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Centenário de Mãe Stella será repleto de homenagens, veja o calendário

Sacerdotisa será lembrada em cerimônias, debates e rituais na Academia de Letras da Bahia, do qual ela fez parte. Também está sendo lançado um instituto que leva o nome dela

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 3 de maio de 2025 às 05:00

Mãe Stella morreu em 2018, aos 93 anos
Mãe Stella morreu em 2018, aos 93 anos Crédito: Mauro Akin Nassor/Arquivo Correio

Completaram-se, na sexta-feira (2), cem anos do nascimento de Mãe Stella de Oxóssi, uma das mais importantes líderes do candomblé e ialorixá do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá por mais de 40 anos. Mas o legado dela não ficou restrito a questões religiosas: Maria Stella de Azevedo Santos - nome de batismo da sacerdotisa - se empenhou por uma sociedade mais justa, em que as mulheres tivessem mais espaço e em que as crianças tivessem acesso pleno à educação. Tanto que criou uma escola que funciona no Terreiro e uma biblioteca itinerante.

Portanto, é natural que este ano seja marcado por uma série de homenagens à Mãe Stella. No último dia 26, a Sociedade Beneficente Cruz Santa do Axé Opô Afonjá lançou a programação que a instituição preparou e, até dezembro, pelo menos um evento mensal será realizado em memória à sacerdotisa que morreu em 2018, aos 93 anos.

Gilbert Gil visitou o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá em 2006, quando era ministro da cultura
Gilbert Gil visitou o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá em 2006, quando era ministro da cultura Crédito: Antonio Queirós/ Arquivo CORREIO

Emanuel Nascimento, presidente da Sociedade e um dos responsáveis pelas homenagens, fala sobre a importância de Mãe Stella: “Nós somos muito gratos pelas atitudes dela, pela força e pelo legado. Ela é uma guia espiritual que deixou legado para a cultura, seguindo um dito de Mãe Menininha, que dizia que queria ver todos os filhos com um anel de doutor no dedo. E Mãe Stella fez isso: não à toa, se tornou imortal pela Academia de Letras da Bahia [ALB], além de ter deixado um museu, uma biblioteca e uma escola”.

A ALB também prestará homenagens à sacerdotisa. Na sexta (2), a instituição sediou o lançamento do Instituto Mãe Stella de Oxóssi. Mãe Stella foi eleita por unanimidade para a Academia de Letras da Bahia em 2013 e tomou posse em setembro daquele ano, na cadeira 33, antes ocupada pelo historiador Ubiratan Castro e que tinha Castro Alves como patrono.

O escritor Aleilton Fonseca, presidente da Academia, destaca o trabalho da religiosa como escritora: “Ela é reconhecida internacionalmente como líder religiosa. Mas é preciso lembrar que é uma grande escritora e publicou livros importantes nesta vertente das tradições da ancestralidade e dos imaginários da cultura de resistência africana no Brasil. Hoje, há uma vertente forte, que está nas tradições de pensamento dos povos de matriz africana e ele, como escritora, é pioneira nisso. Ela escreve sobre isso numa época em que essa vertente ainda não estava em evidência”.

Aleiton defende que Mãe Stella foi também uma das pioneiras nas questões ambientais, quando escreveu livros como Epé Laiyé - Terra Viva, que conta a história de uma árvore que ganha pernas e vai lutar pela construção de um mundo que respeita o meio ambiente. “Essa preocupação ambiental está em voga hoje, mas ela escreveu sobre isso em 2009, há 16 anos”, argumenta o escritor.

Como escritora, Mãe Stella tinha ainda outra virtude, segundo Aleilton: “Ela escrevia para todos, afinal o trabalho dela não era para converter pessoas. Ela não estava preocupada em dogmatizar e exprimia suas ideia como uma manifestação de cultura. Como autora, ia além do estritamente religioso, porque escrevia em dogmatismo”.

Instituto

Adriano Azevedo, sobrinho de Mãe Stella, é o presidente do Instituto que foi lançado sexta-feira (2) e fala sobre os planos da instituição: “O Instituto vai desenvolver atividades culturais, desportivas, recreativas e de saúde. Também vamos prestar serviços de assistência social para mulheres, jovens e crianças, vítimas de abuso e assédio sexual. Além disso, queremos desenvolver projetos para fortalecer, proteger e melhorar as condições de vida do nosso público alvo, que são crianças, adolescentes, mulheres, idosos e famílias em situação de vulnerabilidade”.

Mãe Stella, quando tomou posse na Academia de Letras da Bahia, em 2013
Mãe Stella, quando tomou posse na Academia de Letras da Bahia, em 2013 Crédito: Almiro Lopes/Correio

Embora o Instituto esteja “nascendo” no ano do centenário de Mãe Stella, Adriano diz que a coincidência não foi planejada. Mas, segundo ele, “coincidência” talvez nem seja o termo adequado aqui: “Não sei se é coincidência, porque, na nossa religião, isso não existe. Acho que [a ideia do Instituto] já estava no cosmo, no astral, já estava determinado. Eu que não estava conseguindo enxergar”.

O sobrinho da sacerdotisa reconhece que presidir uma entidade em nome da tia é uma grande responsabilidade e isso pode tê-lo assustado: “Acho que estava com medo de seguir, mas me dei conta de que estava cercado de pessoas de confiança. O Instituto chega para firmar a memória de Mãe Stella e para dizer que a ancestralidade de nossa religião é presente e não morre”.

Programação

Também nesta sexta, foi lançado o livro As Iyalorixás do Ilê Axé Opô Afonjá, escrito por três professores da Ufba: Maria Dulce Paradella de Matos Oliveira, Maria Teresa Navarro de Brito e Sérgio Franklin Ribeiro da Silva.

“O livro fala da trajetória das ialorixás do Terreiro, desde Mãe Menininha até a atual, Mãe Ana. Mãe Stella, que liderou o Terreiro por 42 anos, tem um capítulo especial. O livro vai desde 1910 até os tempos atuais”, diz Emanuel Nascimento. Ainda em maio, Mãe Stella será homenageada em sessões especiais na Câmara de Vereadores de Salvador, no dia 15, e na Assembleia Legislativa da Bahia, dia 22.

No dia 5 de junho, o Ilê Axé Opô Afonjá vai ser sede do seminário Meu Tempo é Agora, frase que deu título a um dos livros de Mãe Stella. “Este título é expressivo de que, para além de toda uma história de sofrimento dos povos trazidos para o Brasil em situação de escravizados, é preciso afirmar o ‘agora’. É interessante que toda essa história seja revista numa perspectiva de agora para diante. Não se trata de lamentar o passado, mas de refletir sobre o passado para construir um novo agora”, diz Aleilton Fonseca. No dia 12 de junho, o Congresso Nacional vai realizar uma sessão solene dedicada ao centenário da líder religiosa.

A programação segue aquecida no segundo semestre, com rodas de conversas e atos simbólicos dedicados à memória da sacerdotisa. Em setembro, o destaque será uma feira de gastronomia africana, no dia 12. “A feira é para rememorar um momento que Mãe Stella criou: todos os anos, a gente tinha essa feira que reunia gastronomia, cultura, música e samba de roda. A comida baiana de hoje é praticamente a comida de terreiro”, diz Emanuel.

PROGRAMAÇÃO DO CENTENÁRIO DE MÃE STELLA

Maio

Dia 15 Sessão especial na Câmara de Vereadores de Salvador

Dia 22 Sessão especial na Assembleia Legislativa da Bahia

Dia 29 Homenagem da Academia de Letras da Bahia ao centenário de Mãe Stella

Junho

Dia 5 Seminário Meu Tempo É Agora

Dia 12 Sessão especial no Congresso nacional

Julho

Dia 24 Julho das Pretas promove roda de conversa sobre centenário de Mãe Stella

Agosto

Dia 21 Agosto da Igualdade. Ato Simbólico Escultura Mãe Stella de Oxóssi

Setembro

Dia 12 Feira de Gastronomia Africana e Música: O Caçador Trazendo Alegrias

Novembro

Dia 19 Novembro Negro: Tributo a Mãe Stella, na Concha Acústica

Dezembro

Dia 3 Lançamento do documentário Memórias Afonjá