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'Só levamos dessa vida o amor', diz dom Murilo Krieger


 

Arcebispo fala ao CORREIO sobre o significado da Semana Santa

  • Gil Santos

Publicado em 20/03/2018 às 03:30:00
Atualizado em 18/04/2023 às 04:54:06
. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO

O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO) O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, conversou com o CORREIO sobre a Quaresma e a Páscoa. Confira a entrevista exclusiva com o líder religioso.

Qual o sentido da Quaresma e da Semana Santa para os cristãos? O tempo da Quaresma e, particularmente, da Semana Santa, é um convite para tomarmos renovada consciência do amor de Deus por nós. Jesus disse: “Tanto Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho único”. A contemplação dessa verdade nos leva a procurar entrar nos sentimentos que Cristo experimentou quando foi perseguido, caluniado, tomou a Cruz, levou-a até o calvário e, lá, deu a vida por nós. Ele viveu o que nos ensinou: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”.

Nessa época, fala-se muito em Páscoa por conta dos chocolates. Essa tradição comercial desvirtua o sentido original da festa? Eu diria que não tem nada a ver com o sentido cristão da Páscoa. Nossa sociedade de consumo sabe aproveitar qualquer data, qualquer celebração ou festa para tirar algum proveito próprio - leia-se: para vender alguma coisa. Mais do que combater isso, cabe-nos apresentar a todos qual o verdadeiro sentido de nossas festas cristãs.

Como os cristãos devem se comportar durante a Semana Santa? Jejuns, orações e vias-sacras são ações obrigatórias? Na Semana Santa, deve aumentar em nós o desejo de conhecer os sofrimentos de Cristo, descobrir suas causas para ter o seu olhar para o Pai e para todos aqueles pelos quais ele veio dar a vida. Muito nos ajuda para isso uma atenção maior à palavra de Deus, a oração, o olhar para os necessitados, o jejum... Mas, em tudo isso, o que vale é o amor. O sofrimento por si só não salva ninguém – muito pelo contrário. O que dá sentido ao sofrimento é o amor. Quem, por amor, faz alguma coisa que lhe custa, e o faz com alegria, porque sabe que isso vai beneficiar alguém, esse mostra ter entendido o sentido da palavra “sacrifício”.

Quais as lições que esse período nos ensina? A vida é passageira. Somos peregrinos. Assim como, no Antigo Testamento, o povo de Deus fez uma longa caminhada do Egito até a Terra Prometida, assim, em nossa vida, estamos a caminho da Casa do Pai. Não levaremos dessa vida nem dinheiro, nem fama, nem elogios... Só levaremos o amor. Não vale a pena, pois, construir uma vida sobre a areia.

A Campanha da Fraternidade deste ano trata da superação da violência. Quais as ações que serão promovidas pela Igreja para lembrar e incentivar a cultura da paz? Haverá alguma ação especial durante a Semana Santa? Há milhares de grupos fieis de nossas paróquias que estão se reunindo para tratar do tema da superação da violência. Palestras são dadas; encontros são promovidos para discutir esse tema. Há sessões em Câmaras Municipais e Assembleias Estaduais; artigos e reportagens de jornais se multiplicam... Enfim, estamos alcançando o principal objetivo: dar passos para que toda a sociedade tome consciência de que a paz não virá por acaso, nem da parte de pessoas iluminadas ou apenas de políticos: ela é fruto de nossa construção. Construindo a paz, superaremos a violência e viveremos num mundo de irmãos.