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João Jorge: Mandela, Olodum e Bahia

  • D
  • Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 07:24

 - Atualizado há 2 anos

João Jorge*

Nelson Mandela vai viver entre nós no Brasil por muito mais tempo que sua memória será lembrada na África e no seu país natal, a África do Sul.

Muitos acreditavam que Mandela ia morrer na cadeia e que o apartheid jamais acabaria, devido ao apoio internacional dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França, Portugal, Brasil, Israel ao injusto sistema do apartheid e à prisão dos condenados de 1962. Estávamos errados, uma luta mundial libertou Mandela e seus companheiros em 1990 e destruiu o apartheid, obtendo o poder político.

A minha caminhada pessoal e do Olodum para falar de Mandela, do ANC (Congresso Nacional Africano), foi longa. Começamos com a minha identificação com as ideias de igualdade: um homem um voto, a carta da liberdade na África do Sul e na Bahia, as ideias da Revolta dos Búzios de 1798, falando do tempo em que todos seremos iguais, entre as influências do movimento negro americano, dos países da África ocidental.

A música Protesto do Olodum, de Tatu em 1987, um hit cantado por Betão e símbolo poderoso destas ideias e da luta por igualdade e colocava o Pelourinho no mesmo plano de Soweto, e clamava: “Libertem Mandela, acabem com o apartheid”. Os ensaios do Olodum passaram a terminar com a música Nkosi sikelel' iAfrika - de Enrich Sotonga, hino do ANC, e música da luta contra o apartheid em todo o mundo.

Gravamos esta música no terceiro disco do Olodum, em 1989, com um poema de minha autoria, falado por Eusebio Cardoso e a música cantada por Pierre Onassis. O poema era uma profecia de que mais cedo ou mais tarde, Mandela ficaria livre.

Como estudante de Direito e com mais de 100 organizações negras e populares, além de deputados estaduais da legislatura de 1989, criamos um capítulo sobre o negro na Constituição do estado da Bahia e um Artigo 287, proibindo a Bahia de ter relações com países que praticassem racismo de forma legal e institucional. Inspirados por Mandela, defendi nossas ideias com objetividade e até os deputados da situação governistas votaram a favor do capítulo do negro e da restrição das relações com a África do Sul. Em 1991, Mandela veio à Bahia, o Olodum e Neguinho do Samba com a banda mirim viram o libertador, o líder, o homem que mudou o seu mundo. Na Praça Castro Alves, à noite, um delírio coletivo. Nelson Mandela e um povo ávido de símbolos, de heróis. Este homem causava tanta paixão na negritude baiana que recebemos todo o apoio para os eventos de Mandela na Bahia, com a falsa ilusão de que depois ganharíamos a igualdade em nosso sistema colonial, que ainda nos mantém presos às correntes invisíveis.

Com Mandela na Bahia, o movimento negro ganhou, a sociedade ganhou, o Olodum ganhou, os compositores acertaram e a palavra de ordem "Libertem Mandela", tornou-se comum aqui nas terras de João de Deus, Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luis Gonzaga, heróis de 1798 com as mesmas ideias e esquecidos por nós. O Olodum fez vários temas de carnavais sobre a África do Sul. Na casa do Olodum há um auditório Nelson Mandela. Na Escola Olodum há uma sala de lideranças com o nome dele. Fantasias, textos, livros, um tesouro das ideias de Mandela para  os que visitam saibam sobre a liberdade.

Somos muitos criticados por lutar contra o racismo junto com pessoas brancas. Somos criticados por dizer não a propostas que são contra os interesses da comunidade negra. Somos criticados por não querer  o isolamento da comunidade negra como os banstutoes da África do Sul. Somos criticados por ter na banda e entre cantores gente de todas as cores. Mandela dizia não, mas também avançou a luta e dialogou quando preciso. Esperamos vencer aqui também, temos energia do Pelourinho e nossa gente para isto. Superar o racismo é construir uma sociedade de iguais.

Ao criar uma maioria contra a ideologia de superioridade de um povo contra outro, venceu com as ideias, o apartaheid. Conceitos estes que o Olodum tanto admira: diversidade, paz, pluralidade, otimismo, mudar de ideias, avançar, recuar, combater a violência com a não violência. Mandela viverá aqui até sua façanha ser realizada e possa ser vivida aqui por um superlibertador ou libertadora. Uma volta de Moisés e ou de milhares de Mandelas. Para que a Bahia e o Brasil possam ser aclamados internacionalmente como terra da oportunidade e da igualdade.

* João Jorge Santos Rodrigues é advogado, mestre em Direito Público e presidente do Olodum.