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Salvador está sem vacina para 1ª dose contra a covid-19 pela quarta vez 


 

Cidade só tem estoque para 2ª dose da Coronavac e Oxford e fará mutirão 

  • Marcela Vilar

Publicado em 25/05/2021 às 05:01:00
Atualizado em 22/04/2023 às 07:11:04
. Crédito: Bruno Concha/Prefeitura de Salvador

A vacinação contra a covid-19 em Salvador foi interrompida pela quarta vez. Isso já aconteceu nos dias 16 de fevereiro, 2 de março e 11 de abril. No dia 6 de abril, Salvador chegou a zerar o estoque, mas o governo estadual liberou 40 mil doses  extras para que a cidade não interrompesse a campanha. Cerca de um mês depois, o município não tem mais primeiras doses para aplicar na população, já que o Ministério da Saúde (MS) não enviou nova remessa no último final de semana.

O estoque estava tão baixo na capital baiana, na manhã de ontem (24), que teve que ser por agendamento – restavam apenas 887 vacinas para primeira aplicação, das quais 575 da Oxford/Astrazeneca e 312 da Pzifer. No domingo (23), nem chegou a ter campanha de imunização, pois não haviam doses suficientes.  

Quem não soube dessa nova estratégia perdeu viagem indo aos postos. No 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, nos Barris, muitos madrugaram na fila à toa. Foi o caso de Júlio Luiz Santos, 21. Ele chegou às 4h30 da manhã para marcar lugar para a tia, que chegava do interior. Jorge só foi descobrir que a vacina era apenas para quem agendou por volta das 7h, quando um repórter chegou ao local e informou da medida tomada pela Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS). 

"É um descaso. Uma falta de respeito com a população. Nem consegui dormir direito. Acordei 3 da manhã para poder chegar aqui. E, após ficar horas na fila, sou informado que não poderei vacinar minha tia que está vindo do interior", desabafa o jovem. 

O cozinheiro Edeilson dos Santos, também foi uma dessas pessoas. "É muita falta de comunicação. Diz que foi anunciado pelo site da prefeitura que hoje seria apenas para as pessoas agendadas. Só que ninguém tem acesso a essa informação. Ninguém aqui sabia dessa restrição. Por isso todo mundo está revoltado aqui, e com razão", afirma dos Santos, que tem 57 anos e esperava tomar sua primeira dose. 

Após saberem que não seriam vacinados, muitas pessoas deixaram a fila e voltaram para casa. No entanto, um grupo de 100 pessoas seguiu no local dizendo que só sairia de lá vacinado. O protesto foi acompanhado por seguranças e por equipes da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), mas ocorreu de forma pacífica. O anúncio da restrição foi feito pela SMS por volta das 14h de domingo. 

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, fez um apelo para que os soteropolitanos não saiam de casa sem necessidade. “Infelizmente, neste fim de semana, não chegaram novas vacinas. Então, faço um apelo a todos os cidadãos para que não compareçam aos postos sem agendamento, porque não tem vacina”, alertou. 

Reis ainda ressalta que a vacinação só não avança por conta do envio de doses pelo Ministério da Saúde (MS). “Não é culpa do prefeito e nem da Prefeitura. As vacinas não estão sendo enviadas na regularidade que esperávamos. Os insumos para a produção de vacinas no país só chegaram no fim de semana e a estimativa é de que, até 3 de junho, seja normalizado o envio das doses. Assim que chegarem novos lotes, voltaremos imediatamente a aplicação, avançando em públicos prioritários e por idade”, completou Bruno Reis.    

Ele ainda disse que a vacinação retomará sem agendamento nos postos após o governo federal enviar novos lotes da vacina. Procurado, o Ministério da Saúde (MS) informou que haverá novo envio de vacinas essa semana, somente da Pzifer e Oxford/Astrazeneca, mas não soube dizer a data exata nem quantas doses virão para a Bahia. O informe técnico, que descreve quantos imunizantes virão para cada estado, estaria concluído até hoje (25).  

O secretário municipal da saúde, Leo Prates, tampouco soube dar previsão. “Até agora, não sei o horário que vai chegar nem quantas doses vou receber. infelizmente, o maior problema não tenho como resolver, que é a falta de dose da vacina, que é a responsabilidade do Governo Federal”, critica Prates, em entrevista à TV Bahia.  

Segunda dose garantida  Para quem precisa tomar a segunda dose, tanto da de Oxford/Astrazeneca, quanto da Sinovac/Butantan, não há com o que se preocupar, pois, segundo a Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS), há estoque para todos. Se, há poucas semanas, faltava Coronavac, agora, faltam pessoas para tomar a segunda dose nos postos. São mais de 22 mil pessoas com o reforço atrasado.  

“Temos hoje 19.159 pessoas com dose em atraso da CoronaVac e outras 3.194 pessoas, da Oxford. Há dez dias, estávamos sofrendo com um público muito grande com a segunda dose vencida e não tínhamos vacina, em especial a da CoronaVac. Hoje temos vacina para estas pessoas e faço um apelo para que compareçam a uma das nossas unidades para se vacinar e concluir o ciclo de imunização tão importante para, caso tenha a terceira onda, estejamos mais preparados para enfrentá-la”, finalizou.  Grupo de cerca de 100 pessoas fez protesto no 5º Centro à espera de vacina, algumas pessoas disseram que só sairiam de lá vacinadas (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Mutirão da segunda dose é nesta terça (25)  Para tentar zerar a fila dos atrasados, Salvador vai realizar um mutirão da segunda dose nesta terça-feira (25). Serão vacinadas todas as pessoas que ainda não receberam o imunizante de reforço da vacina de Oxford/Astrazeneca ou CoronaVac, com data de retorno aos postos marcada até sexta-feira (28).  

 Os soteropolitanos poderão ir diretamente aos postos, sem hora marcada, ou podem fazer o agendamento através do site Hora Marcada (vacinahoramarcada.salvador.ba.gov.br). O sistema será aberto a partir das 14h desta segunda-feira (24). Nele, é possível marcar hora e local para receber da segunda dose. A relação dos pontos de vacinação para o mutirão será divulgada ainda hoje (24) pela Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS).   

“Tomamos esta decisão devido à falta de primeiras doses na cidade e para não deixar o sistema parado. Antecipando o fechamento do esquema vacinal dessas mais de 18.600 pessoas, conseguiremos garantir uma melhor operacionalização da vacina quando recebermos novo lote para a primeira aplicação”, explicou o secretário municipal da saúde, Leo Prates.   

Os dois distritos com mais faltosos são Rio Vermelho/Barra e Subúrbio. "Iremos, com os agentes comunitários de saúde e com as equipes de saúde da família, atrás das pessoas para vacinar, porque estamos atrás da imunidade coletiva, ou seja, da imunidade da cidade de Salvador. E qualquer pessoa faz a diferença, além da vida da própria pessoa", anuncia Prates.  

Média diária de vacinação cresce 134,6%   Mesmo com falta de doses, Salvador avança na vacinação. Elas demoram de chegar, mas, quando chegam, logo acabam. De fevereiro para maio, a média diária de aplicação de vacinas contra a covid-19 cresceu 134,6%. Em fevereiro, a média estava em 3,6 mil pessoas imunizadas por dia. Hoje, esse número está em 8.448. O levantamento foi feito pelo CORREIO com dados do vacinômetro da SMS.  

Até o início da tarde de ontem (24), 1.064.826 pessoas foram vacinadas, sendo 721.400 com a primeira dose e 343.426 com a segunda dose. Isso quer dizer que cerca de 25% do total da população soteropolitana foi vacinada com a primeira e aproximadamente 12% dos habitantes completaram o esquema vacinal.  

Dentre os vacinados, 62% são do sexo feminino e 38% do masculino. A etnia da maioria que recebeu a vacina é preta ou parda (58%). Ainda segundo o vacinômetro da SMS, restam 19% de vacinas para segunda dose. A faixa etária que mais recebeu vacinas, tanto da primeira quanto segunda dose, foi a de 60 a 69 anos. 

Salvador teve pior dia de vacinação Salvador teve o pior dia de vacinação, nesta segunda-feira (24), desde que foi iniciada a campanha de imunização contra a covid-19, no dia 19 de janeiro. Apenas 1.246 vacinas foram aplicadas. O dia que Salvador mais vacinou foi 15 de maio, quando 30.233 pessoas receberam o imunizante. 

“É um dia de muita tristeza pra Salvador. Eu com uma megaestrutura montada pra vacinar 600 pessoas. É o pior dia de vacinação da história de Salvador desde o início da campanha de vacinação”, afirmiu Leo Prates, em entrevista ao Bahia Meio Dia, ontem (24), ao comentar sobre a suspensão da campanha por falta de ampolas de vacina.  

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro