a oportunidade de aprender todos os dias e poder espalhar a nossa história, cultura e o axé da nossa Bahia do outro lado do mundo!”, resumiu Ana.

Estatisticamente, não sei dizer quantos baianos vivem na Austrália. Mas, pela mostra do que vi no CarnAustrália, imagina-se que tenha bastante. No entanto, nem todos vieram pensando em fazer Carnaval. Em comum, todos têm a melhora de vida - pois o Brasil, terra natal deles, tem sido mais uma madrasta (nada conta, antes que os politicamente corretos venham fazer mimimi) do que uma mãe. E tem o clima muito parecido com o da Bahia: belas praias, locais paradisíacos e um povo muito receptivo.

A jornalista Luciana Rebouças, 32 anos, que trabalhou no CORREIO e vive há 4 anos e cinco meses na Austrália, em Melbourne, em uma vizinhança chamada Bayswater North, confidenciou que veio morar na Austrália porque precisava de um tempo fora do Brasil: “Já tinha morado fora, no Canadá, e me readaptar ao Brasil estava sendo um pouco complicado. Gostava do jeito tranquilo do australiano, dos valores da sociedade e do jeito que eles aproveitam a vida ao ar livre. Hoje, esse é o país da minha segunda família, do meu marido e me sinto em casa”. Luciana Rebouças mora hoje na Austrália (Foto: Arquivo Pessoal) Totalmente adpatada ao novo pais e em transição de trabalho, Luciana acabou de voltar da Bahia, onde foi se casar. “Estou no meio do processo para virar australiana e acho que já incorporei a cultura e os hábitos daqui. Uma vez que você ama a Austrália e incorpora o jeito de viver do australianos, eles te aceitam muito bem. Acredito que, como em outros países, o australiano só quer que você seja parte da sua cultura e respeite seus hábitos”, revela.

Como autêntica baiana - que sente cheiro da nossa comida típica mesmo à distância- ela enfatiza: “Sinto falta da Bahia, da minha família e das comidas, mas não tenho nenhuma dúvida que a minha casa, hoje, é aqui. Também facilitou muito ter a possibilidade de comprar azeite de dênde aqui. A última garrafa que meu marido comprou para mim saiu por AU$14 e dura quase um ano! Aí vou matando as saudades da comida. Pode parecer brincadeira, mas acredito que o dênde está no nosso sangue, então facilita muito ter nosso azeite aqui”. Luciana conseguiu achar dendê por lá (Foto: Arquivo Pessoal) Olha o Gandhy aí Sempre com sua fantasia do Filhos de Gandhy, o consultor de marketing, professor universitário, Pedro Ferraro, 41, vê muitas vantagens em morar na Austrália. “É u país multicultural, próspero, novo e estável economicamente é sem dúvida algo que nos atrai. O clima e as belezas naturais são também fantásticos, como no Brasil. Austrália é destino ideal das oportunidades, para quem quer viajar, estudar, trabalhar e empreender”, afirma ele, que mora há 14 anos lá e é fundador da Delícia Gourmet, primeira fábrica de salgados brasileiros no país. Pedro mora há 14 anos na Austrália (Foto: Arquivo Pessoal) Entre as desvantagens, ele cita morar longe da família, amigos e da cultura: “Sem dúvidas é um grande desafio. Mas, o que parece ser um obstáculo se torna, em nossas mãos, o combústivel da nossa perseverança em vencer a distância e plantar na Australia a nossa própria semente”.

Dos baianos “exilados” na Austrália, encontrei ainda Igor Pontes, 38 anos, ex-funcionário da prefeitura. Ele é dos mais animados. Com muitos amigos da comunidade LGBT na Bahia, Igor se vira nos 30 e mora há sete anos em Sidney. “Atualmente, sou supervisor numa empresa na construção civil e estudante de Educação Física”, contou. Para ele, além da segurança, o local tem a uma qualidade de vida muito boa. “No sentido trabalhar, estudar, pagar os impostas, ver o seu dinheiro sendo investido na melhoria da cidade, além de conseguir fazer uma poupança que me permita viajar e até ajudar a família em Salvador”, revela.  Igor não esconde que o medo foi natural: “Como um bom baiano, apegado às minhas crenças e orixás, me mantive firme e forte!  Em Sydney, tentamos pelo menos uma vez por mês reunir alguns baianos pra poder celebrar a nossa cultura com muita música e Dendê”, conta. Igor Pontes elogia a qualidade de vida do local (Foto: Arquivo Pessoal) Ex-integrante do grupo Os Sungas (junto com Linoy, hoje no Ara Ketu) e fazendo parte da banda local de axé Terremoto, Bruno Dávila, 33, está há três anos morando nem Noosa, praia da Sunshine Coast, e trabalha como chefe de cozinha. Depois de morar em Londres e não se adpatar à terra da Rainha resolveu mudar. “Soube através de amigos que a Austrália é o Brasil que deu certo”, declarou. Bruno trabalha como chefe de cozinha (Foto: Arquivo Pessoal) Mais novo entre os baianos entrevistados, David Costa, 23, também atua como chefe de cozinha em Brisbane. Com uma pousada administrada com a família, em Praia do Forte, ele - assim como a maioria dos conterrâneos que atravessaram o atlântico - veio em busca de oportunidades. “Pesou muito a qualidade de vida aqui em Brisbane e também vim aprender inglês”, falou. David atua como chefe de cozinha em Brisbane (Foto: Arquivo Pessoal) Mas David não negou que morre de saudades da Terra de Todos os Santos. Como diz o ditado: “Mancha de dendê não sai”.

*O jornalista viajou à Austrália a convite da produção do CarnAustralia