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Thais Borges
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 07:00
A poucas semanas do início oficial do verão, o uso de filtro solar e outros fatores de proteção contra raios ultravioleta devem ser ainda mais constantes. Essa é a principal recomendação para evitar uma doença cujos casos duplicaram na Bahia, em cinco anos: o câncer de pele. Entre 2020 e 2024, os casos de neoplasias malignas da pele no estado passaram de 1.520 para 3.101. Em 2025, até setembro, haviam sido 2.445 casos, segundo o Datasus. >
Mas em meio a uma economia que depende muito do turismo de praia, outro grupo desponta como um dos que requer atenção: os profissionais que são expostos ao Sol de forma ocupacional. Em todo o país, 23,5% dos trabalhadores têm ocupações que estão diretamente ligadas à exposição aos raios solares, a exemplo de pedreiros, vendedores ambulantes e comerciantes informais, de acordo com um estudo do Instituto Nacional do Câncer (INCA), feito inicialmente em 2019 e revisado em 2025. >
Por esse estudo, a Bahia é o estado que tem maior prevalência de exposição à radiação solar, com até 34,2% dos trabalhadores nessa condição. Os baianos são seguidos pelo Acre (31,9%) e por Sergipe (31,8%). A menor exposição foi identificada no Distrito Federal, sendo essa a realidade de somente 13,9% dos trabalhadores.>
Trabalhadores mais afetados pela exposição à radiação solar no verão
Na Bahia, além de profissionais como pedreiros, ambulantes, agentes de trânsito e jardineiro, há uma preocupação de especialistas com barraqueiros de praia, baianas de acarajé e outros trabalhadores que atuam em atividades cujo domínio aumenta no verão. O problema é que, como explica a médica dermatologista Clarissa Martinelli, professora da Afya Salvador, não existe ‘bronzeamento saudável'. Qualquer escurecimento da pele causado pela radiação solar já é um indicativo de que ocorreu dano celular. >
A rotina de trabalho, portanto, pode favorecer o aparecimento de manchas, dermatites, micoses, do envelhecimento precoce e das lesões que podem evoluir para o câncer de pele. “O dano que a exposição solar causa na pele é cumulativo. Às vezes, a pessoa se expõe demais no verão, mas vai ter só uma vermelhidão, uma marquinha e não necessariamente vai ter como consequência o câncer de pele. Só que, a longo prazo, isso vai se acumulando”, explica Clarissa. >
Neste mês, a campanha do Dezembro Laranja busca justamente conscientizar sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de pele. O câncer de pele do tipo não melanoma é o tumor mais comum em brasileiros, chegando a representar 30% em todos os casos no país. A estimativa do INCA é que, no triênio 2023-2025, sejam confirmados 220.490 novos casos de câncer de pele não melanoma. Na Bahia, podem chegar a mais de 10,5 mil por ano. >
Proteção>
A exposição aos raios solares é perigosa e exige proteção até durante momentos curtos, como uma caminhada. Parar o carro para ir a algum lugar em um percurso descoberto, por exemplo, já significa que há exposição à radiação. >
A diferença é que, com os trabalhadores que estão expostos o dia inteiro, é preciso investir em mais proteção. Além do filtro solar, a dermatologista Clarissa Martinelli, da Afya Salvador, indica luvas de proteção UV, chapéu e óculos. Ou seja, não se trata apenas do rosto. Para pessoas que não trabalham debaixo do Sol, o filtro solar também é indispensável. O protetor deve ser, no mínimo, fator UV 30, além de ser reaplicado a cada três horas. >
Câncer de pele
O estudo do INCA mostrou que, no Brasil, os fatores mais associados à exposição solar longa ocupacional são mais comuns entre trabalhadores que moram em áreas rurais, têm menor escolaridade, com jornadas de trabalho superiores a 40 horas semanais. A maioria deles mora em localidades do Nordeste ou do Sudeste e trabalha em ambientes abertos ou mistos. Os homens também são os mais afetados. >
“Para o sexo masculino, a baixa escolaridade e o vínculo informal também se associaram positivamente à exposição à radiação solar no trabalho. Já para o sexo feminino, houve associação positiva entre exposição à radiação solar longa, ter ensino completo e idade entre 30 e 39 anos", dizem os pesquisadores, em um artigo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia este ano.>
Eles identificaram que, uma vez que trabalhadores informais estão mais frequentemente entre os que enfrentam as piores condições de trabalho, inclusive a exposição a agentes perigosos e insalubres, isso pode explicar a maior exposição ao Sol. >
Como muitos setores econômicos que têm mais trabalhadores homens estão entre os de maior risco pelo contato com a radiação solar, a exemplo da construção civil, não é de surpreender que pessoas do sexo masculino representem a maior quantidade de casos. Na Bahia, de 2020 até setembro de 2025, foram 7.461 casos de câncer de pele em homens, enquanto as mulheres tiveram 7.063 ocorrências. >
Tipos>
Existem dois tipos principais de câncer de pele: o melanoma e o não melanoma. Este último corresponde a aproximadamente 95% das ocorrências e é dividido em subtipos. Os dois mais comuns são o carcinoma basocelular (mais comum e menos agressivo) e o carcinoma espinocelular. >
No câncer não melanoma, a remoção da lesão cancerígena é por meio de cirurgia. Se a lesão for totalmente removida, a chance de cura é de 100%. No caso do melanoma, isso vai depender do grau de invasão das células cancerígenas. >
A dermatologista Clarissa Martinelli, professora da Afya Salvador, enfatiza que esse tipo de câncer precisa de uma atenção diferenciada, porque pode se espalhar para outros órgãos. Nesse caso, é preciso indicar que o paciente procure um oncologista e é possível que o tratamento seja com quimioterapia. >
“O melanoma tem o fator genético e, no começo, achava-se que não tinha associação com a exposição solar. Ele tem lesões com bordas irregulares, com mais de um tom. Tudo isso chama atenção”. >
Peles mais idosas - ou seja, que tiveram mais tempo de exposição, têm mais risco de desenvolver neoplasias. Além disso, pessoas que já tiveram câncer de pele têm até 30% mais chance de desenvolver o tumor novamente. >
Uma das formas de quem já teve a doença se prevenir é entender que o risco depende do tipo de tumor retirado anteriormente, como explica a dermatologista Carolina Nery, médica da Clínica da Cidade, rede de medicina acessível com unidades em todo o país. >
Além disso, ela recomenda observar feridas que não cicatrizam. Sempre que uma lesão continuar por mais de um mês, a recomendação é procurar um dermatologista. “Machucados que não melhoram, áreas sangrantes, pele mais fina com vasos aparentes ou coceira leve contínua são sinais de alerta”, diz. >