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Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
É janeiro. Um novo ano se inicia e com ele a esperança de bons tempos que se renovam, renovando nossa própria existência em um espaço temporal que se convencionou a chamar de ano civil.>
Durante o ano de 2019, utilizei este espaço para fazer uma intersecção entre o Direito e o cotidiano, muitas vezes utilizando da linguagem literária para tanto. Falei de tragédias, de política, da educação, dos direitos das crianças, de desastre ambiental e de racismo. Contudo, hoje falarei sobre nossos sonhos.>
Há um conto de Júlio Cortázar, escritor argentino, denominado A Casa Tomada. Cortázar fala de sonhos, sonhos que muitas vezes são roubados de nossas vidas. Complementaria dizendo que, esses sonhos, muitas vezes são suicidados e não apenas roubado e vilipendiado por terceiros. Qual tratamento você tem dado a seus sonhos? Qual o grau de importância ele ocupa em sua vida?>
Era uma vez uma casa de dimensões enormes, localizada em Buenos Aires, habitada por dois irmãos: o narrador e Irene. Irene só fazia tricotar, já o irmão, enquanto saía para comprar novelos para a irmã fazer seu tricô, aproveitava para passar em uma livraria que vendia literatura francesa.>
Eles viviam muito bem, acostumados com a rotina, de modo que nem precisavam pensar muito, afinal “pode-se viver sem pensar ”>
Apesar da casa enorme, eles viviam apenas em um pequeno cômodo dela. Certo dia, os irmãos percebem que a parte dos fundos da casa fora tomada. Nada fizeram.>
Aceitando a viver agora em uma pequena parte daquela imensa casa, acabam se acostumando, até por que o trabalho de limpar aquele casarão se reduziu, mesmo tendo deixado, para trás, muitos objetos reputados importantes. Por outro lado, sobrava mais tempo para Irene tricotar.>
De repente, um barulho do outro lado. Os irmãos correm. Já era tarde. Haviam tomado o outro lado da casa. Já estavam, os dois, na rua. Já já lhe roubariam a entrada da casa.>
Caro leitor, meu pedido é este, que nossas casas, dos sonhos, da esperança, da liberdade, não sejam tomadas por inimigos internos e externos, visíveis e invisíveis.>
Para tanto, devemos fazer nossa parte, sob pena de a apatia que nos rodeia se tornar a porta de entrada para viver um ano pior em relação ao ano que findou. Que o absurdo não se torne natural e corriqueiro. Esta é uma luta que devemos travar diariamente, que, em um começo de ano é muito mais factível de lançarmos como meta a ser atingida.>
Há um alerta derradeiro: muitas vezes, o invasor que leva nossos sonhos entra pela porta da frente, pedindo licença, sob o clarão do dia. Aí, já é tarde demais!>
Diego Pereira é mestre e doutorando pela UnB, é Procurador Federal e autor de Vidas Interrompidas Pelo Mar de Lama (Lumen Juris, 2018); professor em Curso de Direito, costuma escrever sobre direito, literatura e cotidiano.>
Conceitos e opiniões expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores>