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O Brasil nunca será um país de primeiro mundo

  • D
  • Da Redação

Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 12:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Primeiro mundo, esse lugar quase perfeito, onde a violência é mínima, a educação é de qualidade, as ruas são limpas, a saúde é um direito universal... Um sonho que muitos brasileiros dizem querer para o nosso país. Será? Países de primeiro mundo estão concentrados, principalmente, na Europa, e vou contar um segredo a vocês. Educação, é claro, é uma das ferramentas que leva estes países a esta tão sonhada realidade, mas, antes de tudo, o que garante o equilíbrio e a paz nos lugares com os melhores indicativos sociais do planeta é a distribuição de renda. Quanto mais o governo investe na qualidade de vida dos mais pobres, melhores são os indicadores sociais.

Isso fica claro quando damos uma breve olhada na realidade europeia. Países como Espanha e Portugal possuem algum tipo de assistência social e seus indicativos são, claro, bem melhores que os do Brasil, por exemplo, mas nada comparado ao que se registra nos países nórdicos, onde o investimento no social é pesado e, por vezes, inacreditável pra pessoas que vêm de países com uma profunda desigualdade social.

Dinamarca, Finlândia, Suécia, Islândia e Noruega estão no topo dos rankings de qualidade de vida em todo o mundo porque investem na igualdade entre seus cidadãos. Tomemos como exemplo a Finlândia. Neste país, quem ganha mais, paga mais em impostos ao governo. Há casos em que mais da metade do salário é descontada. Isso, no Brasil, não funcionaria. Afinal, estão reclamando quando famílias na linha da extrema pobreza recebem, no máximo, 195 reais mensais. Imaginem ter metade do seu salário descontado para o bem comum? Mas o finlandês possui uma compreensão social mais amadurecida. Ele sabe que segurança e desenvolvimento social possuem um preço e está disposto a pagar por ele.

Um exemplo: na Finlândia, o dinheiro arrecadado em impostos é investido na qualidade de vida da população. Aqui temos uma das melhores educações do mundo. As escolas são de ótima qualidade e gratuitas até o nível universitário. O filho da faxineira pode estudar na mesma escola que o filho do presidente. Ninguém passa fome ou fica sem teto. O governo paga o aluguel daqueles que estão em situação financeira difícil, além de pagar um benefício para que estas pessoas possam viver com dignidade. O poder público calcula que, além do aluguel e das despesas fixas como luz e água, cada cidadão necessita de cerca de 500 euros mensais para suas despesas pessoais. Então, todo mês, quem está desempregado recebe na sua conta o valor do aluguel, das despesas fixas e mais uma quantia para viver, além de ter direito a retirar medicamentos receitados gratuitamente das farmácias. Se precisar ir ao médico, basta mandar a conta para o órgão responsável pela previdência social. O atendimento médico público só é gratuito para quem não tem condições de pagar.

Mas todo o processo é extremamente burocrático. Para ter acesso aos benefícios, o cidadão precisa mandar para o governo a cada três meses o demonstrativo de sua conta bancária como forma de comprovar que não há uma renda extra. Além disso, se a pessoa estiver em dificuldades financeiras devido a uma situação de desemprego, ela precisa estar cadastrada no Escritório do Trabalho finlandês, onde será assessorada para voltar ao mercado de trabalho. O benefício é cancelado caso o cidadão não se submeta ao processo de busca por emprego, que inclui, inclusive, a realização de cursos pagos pelo poder público para que as chances de contratação aumentem.

Outra coisa que chama a atenção é a facilidade de acesso a bens materiais. Os aparelhos celulares, por exemplo, não possuem preços exorbitantes como os registrados no Brasil e, acreditem, se você tiver o nome limpo, consegue comprar um celular de última geração pela internet, parcelado, apresentando apenas o seu número de identidade. Em uma sociedade onde todos têm o que comer, condições de viver com dignidade e até de ter acesso a bens de consumo, ninguém sente a necessidade de roubar. Pode-se andar de madrugada fazendo vídeos com seu aparelho móvel sem medo algum de tornar-se vítima de qualquer violência.

O caso brasileiro - Agora me digam, essa realidade é possível no Brasil? O brasileiro compreende que o investimento na igualdade social é uma questão estratégica para a qualidade de vida de todos? Parece que não. A indignação com o bolsa-família é um indicativo. Outra característica do brasileiro é o ego. Ele precisa que o pobre exista para que ele possua uma posição de destaque na sociedade. Além de querer explorar a mão de obra de quem está desesperado para colocar comida na mesa de casa, como no episódio do empresário que comemorou, via redes sociais, a volta dos garçons que aceitavam trabalhar toda a madrugada por um valor irrisório. Coisa que, segundo ele, não estava ocorrendo em anos recentes.

Enquanto o brasileiro não perceber que a distribuição de renda é a chave para o desenvolvimento de um país, iremos viver em uma sociedade desigual e cada vez mais violenta. O problema parece estar distante quando a fome não bate na sua própria porta, mas os reflexos disto um dia chegarão. Pode ser no sequestro que a filha do vizinho sofrerá, ou no tiro que atingirá você ou um membro de sua família. Vivemos em sociedade e os reflexos da desigualdade atingem a todos nós. É preferível repartir o pão para que todos vivam em paz do que estar a todo o tempo apavorado, segurando o pão para que o vizinho não venha roubá-lo de forma violenta. Do jeito que vai, infelizmente, o Brasil jamais será um país de primeiro mundo.

Monica Vasku é jornalista e vive na Finlândia

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores