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Procissão marítima vai abrir Festa do Bonfim em 2020; imagem de Santa Dulce vai ao cortejo


 

Historiador listou 10 mudanças simbólicas feitas na festa

  • Eduardo Dias

Publicado em 20/12/2019 às 06:00:00
Atualizado em 20/04/2023 às 15:35:07

Durante seus 275 anos de história e tradição, a Festa do Senhor do Bonfim passou por muitas mudanças em seus festejos. Na edição de 2020 não será diferente. A comissão de festas da Basílica Santuário do Senhor do Bonfim anunciou as novidades nesta quinta-feira (19). Entre elas, está a saída da imagem do Senhor do Bonfim em procissão marítima até o 2º Distrito Naval, na quarta-feira (15), onde ficará até o domingo (20), dia da festa, para ser conduzida em cortejo de volta à Basílica.

No cortejo, outra novidade é a participação das imagens de Santa Dulce dos Pobres e de Nossa Senhora da Penha, juntamente com a do Senhor do Bonfim, até a Basílica, que terá suas escadarias internas lavadas pela primeira vez, segundo a comissão de festas.  

Mesmo com as mudanças, a estimativa da organização é de que cerca de 2 milhões de pessoas participem dos festejos. O tema escolhido para 2020 é: Senhor do Bonfim, 275 anos de devoção, veneração e proteção, com o lema: Ontem, hoje e sempre sob a sombra da cruz. A temática remete ao Ano Jubilar, proclamado em abril deste ano para comemorar os 275 anos da chegada da imagem do Senhor do Bonfim a Salvador. “A Lavagem será feita nas próprias escadarias da Basílica, para que todos os fiéis possam visualizar o momento mais importante da festa. A imagem será conduzida em cortejo numa grande caravela, recordando a embarcação que trouxe a imagem para Salvador em 1745. Será uma festa bastante participativa e comemorativa do Ano Jubilar”, destacou o Padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Bonfim. Padre Edson anunciou novidades para a Festa do Bonfim 2020 (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) Tradição A Festa do Nosso Senhor do Bonfim é patrimônio cultural brasileiro, aprovada no dia 5 de janeiro de 2013 pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. A festa é realizada sem interrupção desde o ano de 1745 e atrai para a capital baiana, depois do Carnaval, o maior número de participantes de diversas expressões culturais e sociais.

Com elementos básicos e estruturantes mantidos ao longo dos anos, a Festa do Bonfim possui a Novena, o Cortejo, a Lavagem, os Ternos de Reis e a Missa Solene. A celebração ocorre durante onze dias do mês de janeiro, com início um dia após o Dia de Santos Reis, encerrando-se no segundo domingo depois da Epifania, no dia do Senhor do Bonfim.

Mudanças O historiador Nelson Cadena listou 10 mudanças simbólicas na história da festa ao longo dos anos. Cadena também explicou que as mudanças fazem parte de uma transformação da sociedade e dos costumes atuais e que partiram de uma vontade da Irmandade de seguir novos caminhos e parâmetros na realização do evento.   

“São muitas mudanças ao longo dos anos. A saída da imagem da Basílica, por exemplo, nunca tinha acontecido. O percurso marítimo, que é outra novidade, é de um simbolismo muito grande, pois antigamente, antes da construção da Avenida Dendezeiros, os fiéis só chegavam ao Bonfim através do mar. Além da agregação da imagem de Santa Dulce, que é algo justo, e é outro simbolismo interessante para a festa, já que ela é a santa da Bahia e faz parte do roteiro da fé”, explicou.

Confira como era a Festa do Bonfim antes das mudanças:Trios elétricos com bandas e foliões – Eles foram retirados dos festejos na década de 1990 sob a alegação de que tumultuavam a festa. Participação dos jegues com as carroças na festa do Bonfim – A pedido do Ministério Público da Bahia, foram retirados. Os jegues eram usados para carregar água para servir as pessoas que participavam do cortejo, e eram dos símbolos mais fortes e presentes desde as primeiras edições do evento. Retirada dos ciclistas com bicicletas enfeitadas da festa - Eram muitos, mas hoje ainda há alguns presentes, embora em muito menor número do que antes, quando faziam parte da comissão de frente da festa. Fechamento da igreja para a população em dois momentos - O primeiro, com o objetivo de restringir a participação do povo do candomblé na festa, em 1890. O segundo momento, por necessidade, por conta da capacidade da Basílica. Mudança na saída do percurso - Nem sempre saiu da Igreja da Conceição da Praia, no Comércio. Nos primeiros momentos da celebração, no século XIX, o ponto de partida era no Mercado do Ouro, no Comércio, que era o local de ponto de aguada e descanso dos animais, um verdadeiro ponto de concentração dos animais. A popular fitinha do Bonfim se transformou - Inicialmente, ela era utilizada como um enfeite nos chapéus, vestidos e no pescoço das mulheres. Eram largas, com cerca de 5 a 6 centímetros, em seda, bordada a ouro, e se popularizaram ao longo dos anos para atender à demanda do turismo. Hoje, ela é um dos principais símbolos da festa do Bonfim. Participação dos políticos na festa - Começou nos anos 1970, algo que antes não existia. Em um determinado momento, isso já complicou muito a festa, pois houve momentos que havia prioridades na festa para eles, com blocos próprios, fechados com cordas. A lavagem das escadarias de dentro da Basílica - Apesar de ser uma novidade apontada para 2020, não é algo novo. A prática já existiu e deixou de ser realizada há muito tempo, interrompida por conta do barulho, sujeira e aglomeração de muitas pessoas dentro da igreja. Fotos simuladas - Durante o governo de Getúlio Vargas, as esposas de políticos e autoridades faziam uma simulação da lavagem das escadarias para posar para fotos dos jornais, com roupas finas e elegantes. Diminuição do grupo das baianas no cortejo - Muitas delas não conseguem fazer o percurso completo, muito por conta da mudança da vaidade das mulheres, com sapatos de salto alto, e a desorganização do cortejo.   Em um trecho de seu livro 'Festas Populares da Bahia - Fé e Folia', Nelson Cadena listou também a história da formação do Cortejo nas décadas de 1930, 1940 e atualmente, no século XXI. (Foto: Nelson Cadena/Arquivo Pessoal) “A lavagem do Bonfim em si praticamente não existe mais, é somente um espaço de 10 m² que simboliza a festa. As mudanças têm, sim, que acontecer, a cidade cresce, são novas pessoas, com valores diferentes dos que tinham há 50 anos. Mas, o interessante é que ela se mantém viva e forte, além de muito prestigiada, não só pelos turistas, como também pelos baianos que têm uma participação muito ativa”, completou Cadena, que participa da festa do Bonfim há 35 anos.

Catequista e membro da irmandade da Basílica do Bonfim, Marly Pereira, 75 anos, é responsável por recrutar as crianças que farão parte do Coral de Natal do Bonfim e nos festejos de janeiro. Para ela, a celebração aproxima os pequenos da fé católica e ajuda a despertar nas crianças o verdadeiro sentido do Natal: Jesus.“Recrutamos as crianças de uma escola que fica próximo à Basílica, que também fazem parte da catequese. Fizemos um presépio ecológico na praça para ensinar as crianças os valores e cuidado com a natureza, além de mostrar a importância o verdadeiro sentido do Natal, que é o mais importante. A festa do Bonfim vai ser muito linda neste ano, esperamos que ocorra tudo dentro do planejado”, disse. Marly é a responsável por recrutar as crianças para o Coral do Bonfim (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) A também membro da irmandade Joceli Reis aprovou as mudanças para os festejos do próximo ano. Ela, lembrou a importância das novidades na festam, mas sem deixar de fora a contextualização dos 275 anos da chegada da imagem do Bonfim em Salvador.

“Vai ser uma festa linda e dentro do contexto dos 275 anos de celebrações. São inovações e novas opções de demonstrar a nossa fé, esperamos que seja um grande momento. A expectativa é que cause o impacto esperado nas pessoas, que é uma coisa bonita, grandiosa e diferente de se ver que é a festa do Bonfim”, contou. Joceli é membro da Irmandade da Basílica do Bonfim e aprovou as novidades na festa (Foto: Eduardo Dais/CORREIO) Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier