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Descarte correto de vidro ainda é problema para Salvador e região


 

Com apenas uma usina, poucos pontos e cooperativas coletam garrafas e potes

  • Vitor Villar

Publicado em 17/05/2021 às 14:22:00
Atualizado em 22/04/2023 às 06:38:08
. Crédito: Revida / Divulgação

Hoje, a pauta é sua! Essa matéria foi sugerida à redação do CORREIO pela nossa assinante Regina, moradora da Pituba, que inclusive ajudou na apuração. Quer ter informação de qualidade todos os dias e ainda sugerir pautas? Basta assinar o Jornal Correio por apenas R$ 5,94/mês. O gerente comercial Esaú Costa, morador de Mussurunga, viveu uma situação insólita em 2020. Ficou três dias rodando por Salvador com a caçamba de sua picape cheia de garrafas, sem conseguir encontrar onde descartar corretamente tanto vidro.

“Parei numa blitz voltando para casa e tive que explicar para os policiais porque tinha tanto vidro no carro (risos)”, lembra Esaú. “O meu patrão é dono de uma pousada em Barra Grande, e trouxe esse vidro para cá porque não encontrou em Maraú onde descarta-lo corretamente”.“Aí falei pra ele: ‘não, fique tranquilo, pode deixar comigo’! Eu achando que seria fácil, né (risos)? Saí ligando, mandando mensagem no WhatsApp, perguntando a todo mundo aonde levar. Fui em vários lugares aqui e em Lauro de Freitas e não achei nenhum que aceitasse vidro. Todo mundo dizia que não adiantava pegar na minha mão porque não tinha para quem repassar”, completa Esaú.O ‘perrengue’ não é novidade. Até o ano passado, não havia na Bahia uma usina para pulverizar vidro e recicla-lo. Antes de ser vendido à indústria, para que seja reaproveitado, esse material precisa ser transformado em pó.

Por isso, as cooperativas baianas e os pontos de coleta não aceitam vidro. Porque não há para onde levar. E, quando tem, a logística torna-se muito custosa.“O vidro é uma ‘pedra no sapato’ na reciclagem de Salvador. Não é que não tenha como reciclar, a questão é que não agrega valor. Até temos uma indústria que recebe vidro, mas tem que levar para Sergipe. E o preço que pagam não custeia essa viagem”, explica Elias Júnior, da Cooperbari.O vidro tem dois inconvenientes principais: é mais pesado que os demais materiais e ocupa um volume maior, pois não pode ser amassado. Por isso, qualquer transporte exige mais veículos do que plástico, papel ou alumínio. Além disso, é mais perigoso para quem os manuseia.

“O descarte de vidro é mesmo um ‘problemão’ para o estado. No passado, as cooperativas até coletavam, mas de uns cinco anos para cá começou a ficar muito caro fazer a logística. Hoje em dia tem até quem recolha, mas só consegue destinar quando tem muitas toneladas. E não é toda cooperativa que tem esse espaço para armazenagem”, explica Sandro Camargo.

Por isso, o vidro que é entregue nos Ecopontos muitas vezes não atrai cooperativas e acaba descartado no aterro. Juliana Tourinho, que sempre deixou seus vidros no Ecoponto do Itaigara, ficou surpresa ao saber disso por meio da reportagem.

“Eu não sabia disso não! Morreria sem saber! E eu me achando o máximo, crendo que fazia reciclagem das minhas cervejas, dos meus vinhos... Estou indignada (risos)!”, disse, brincando. A engenheira Juliana Tourinho separa seus recicláveis por tido e faz a entrega diariamente (Foto: Paula Fróes / CORREIO) Só em março do ano passado foi inaugurada a primeira usina de vidro na Bahia, a Revida, em Camaçari. Ainda assim, a empresa tem enfrentado obstáculos para obter adesão, justamente por conta da custosa logística.“Muita gente nos procura, individualmente, para destinar seu vidro. Só que o preço que a gente encontra para revende-lo depois não paga nem esse diesel”, explica Val Dias, fundadora da empresa. “O nosso desafio é que os grandes geradores (supermercados, restaurantes, hotéis, locais de evento) custeiem esse deslocamento”, completa.A outra ponta dessa cadeia também está quebrada: “O vidro que a gente processa aqui também não é aproveitado na Bahia. A gente revende para São Paulo, Pernambuco, Ceará. Então temos também esse custo elevado. O cliente final são as indústrias de vidro que transformam esse triturado em novas garrafas, novos recipientes. E isso não existe aqui no estado”, diz Val Dias.

Por isso, além da entrega voluntária na sede – que fica no bairro Limoeira, próximo ao Hospital Geral de Camaçari –, a empresa tem buscado parcerias com prefeituras e grandes geradores.

Pelo menos um desses projetos saiu do papel: desde o final de abril último o Vale Luz, da Coelba, tem também recolhido vidro e destinado para a Revida. A empresa também tem parceria com os hotéis da Praia do Forte, que têm destinado o material para lá, além de condomínios do Litoral Norte e da Coopmarc, cooperativa de reciclagem sediada em Camaçari.

A usina, porém, ainda não conseguiu apoio das prefeituras da Região Metropolitana. “O custo do vidro no aterro sanitário é imenso para os municípios. É um material que não é degradável, toma muito espaço, é um prejuízo ambiental enorme”, diz Val Dias.“E o estranho é que o vidro é 100% reciclável. O plástico e o alumínio, por exemplo, não são totalmente reaproveitados. Uma garrafa que você pulveriza se transforma numa nova garrafa por meio da indústria”, salienta a fundadora.Para as cooperativas, o preço que a Revida paga pelo vidro também não custeia a logística. “A gente está em diálogo permanente com o Ministério Público para ver o que é possível fazer. A gente precisa chamar a atenção do poder público para que nos ajude com esse transporte”, diz Sandro Camargo.

“A gente também precisa estimular para que as indústrias de vidro venham para a Bahia. E assim tenhamos toda a cadeia por aqui e assim os custos reduzam para todo mundo”, completa.

O que fazer?É importante que cada cidadão separe o seu lixo reciclável (papel, plástico, vidro e alumínio, sobretudo) e leve para um ponto de coleta. Ou, que entre em contato com alguma cooperativa de reciclagem e agenda uma coleta em seu condomínio. Onde levar meus recicláveis?

Projeto Vale Luz: Através dessa iniciativa da Coelba, é possível trocar recicláveis por desconto na sua conta de luz. Locais:Salvador Shopping Salvador Norte Shopping Ecoponto na Praia do Forte Ecopontos da Limpurb: Nesses pontos, é possível deixar lixo reciclável ou entulho, que serão entregues a cooperativas. Locais:Rua Wanderley Pinho, 710, Itaigara (atrás do Hiperposto da Av. ACM) Rua Alto do Abaeté, S/N, Itapuã (em frente à sede do bloco Malê Debalê)