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Palavras são racistas e você pode evitar

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2021 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

O Brasil nasceu da dor. O Pau Brasil foi extraído à custa da escravização e da dizimação de povos indígenas. A cana de açúcar enriqueceu senhores de engenho e comerciantes à custa do sequestro e da escravidão de milhões de pessoas negras. Mas, essa é a parte visível. Por trás de cada mutilação, de cada assassinato, sempre esteve a linguagem legitimando a brutalidade. Torturava-se e humilhava-se selvagens, em defesa de homens bons. Era mais fácil que torturar e mutilar pessoas.   

Belchior chamou suas palavras de navalhas. Os Racionais disseram que as deles valiam tiros. Palavras ferem. Nomes e expressões não apenas descrevem a realidade, mas a criam e modificam. Assim como a sociedade, a língua muda. Pode melhorar ou piorar. O racismo se esconde na língua, por isso é mais insidioso. A engrenagem é girada até por quem deseja sinceramente o fim da discriminação. Precisamos de coragem para enfrentá-la, inclusive mudando de hábitos.

É inegável que, no Brasil de hoje, os principais grupos étnicos são brancos e negros. O nosso problema se agrava porque essas cores são consideradas opostas. Assim, quando usamos uma delas para significar uma qualidade positiva a algo, automaticamente a outra é lida como negativa. E vice-versa. Não é por acaso que o país que mata e prende negros em proporções muito maiores que brancos tem inúmeras expressões em que preto é sinônimo de pior ou o branco de melhor. Nunca o inverso.

Quando algo está ruim, a coisa está preta. Quando a inveja é bondosa, sinônimo de admiração, ela é branca. Curiosamente, quando se fala do cabelo, o referencial muda. Tanto africanos como europeus podem nascer com cabelos pretos e morrer com cabelos brancos. Então, o que define o bom e mau é a textura e não mais a cor. Ruim não é o cabelo preto, mas o cabelo do preto.

Os exemplos não param por aí e nem têm como alvo exclusivo os negros. Um programa mal organizado é chamado de programa de índio. Quando o então atleta Renato Gaúcho quis diminuir os torcedores que o vaiavam na Fonte Nova, disse: “a Bahia é terra de índio mesmo”. Às vezes atingem todos ao mesmo tempo, como quando se diz que a segunda, dia de trabalho, é dia de branco. E assim, de frase em frase, vamos, sem perceber, aprendendo o preconceito. 

 A Defensoria Pública disponibilizou recentemente no seu site o Dicionário de Expressões (Anti) Racistas, no qual são apresentadas várias expressões racistas. Seria bom que todos lessem.  É possível que você se surpreenda por ter sempre usado algumas ou até muitos signos  preconceituosos do dicionário. Isso não significa que você seja um monstro. Foi assim que fomos educados. 

A repetição naturaliza e esconde muita coisa da nossa consciência. Na mesma música citada aqui, Belchior descreveu a canção limpa e correta como branca e leve. Todos erramos. Mas, todos que têm chance de aprender, têm o dever de melhorar. Custa tentar? O mundo não está ficando chato. Chato mesmo é alguém pensar que tem direito de ser racista.     

*Rafson Ximenes é Defensor Público Geral da Bahia