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Xavier Vatin: Je suis Paris

  • D
  • Da Redação

Publicado em 21 de novembro de 2015 às 04:02

 - Atualizado há 2 anos

Eu sou Paris. Não só por ser francês e ser esta a minha cidade natal. Não só por ter familiares e amigos lá. Não somente porque meu irmão e minhas sobrinhas moram a 50 metros do Bataclan. Não somente porque um colega dele arquiteto foi morto ontem em um restaurante perto. Não somente porque um querido amigo meu estava organizando o concerto no Bataclan e hoje está profundamente devastado. Eu sou Paris, porque a França, apesar de todas suas contradições passadas e presentes, ainda é o símbolo dos direitos humanos e da liberdade de expressão, herdados dos ideais do iluminismo, da revolução, da resistência. Sou Paris porque a violência cega do terrorismo nunca pode ser justificada. Àqueles que hoje ou nos próximos dias questionarão a responsabilidade do governo francês, aliado aos EUA contra o EI, àqueles que hoje ou nos próximos dias comentarão a cobertura exagerada e globalizada desses atentados, digo de antemão: o que vocês têm feito, aqui no Brasil, ontem, ao saber da chacina que deixou 11 mortos em Fortaleza? Qual é seu grau de indignação contra o extermínio do povo negro que está em plena expansão (mais de 40 mil jovens negros mortos por ano, boa parte deles pela polícia)? Quais foram os protestos ou atos de solidariedade com as vítimas e suas famílias dos quais participaram para acabar com esse indigno terrorismo de estado embasado no racismo, na discriminação e no preconceito? Do meu ponto de vista, as tragédias de Paris e Fortaleza devem ser comparadas. Pois aqueles que realmente militam contra esse extermínio no Brasil são aqueles que procuram colocar em ação os ideais iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade. São aqueles que realmente defendem os direitos humanos, em qualquer lugar do planeta, independentemente de cor, raça, classe, gênero, orientação sexual, religião. Por isso, hoje como sempre, eu sou Paris. Acredito que a vida humana tenha exatamente o mesmo valor, o mesmo peso em qualquer lugar do mundo. Ou pelo menos deveria. Na prática, todos sabemos que isso não é verdade. No Brasil, a vida de um jovem negro pobre da periferia é infinitamente menos valiosa do que a de um jovem branco de classe média. Assim como a morte de uma vítima da chacina de Fortaleza é infinitamente menos midiatizada do que a vida de um parisiense morto ontem. Por isso, todos os crimes devem ser combatidos conjuntamente. Tanto os que decorrem do terrorismo cego do EI como aqueles promovidos pelo Estado brasileiro contra o seu próprio povo. Eu sou Paris e Fortaleza. França e Brasil. Todos nós somos vítimas quando liberdade, igualdade, fraternidade e direitos humanos são atacados e desrespeitados.

 Xavier Vatin é  francês,  antropólogo e vive na Bahia há 20 anos