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Da Redação
“Apresentação do bloco Ilê Aiyê da Bahia, composto de 400 componentes, todos negros”. Foi assim que divulgaram, em 20 de novembro de 1980, a programação da Semana Zumbi, evento realizado em União dos Palmares-AL, e que marcava a criação do Centro de Estudos Afro-brasileiros (CEAB) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), como parte das ações do “Projeto Memorial Zumbi: Parque Histórico Nacional”. O Centro conduziria estudos e pesquisas sobre a Serra da Barriga, para que esta alcançasse o título de patrimônio histórico nacional.
Naquele mesmo ano, a UFAL foi pressionada pelo movimento negro a realizar um encontro nacional, onde ocorreria a apresentação do projeto e a eleição do Conselho Geral do Parque. A ocasião marcou a primeira vez que lideranças de todo o país estiveram em Alagoas para realizar a subida da Serra da Barriga. Uma das maiores caravanas foi a do movimento negro baiano, capitaneada por Mãe Hilda Jitolu e Vovô do Ilê Aiyê.
A partir de 1980, lideranças do movimento negro e alguns pesquisadores encontravam-se anualmente em Alagoas, sempre no mês de novembro. Em 1981, por exemplo, foi realizado em Maceió o 1° Simpósio Nacional Sobre o Quilombo dos Palmares, onde estiveram presentes personalidades como: Abdias Nascimento, Lélia Gonzalez, Januário Garcia, Zezé Motta, Clóvis Moura, Décio Freitas, Joel Rufino e Hamilton Cardoso. Os participantes subiram a Serra da Barriga em caravana e muitos seguiram para Recife-PE, onde seria realizada a Missa dos Quilombos, na Praça do Carmo.
A proposta do movimento negro era que o Memorial Zumbi se constituísse como uma pedra fundamental na construção de um Brasil democrático e pluricultural. Inicialmente, o tombamento da Serra da Barriga partiu de uma proposta ligada à Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR), que objetivava a criação de uma alternativa de turismo para Alagoas, articulando-se com o Projeto Rondon e, a partir daí, com o CNPq, por intermédio da reitoria da UFAL. Zezito Araújo, ativista negro, historiador e professor da UFAL, que desempenhou um papel fundamental para o tombamento da Serra em 1985, relatou em evento comemorativo dos 40 anos de criação do CEAB que o movimento negro interveio na proposta do Estado Brasileiro de resumir a Serra da Barriga apenas a uma perspectiva turística. Aquela geração iniciou um processo de mudança, de vê-la e entendê-la como um espaço de salvaguarda da memória da luta negra pela liberdade.
O Parque Memorial Quilombo dos Palmares foi inaugurado em 2007 e possui os títulos de Patrimônio Cultural Brasileiro (1985) e do Mercosul (2017). Todas essas conquistas foram resultado de reivindicações que estavam na agenda de lutas do movimento negro desde 1971, quando o Grupo Palmares idealizou o 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra.
*Danilo Luiz Marques é professor de História do Brasil (UFAL) e integrante da Rede de HistoriadorXs NegrXs