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Nestor Mendes Jr
Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Iemanjá devolve à praia as oferendas que recusa. Mas a nossa Rainha do Mar levou para o fundo da Baía de Todos-os-Santos, e não nos devolverá mais, esse baiano encantado: Paulo Renato Dantas Gaudenzi. Agora, provavelmente, ele irá construir rotas turísticas para as sereias. Para a Bahia e para os baianos, PG – como era chamado pelos amigos – organizou a indústria do turismo na Bahia, fortalecendo um segmento - milionário de exuberantes riquezas naturais, mas pobre e desprezado. Com a Bahiatursa e o conceito de “Bahia: Terra da Felicidade”, ele vendeu muito bem a Bahia como o principal destino turístico do Brasil. Parodiando Chico Buarque em Futuros Amantes, “os escafandristas e sábios encontrarão vestígios de estranha civilização” quando forem estudar o turismo baiano e brasileiro antes de PG. Essa “estranha civilização turística” não dava a mínima pelota ao poder econômico das nossas praias, fontes e cascatas, além da sedução cultural da nossa música, da nossa dança e do nosso Carnaval. Bacharel em Economia pela Federal e licenciado em História pela Católica, PG começou na atividade turística em 1971, na Coordenação de Fomento ao Turismo, sob a batuta de Mário Kertész, e ao lado de Eliana Kertész e Manoel Castro, este então presidente da Bahiatursa e pioneiro na profissionalização do turismo baiano. Ainda na década de 1970, Gaudenzi foi responsável por botar em funcionamento o Centro de Convenções. Depois, presidiu a Bahiatursa e foi, por 12 anos, secretário de Cultura e Turismo nos governos Antonio Carlos Magalhães e Paulo Souto, sendo responsável por desenvolver e implantar o plano estratégico do Turismo no estado. Além da visão econômica do turismo, PG incorporava três outras grandes qualidades: a capacidade de trabalhar em equipe, a inteligência brilhante e uma bagagem cultural extraordinária. Era apaixonado por música, dança, teatro e artes plásticas, levando para a atividade turística a riquíssima cultura baiana antes relegada, como as filarmônicas e o Balé Folclórico da Bahia. As arquibancadas também estarão vazias, sem PG torcer apaixonadamente pelo seu Esporte Clube Bahia. Chegou a ter o seu nome cogitado para a presidência do clube, mas dizia que preferia ser torcedor, sentado nas cadeiras especiais da velha Fonte Nova, gritando de forma provocativa para o treinador de ocasião: “Bota Mantena”. Uma lição particularmente inesquecível aprendi com PG, quando fui seu assessor de Comunicação. Era final de ano e sua sala estava atulhada de cestas de Natal. Ele me disse: “Tá vendo tudo isso? Aprendi com minha mãe, D. Maria, que nada disso é meu. É do poder. E todo poder é efêmero. Como as pessoas, como a vida”. Os escafandristas e sábios um dia ainda irão redescobrir Paulo Gaudenzi.>
Nestor Mendes Jr. é jornalista>