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Priscila Natividade
Publicado em 27 de julho de 2024 às 05:00
Em Água de Meninos, na parte baixa da cidade, a Feira de São Joaquim abastece e alimenta o terreiro. Inspira e expira axé. Não por um acaso, o lugar por onde circulam 2,2 mil pessoas se tornou referência como principal central de abastecimento, ou melhor, o shopping do povo de santo. A ‘economia do axé’ contempla o comércio na maior feira livre da Bahia de uma ponta a outra, impactando muito além dos artigos religiosos, estimulando toda a cadeia de São Joaquim. >
Para a professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb) e pesquisadora do Observatório da Economia Criativa da Bahia (Obec-BA), Lúcia Aquino de Queiroz, o povo de santo ocupa a posição central no consumo da feira. “Embora não existam dados quantitativos, o que se observa é que a Feira de São Joaquim é um espaço que, desde a sua fundação, se consagrou cada vez mais como uma região voltada para um conjunto de produtos vinculados às religiões de matriz africana. Esse consumidor é central para a Feira de São Joaquim”.>
Lúcia Aquino de Queiroz
professora da Ufrb e pesquisadora do Observatório da Economia Criativa da Bahia (Obec-BA)Uma ampla e rica oferta, que transforma São Joaquim em um reduto desse abastecimento. “A feira é exatamente esse reduto, uma grande central de abastecimento para as religiões de matriz africana. São Joaquim nos possibilita essa oferta condensada que a gente percebe, por exemplo, em um shopping center onde você vê a confluência grande de pessoas que vão em busca dessa oferta. Um território negro vivo, pulsante na cidade e extremamente representativo dessa Bahia de matriz africana”.>
Coordenador da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab) e babalorixá no terreiro em Lauro de Freitas, pai César D'Ajagunã costuma ir, no mínimo, três vezes por semana na Feira de São Joaquim. “A gente costuma dizer que a Feira de São Joaquim é o nosso shopping. Tudo que precisamos é lá que encontramos. A feira é um mundo. Depois disso é quase minha segunda casa. O consumo de produtos é alto. Basta prestar atenção na essência da feira e no contexto dela. Quem chega na feira sente a energia do candomblé. Ela é o nosso polo geral da religião”, afirma. Ele lista abaixo 10 itens que o povo de santo só encontra na feira. Confira. >
1. Bichos em geral >
Coquem (galinha-d'angola), bode, pavão, pombo, galinha.>
2. Folhas e ervas >
Para a realização de obrigações, banhos e trabalhos nas religiões de matriz africana. “A base de nossa religião está ligada a oferendas e a essência das folhas (chamadas de ewé). Com esses materiais ofertamos aos orixás o primórdio, iniciando e/ou encerrando os trabalhos e obrigações”, explica o babalorixá pai César D'Ajagunã.>
3. Utensílios de barro >
Diversidade de potes e recipientes como o alguidar, a quartinha e o quartilhão para orixás. >
4. Variedade de tecidos e roupas de axé >
São inúmeras opções de estampas, modelos e tamanhos. “As roupas, como todos sabem e comentam, fazem parte da beleza e produção no momento final das nossas festas. Fazemos questão de estarmos bem apresentados para nossos orixás e nossa comunidade”.>
5. Ferramentas de Orixás >
Pode ser encontrada em ferro, aço, barro ou em material sintético.>
6. Guias >
Nas religiões de matriz africana, as guias são colares de miçangas usados de acordo com o orixá associado a cada um. Carrega significado, proteção, simbolismo e representatividade para o povo de santo.>
7. Produtos para alimentação >
Camarão seco, farinhas, grãos, verduras e frutas são alguns dos elementos fundamentais para o candomblé. “Tudo na religião está ligado à comida, ao alimento, e circulamos nossa energia neste compartilhar de alimento da nossa fé, seja de forma simbólica ou prática, pois alimentamos nossa comunidade com estes bichos, folhas, verduras e frutas”, comenta o babalorixá.>
8. Velas >
Com maior diversidade de tipos, cores e tamanhos. >
9. Charutos >
É mais um item presente não só nas oferendas, mas também nos rituais. >
10. Cachaça >
A aguardente é mais um produto vendido na Feira de São Joaquim que é usado em oferendas nas religiões de matriz africana, sobretudo, no candomblé.>