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Parque Costa Azul amarga abandono e insegurança para frequentadores


 

Assaltos, mau cheiro e estrutura precária são motivos de queixas de visitantes sobre área que fica na orla

  • Da Redação

Publicado em 17/05/2018 às 05:00:00
Atualizado em 18/04/2023 às 10:18:04
. Crédito: (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

Seria ótimo se Bruno Silva, 17 anos, tivesse um espaço para se encontrar com os amigos depois da aula, no Colégio Estadual Thales de Azevedo, conversar com calma, caminhar olhando o mar da orla de Salvador ou até assistir a um show. Mas o Parque Costa Azul, inaugurado em 1995 pelo governo do estado – que o administra até hoje – justamente para atender a essas demandas, atualmente é o retrato do abandono e insegurança: falta madeira nos bancos dos parquinhos, há lama onde deveria ter grama na quadra de esportes, banheiros estão quebrados e até um bebedouro dá choque ao ser acionado.

Por falta de opção, a visita arriscada ao parque costuma ser a melhor alternativa para estudantes de colégios do bairro poderem relaxar.“A gente já viu vários assaltos aqui. Teve uma vez que chegaram dois caras em uma bicicleta e tentaram nos assaltar, mas não conseguiram. Deviam colocar algum policiamento, uma guarnição para vigiar aqui”, comenta Bruno.Na teoria, o policiamento pedido pelo estudante já existe; segundo visitantes do parque, porém, polícia é por lá é coisa rara.

Os amigos e colegas de classe Guilherme Luan Reis, 16, e Jefferson Vieira, 17, passam todos os dias pelo parque para conseguir chegar a um ponto de ônibus, que fica próximo a uma das entradas do local. É um momento do dia de medo constante. “A gente tem que passar correndo, andar sempre em grupo... Eu já fui assaltado aqui uma vez por um cara na ponte”, lembra Jefferson.

Entre os problemas do parque, a oceanógrafa Daniela Espírito Santo, 27, diz que o principal é a falta de segurança. “Tem muito morador de rua aqui. Uma vez, um deles se masturbou na minha frente e de minha amiga. Teve uma vez também que tentaram me assaltar enquanto eu patinava”, recorda. Amanda Moreira, 23, concorda com a amiga. “Já está na hora de ser feita uma requalificação do espaço”, sugere.  (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Por meio de nota, a Polícia Militar disse que o policiamento na área do Parque Costa Azul é realizado pela 39ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Boca do Rio), e que emprega em suas ações viaturas em rondas diuturnamente.

“Através da ação de presença, as guarnições são posicionadas de forma estratégica e atuam com o objetivo de realizar abordagens preventivas”, completa. A corporação ainda pede que o cidadão registre as ocorrências na delegacia, além de ligar para o Disque Denúncia (3235-0000).

Abandono A reportagem do CORREIO visitou o parque nos meses de abril e maio e observou de perto os motivos de reclamações de quem frequenta. Milton Santos, 60, é professor de escolinha de futebol há mais de 20 anos e conta que, desde que começou a usar a quadra do parque para dar aulas, quando foi inaugurado, não há manutenção no local. “Quem cuida do campo aí sou eu. Da próxima vez que chover, vai surgir um monte de pedra. Olha como tá essa trave aí: toda enferrujada, prestes a cair. Os refletores não funcionam”, reclama.Renato Machado, 36, trabalha vendendo peças de artesanato, como colares e pulseiras. “Tá muito carente em relação à cultura. Não existe mobilização pra fazer algo em um espaço massa como esse. Tem tudo pra ser uma fonte de entretenimento”, opina.

Esse sentimento de tristeza com o abandono do parque também é compartilhado pela arquiteta e presidente  do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA), Gilcinéa Barbosa. Para ela, a falta de investimento público causa um prejuízo imenso para Salvador. (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) “Você tem um equipamento bem próximo da orla de Salvador, bastante movimento, mas completamente abandonado. Salvador tem uma demanda reprimida muito grande por lazer, poderia estar sendo usado aí. Poderia estar ocorrendo diversas atividades no anfiteatro, por exemplo. Eu mesma passei por ali, atravessei a rua e vi o cenário degradante”, afirma Gilcinéa.A arquiteta explica que o Parque Costa Azul tem um desenho muito bonito e útil, o que faz ser ainda mais triste encontrá-lo em uma situação como essa. “É interessante você ligar o parque à praia, através da passarela. Aquilo ali é um espaço super nobre. Você também pode fazer a travessia de um lado da via para o outro caminhando por dentro do parque”, diz.

‘Boas condições’ Apesar das reclamações dos visitantes do local sobre a condição do parque, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), órgão ligado ao governo do estado que administra o parque, afirmou, por meio de nota, que “o local está em boas condições de limpeza e manutenção de equipamentos”. (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Ainda segundo o órgão, estão sendo realizados “estudos para requalificação completa do Parque Costa Azul, inclusive pleiteando recursos com o governo federal”.  Na segunda visita da reportagem ao parque, alguns trabalhadores faziam a manutenção de bancos de parquinhos, além da troca de ‘tampões’ que cobrem a fiação elétrica do local. O bebedouro que dava choque foi coberto por um saco plástico.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier