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Da Redação
Publicado em 15 de março de 2022 às 04:49
- Atualizado há 2 anos
Ao longo dos séculos, a imagem da mulher foi constantemente associada à habilidade do cuidar. E isso não foi por acaso. Essa construção sociocultural é fruto de processos que procuraram dissimular as desigualdades de gênero e justificar determinados lugares que seriam “naturais” às mulheres. >
Por outro lado, a habilidade do cuidar também é um atributo do feminino. E, não por isso, exclusivo do gênero. Faço esta rápida reflexão para trazer minha visão sobre o papel das mulheres hoje. Talvez tenhamos, mesmo, a sensibilidade aguçada. Mas destacar esta característica como nossa maior habilidade é uma visão limitada sobre o lugar histórico onde nos encontramos e, principalmente, para o destino que nos espera. >
Entre a época em que mulheres morriam por não ter direitos iguais, ou mesmo direitos, e a realidade de hoje – que ainda demanda lutas – é preciso reconhecer que nossa sensibilidade está a serviço de outras frentes. Muitas outras frentes.>
Na fase mais aguda da pandemia, ouvi das nossas médicas e médicos que o toque humano, a compreensão e a empatia são essenciais para que passemos por esse momento de enorme dificuldade. A pandemia mostrou a todos nós que uma experiência humanizada é fundamental na área da saúde. E é isso que importa para quem está do outro lado da linha. Porque assim como a sensibilidade é uma habilidade de homens e mulheres, a excelência profissional também não está condicionada ao gênero.>
Hoje, eu e meu time respiramos todos os dias um desafio grandioso: cuidar da experiência das pessoas na saúde. Como estamos lidando com a vida, essa experiência é uma tarefa que endereça produtos e serviços que contribuem para a resolução de angústias e promovem cuidados para pessoas de 0 a 100 anos, aliando a tecnologia, design e algoritmos de inteligência artificial ao cuidado que acolhe. E, por mais tecnologia que exista para melhorar essa jornada, ela tem que ser, antes de tudo, humanizada. >
Mas, como nessa rotina corrida, conseguimos conciliar agilidade, eficiência e entregar respostas efetivas? A resposta, simples, muitas vezes é esquecida: olhando para o outro. Hoje, eu tenho um time de Customer Experience multidisciplinar dedicado a isso, onde 50% são mulheres, e essa equipe é responsável pela facilitação da jornada do consumidor. >
Por trás dessas conquistas em diversas áreas, estão mulheres e homens excepcionais liderando, ensinando e reunindo pessoas para alcançar feitos para toda a sociedade. E, entre elas, são profissionais que também cuidam, mas não só. Na empresa de saúde em que trabalho 40% das cientistas são mulheres, bem diferente da época da Idade Média em que os homens eram considerados grandes alquimistas, inteligentes e essenciais para o desenvolvimento científico, e as mulheres que atuavam na ciência tidas como bruxas e eram torturadas. >
Ainda assim, alcançamos nossas posições de destaque por meio de nomes como a francesa Marie Curie, uma das pioneiras no estudo da radioatividade espontânea; Elizabeth Blackwell, americana conhecida por ser a primeira mulher a praticar medicina nos EUA; a agrônoma Johanna Döbereiner, brasileira que também teve sua representação, cujo estudo sobre a fixação de nitrogênio lhe rendeu uma indicação para o Prêmio Nobel de Química em 1997. >
O lugar da mulher é onde ela quiser, e vai ser sempre além do cuidar. Esta é a construção histórica que estamos vivendo e fazendo. Estou certa de que, muito em breve, a discussão sobre o nosso papel, sobre as nossas contribuições à sociedade, deixará de estar na pauta da construção, por se tratar de algo, enfim, naturalizado. Como já fomos antes apenas pelo cuidar. >
Andrea Dolabela é diretora geral de produtos, marketing e experiência na Dasa, empresa que atua no mercado de saúde.>