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Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 13 de setembro de 2025 às 05:30
Não é apenas por ter sido presidente da República que Jair Bolsonaro mobilizou tamanha atenção pública nesta semana. Outros ex-chefes do Palácio do Planalto também foram condenados e presos - como Fernando Collor, por exemplo -, mas não receberam a mesma intensidade de cobertura em jornais, portais e emissoras de televisão. O diferencial está na força política de Bolsonaro, que ainda desperta grande interesse da opinião pública. >
A política é um campo das ciências sociais, mas poderia ser estudada também - e talvez até devesse ser - nas exatas. Afinal, a política também é matemática: a relevância de um ator político é proporcional ao número de pessoas que o apoiam. No caso de Bolsonaro, ele conseguiu reunir, em 2022, 58 milhões de votos, o equivalente a 49% do eleitorado brasileiro.>
Para o doutor em Ciência Política e presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, Bolsonaro enfrenta agora, no entanto, o maior desafio de sua carreira de quase 40 anos.>
“Que desafio é esse? Manter a condição de líder desse movimento de direita que ele impulsionou desde 2018. Uma vez tornado inelegível fica mais difícil porque haverá a necessidade de indicar um candidato, que seja competitivo no campo da direita. E seus aliados já o pressionam para que tome essa decisão o mais rápido possível. Quanto mais cedo ele fizer isso, ele aumentará mais as chances deste candidato ter um bom desempenho. Mas, ao mesmo tempo, ele estará passando o bastão para um novo líder. E, obviamente, sua projeção na direita não desaparece, mas, no mínimo, se verá dividida. E depois, ele ocupará a situação de coadjuvante”. >
Pesquisas recentes, como o Datafolha, mostram que Bolsonaro ainda teria hoje cerca de 30% das intenções de voto em um eventual primeiro turno. Há levantamentos em que ele aparece até empatado tecnicamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ou seja, mesmo parte do eleitorado sabendo que Bolsonaro está inelegível, continua a segui-lo. Isso o torna um cabo eleitoral poderoso, capaz de transformar seu apoio em competitividade para um candidato ao Palácio do Planalto.>
O ex-presidente já provou sua força como cabo eleitoral em 2022, ao eleger seu então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo. Carioca, Tarcísio enfrentou xenofobia, resistência e, mesmo sendo um nome pouco conhecido, derrotou Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda, com 55% dos votos válidos.>
De lá para cá, no entanto, Bolsonaro mergulhou em uma sucessão de escândalos. Analistas avaliam que seu capital político pode se desgastar rapidamente caso permaneça preso e fora da cena pública. Ainda não se sabe se o Supremo Tribunal Federal permitirá que ele cumpra a pena de 27 anos e 3 meses em prisão domiciliar ou se terá de ir para um presídio em Brasília.>
De todo modo, Bolsonaro entrou para a História nesta semana como o primeiro ex-presidente do Brasil condenado por tentativa de golpe de Estado. A trajetória política nacional, aliás, já foi marcada por diversas rupturas institucionais. A mais conhecida é a de 1964, que durou 21 anos, provocou torturas e ceifou vidas. Mas não foi a única. >
Em 1840, o chamado Golpe da Maioridade antecipou a coroação de D. Pedro II como imperador. Em 1889, a própria Proclamação da República foi resultado de um golpe liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca. O país ainda viveu o de 1930 e, mais tarde, o ‘Golpe do Estado Novo’, em 1937.>
Na década de 1950, houve até um ‘golpe preventivo’: Juscelino Kubitschek, eleito presidente, quase foi impedido de tomar posse por militares e políticos contrários a seu nome. Entre os líderes desse movimento estava o polêmico jornalista e deputado Carlos Lacerda, da UDN, que fez de tudo para inviabilizar a vitória e a posse de JK. O plano só não prosperou porque o então ministro da Guerra, marechal Henrique Teixeira Lott, colocou tanques nas ruas do Rio de Janeiro - então capital do país - e cercou o Palácio do Catete, em nome da legalidade. Nenhum dos responsáveis por esses episódios foi punido.>
Mesmo diante da condenação, Lavareda acredita que nem Bolsonaro nem o bolsonarismo desaparecerão do mapa político brasileiro.>
“O Brasil só produziu nessa nova República duas lideranças carismáticas: Lula e Bolsonaro. Liderança carismática não desaparece por um passe de mágica independentemente das dificuldades que enfrenta, das suas circunstâncias. E, com certeza, quem tiver a chancela de Bolsonaro, terá grandes chances de chegar ao segundo turno na eleição de 2026”, afirmou.>
As 12 horas que o ministro do STF, Luiz Fux, levou no julgamento da trama antidemocrática viraram meme nas redes sociais. Internautas comentaram com humor o longo tempo de fala do ministro, tornando o episódio viral.>