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Caboclo e Cabocla retornam à Lapinha após três dias de lamentações


 

Volta da Cabocla encerrou os festejos do 2 de Julho

  • Gabriel Moura

Publicado em 05/07/2019 às 20:58:00
Atualizado em 06/05/2023 às 10:46:03
. Crédito: Foto: Betto Jr/CORREIO

Após três dias banhados a lágrimas de quem se dirige até eles para chorar, os pés do caboclo e da cabocla estão cansados. Então, após a labuta, chegou a hora do merecido ócio: as imagens deixaram o Campo Grande e estão de volta ao seu lar, na Lapinha.

Se nos últimos três dias os caboclos se acostumaram a escutar lamentações, o som ambiente em sua volta pra casa foi de festa. Os caboclos foram cercados por uma multidão e evadas por seus fiéis devotos, como o funcionário público Luiz de Almeida, 71 anos, que há 45 religiosamente ajuda a levar e trazer para a Lapinha as imagens.

“Já passei dos 70 e, graças a Deus, ainda tenho pique e vou participar até onde minhas pernas aguentarem. Aliás, isso pra mim nem cansa, é uma diversão. E esse ano ainda foi melhor, pois caiu numa sexta-feira, dia de farra. Vim direto do trabalho pra cá, pronto pra comer água. Nem em casa passei. É só alegria!”, celebra Luiz de Almeida, sorridente.

No trajeto de volta para casa, as imagens foram embaladas pelo ritmo da banda R Xangô, tocando músicas tradicionais dos festejos, como "Tumba-ê caboclo, tumba lá e cá". No comando dos instrumentistas estava a funcionária pública Rita Barbosa, 37 anos, que seguiu o legado de seu pai, o Mestre Reginaldo, fundador do grupo, que morreu há 6 anos.

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“Estamos aqui há mais de 30 anos participando da volta da Cabocla. E para a gente é mais que especial participar deste evento, pois tem toda a questão religiosa envolvida. Não encaramos isso como uma obrigação, mas como uma missão divina que recebemos e que, anualmente, temos que cumprir”, ressalta, Rita.

Além da banda, outros grupos se organizaram para participar dos festejos. Entre eles a Velha Guarda dos Negões, que pelo segundo ano  acompanhou o evento. Osvaldo Martins, presidente da organização que reuniu 50 pessoas na Volta da Cabocla, ressaltou a importância do resgate histórico da celebração.

“Muita gente participa da ida da cabocla ao Campo Grande, mas a volta geralmente é esvaziada. E é uma celebração muito tradicional de Salvador - o 2 de Julho é a maior festa cívica da cidade. Então, se pouca gente vai, nós marcamos presença e lutamos para resgatar essa comemoração tão importante para nós, baianos. E, além disso, aproveitamos para rever os amigos e se divertir”, diz.

Volta pro povo, oferenda Um detalhe que chamou a atenção de Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos - instituição que organiza o evento - foi o número recorde de oferendas. Ele atribuiu a grande entrega de alimentos, que são doados para a população mais carente da cidade, à crise que o Brasil vive.

“Infelizmente o Brasil está vivendo uma crise enorme e a situação é difícil. Muitas pessoas acabaram piorando sua situação financeira, ou até perdendo o emprego. Então, como solução, elas vêm pedir aos caboclos que intercedam e melhorem sua condição e, claro, fazendo sua oferenda para sua prece ser ouvida”, conta.

Fernando Guerreiro, que registrou o evento em vídeo, também chamou a atenção pela necessidade de uma maior divulgação do 2 de Julho, além de ressaltar para a população a importância do feriado e todo o significado para os baianos da luta pela independência do Brasil na Bahia.

“Esses dias eu vi uma reportagem que perguntava ao povo se eles conheciam as figuras históricas do 2 de Julho e eu fiquei abismado com o desconhecimento, é assustador. Nós temos que ir em escolas, na mídia, ressaltar a importância desses heróis baianos. Até para isso, a gente está planejando deixar aberto para visitação o ano todo a casa dos caboclos, para a nossa população e os turistas conhecerem melhor a história da Bahia”, afirma.

* Com supervisão do subeditor João Gabriel Galdea