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A história do empresário que fazia charutos para dar de presente e criou uma das maiores marcas do país

Jamm Cigar começou a operação em 2022 e pretende ter tabaco próprio para homenagear baiano histórico

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 7 de junho de 2025 às 05:00

José  Antônio Martins Monteiro hoje é conhecido como Mr. Jamm, por sua marca de charutos
José Antônio Martins Monteiro hoje é conhecido como Mr. Jamm, por sua marca de charutos Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Na primeira vez que o empresário José Antônio Martins Monteiro, 55 anos, teve contato com um charuto, passou mal. A pressão caiu. Era 2005 e ele nunca havia tido experiência com fumaça. Apresentado por um amigo a um charuto cubano durante uma viagem ao Canadá, ele dificilmente imaginaria que, duas décadas depois, seria conhecido como o ‘Mr. Jamm’, o fundador da Jamm Cigar, hoje uma das maiores marcas de charuto premium do país.

Naquele dia, ele descobriu o que viria a ser sua nova paixão. Duas décadas depois, em um encontro na loja que a marca tem no Palacete Tira-Chapéu, José Antônio derrete-se ao falar dos produtos da marca (cujo nome vem de suas iniciais). "Se você fumar cada charuto desse, cada um vai te dar uma experiência sensorial diferente do outro", diz.

Além do próprio nome, Jamm também simboliza as iniciais de seu amigo que o apresentou ao charuto - o português Joaquim Alfredo Mesquita Moreira, que vem quase todos os anos ao Brasil. "Eu sempre quis fazer isso, mas não sabia como, nem onde, nem quando. Até que, em 2016, adquiri uma fazenda e resolvi mudar de vida", lembra.

José Antônio, que era executivo de uma grande empresa e morava no Rio de Janeiro, decidiu voltar à Bahia e dar início a uma operação agropecuária, com muito destaque para a produção de cítricos. Criou, assim, a fazenda Feanbe, em Alagoinhas. O nome, tal qual aconteceria com a Jamm alguns anos depois, era uma homenagem aos três filhos: Felipe, Antônio e Beatriz.

"Inicialmente, era focada na atividade pecuária, depois a gente migrou para os cítricos como principal negócio. Laranja, limão". Até que, em 2018, ele estava fumando um charuto com um funcionário quando o irmão do colaborador chegou. Queria conhecê-lo e levou quatro charutos de uma fábrica chamada Pimentel, também localizada em Alagoinhas. "Eu falei: me leve para conhecer o fabricante".

Uma semana depois, o amigo português aportou no Brasil e os dois foram à fábrica. A partir do contato com os profissionais, começaram a ser produzidos os futuros charutos da Jamm, de forma não comercial. Sempre que José Antônio viajava para visitar os amigos, dava uma caixinha de presente. Foi assim que, no final de 2021, recebeu uma ligação de alerta de seu contador. "Ele disse: ‘olha, você já deu 45 mil charutos de presente’. Eu disse: ‘foi o quê? Não, você ficou doido’. E assim decidi que nós íamos agora produzir charutos".

Assim, a marca começou sua operação comercial oficialmente em fevereiro de 2022. Em menos de três anos, a empresa se tornou a segunda maior do país no mercado e está presente em todos os pontos de venda de charuto do Brasil. A meta deles, contudo, é mais ambiciosa ainda. "Queremos que, a cada três charutos brasileiros consumidos no mundo, um seja Jamm. Então, a gente trabalha em cima desse objetivo e como se não houvesse amanhã".

Hoje, eles produzem cerca de 50 mil unidades por mês - ou seja, 600 mil por ano. O Mr. Jamm espera que, dentro de cinco anos, sejam 500 mil por mês. Ele também percorre o Brasil para divulgar a marca. "Só nesses dois anos, realizei 211 eventos. Fiz mais eventos do que muitos cantores sertanejos fizeram shows", brinca.

Charutos da Jamm são fabricados em Alagoinhas
Charutos da Jamm são fabricados em Alagoinhas Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Fumo próprio

Mais recentemente, a empresa deu um passo a mais: começou a fabricar seu próprio tabaco na fazenda. Para isso, contam com a consultoria de dois engenheiros agrônomos cubanos especialistas em genética do fumo. O próprio José Antônio saiu visitando fábricas de charuto e plantações em países como Cuba, Nicarágua, República Dominicana e os concorrentes nacionais.

Mas o fumo próprio ainda não é utilizado. Por enquanto, ainda usam o tabaco padrão de exportação. A previsão é de que as folhas fiquem prontas ao final de quatro anos - dois anos e meio já se passaram.

"A gente tem um respeito ao tabaco muito grande. Então, a gente entendeu que o tabaco brasileiro tem um terroir herbáceo. O que é a característica disso? Ardência e picância. Como é que eu diminuo essa ardência e picância? Através de tempo de descanso do fumo, do plantio até a produção do charuto. O tabaco que eu trabalho hoje descansa por quatro anos", explica.

Ele conta que a decisão foi justamente para que a empresa se desenvolvesse. "Nos deu muita insegurança crescer sem ter tabaco", admite. Ainda não está definido se o tabaco da Jamm será usado nos produtos da própria empresa que já estão sendo vendidos por uma razão: eles querem manter o blend e, assim, não mudar a percepção sensorial.

Mas o novo fumo já tem até nome: será uma homenagem a Amado Bahia, tataravô de José Antônio e alguém com quem o próprio vê semelhanças no jeito. Amado Bahia é considerado um dos maiores empreendedores da história do estado. "Ele era um cara muito filantropo, ajudava muita gente. Parte da Igreja do Bonfim foi ele que reformou. Ele foi do Agro. Tinha uma rede de lojas de carnes que era como a JBS da época. É incrível".

Os engenheiros agrônomos cubanos são pai e filho de mesmo nome: Mario Garcia. Mario Pai chegou ao Brasil pela primeira vez em 2012. Tinha se aposentado em Cuba seis anos antes, depois de trabalhar por 40 anos no Instituto de Investigaciones del Tabaco.

"O charuto baiano está ampliando, crescendo sua produção tanto na parte agrícola quanto na confecção ou na fabricação. Até agora, a principal variedade que se tem cultivado é a mata fina, mas temos outras que estamos reproduzindo e testando para ampliar. Temos, neste momento, 13 novas variedades", adianta.

Já o filho é um dos especialistas em fermentação, uma das fases da produção do fumo. "Muitas fábricas não respeitam o tempo de fermentação, o repouso para os charutos. Por isso, resultam em picância e amargor. Sempre que testamos um blend, tem que ter um cuidado para não sair um produto ruim no mercado".