Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Thais Borges
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 13:59
Se o Brasil mantiver o ritmo médio de avanços alcançados na Educação nos últimos, vai levar pelo menos 15 anos para atingir um patamar de equidade entre diferentes grupos raciais e socioeconômicos na conclusão do Ensino Médio. Esse é um dos achados de um estudo do Todos Pela Educação, divulgado nesta segunda-feira (17). >
A pesquisa, feita com com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faz uma análise da conclusão do Ensino Fundamental até os 16 anos e do Ensino Médio até os 19 anos, entre 2015 e 2025. Segundo a entidade, os dados revelam que as desigualdades na conclusão das etapas da Educação Básica apresentam múltiplas facetas, com maior intensidade no Ensino Médio. Nesse período, persistiram as disparidades regionais, além de diferenças significativas associadas ao perfil socioeconômico, racial e de gênero. >
No quadro nacional, foram identificados avanços importantes na última década. A taxa de conclusão do Ensino Médio, por exemplo, saiu de 54,5% em 2015 para 74,3% em 2025. No entanto, um em cada quatro jovens de até 19 anos não concluiu a Educação Básica e cerca de 400 mil brasileiros nesta faixa etária estão fora da escola porque precisam trabalhar ou perderam o interesse pelos estudos. >
As desigualdades raciais podem ser identificadas em aspectos como a conclusão: enquanto 69,5% dos jovens pretos, pardos e indígenas de até 19 anos têm o Ensino Médio completo, o índice alcança 81,7% quando os estudantes são jovens brancos e amarelos. De acordo com o Todos pela Educação, se o ritmo médio de crescimento (-0,8 p.p. ao ano) entre os dois grupos continuar o mesmo, essa distância só seria eliminada em 16 anos. >
Ainda foram identificadas disparidades expressivas entre as regiões do país. O Nordeste tem a menor taxa de conclusão (64,3%) em todo o Brasil, ainda que tenha havido avanços nos últimos anos. Entre 2015 e 2025, a região saiu de de 46,3% para 69,3% - o segundo maior avanço, perdendo apenas para o Norte (com alta de 25,7 p.p., passando de 43,4% em 2015 para 69,1% em 2025) e Nordeste (). >
“A implementação das mudanças aprovadas em 2024 para o Ensino Médio se torna obrigatória a partir de 2026, trazendo mais uma grande oportunidade para o país enfrentar os desafios da etapa. São necessárias ações concretas e urgentes por parte das redes estaduais, com apoio e coordenação do Ministério da Educação, para que resultados realmente apareçam”, diz a gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Manoela Miranda.>
Abismos>
As maiores disparidades estão nos aspectos socioeconômicos: entre a parcela mais pobre, só 60,4% dos jovens concluíram o Ensino Médio até os 19 anos. Entre os mais ricos, a taxa é de 94,2%. Mas essa distância era ainda maior: nos últimos 10 anos, houve redução de 15,3 pontos percentuais na desigualdade entre os dois grupos. Ainda assim, se nada mudar, os jovens mais pobres só terão as mesmas chances de conclusão dos mais ricos daqui a cerca de duas décadas, de acordo com a análise. >
Os homens também concluem menos o Ensino Médio (70,2%) em comparação às mulheres (78,5%). Eles também são os que mais abandonaram os estudos para trabalhar (10,7%, frente a 3,4% das mulheres) ou por falta de interesse (9,2%, contra 5,2%). As mulheres, embora com índices maiores de conclusão, enfrentam problemas específicos, a exemplo da sobrecarga com o trabalho doméstico e a maternidade precoce, que juntos representam 4,5% dos casos de não conclusão.>
Há uma interseccionalidade entre os três recortes (raça, nível socioeconômico e sexo) que reflete que as desigualdades tendem a se acumular: homens mais pobres, de nível socioeconômico mais baixo e que se autodeclaram pretos, pardos e indígenas têm as menores taxas de conclusão, enquanto mulheres brancas ou amarelas ricas apresentam taxas mais altas (figura abaixo).>
“O Brasil avançou, mas ainda em ritmo insuficiente para garantir o direito à conclusão da Educação Básica a todos. O novo Plano Nacional de Educação é uma oportunidade estratégica para acelerar esses avanços e enfrentar os obstáculos persistentes. É hora de reafirmar o compromisso do país com políticas que assegurem acesso, permanência, aprendizagem e equidade, para que todos, especialmente os mais vulneráveis, tenham as condições para concluir as etapas da Educação Básica na idade certa”, acrescenta Manoela.>