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Mortes por câncer já superam óbitos por doenças cardíacas em 60 cidades baianas

Motivos vão desde melhores tratamentos para doenças cardiovasculares até o aumento da incidência de tumores; veja a lista das cidades

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 18 de agosto de 2025 às 05:00

Mortes por câncer já superam óbitos por doenças cardiovasculares em 60 cidades baianas
Mortes por câncer já superam óbitos por doenças cardiovasculares em 60 cidades baianas Crédito: Agência Brasil

Não é novidade que doenças cardiovasculares são as maiores causas de morte no Brasil e no mundo. Agora, contudo, o cenário começa a dar mostras de mudança: em pelo menos 60 cidades baianas, os óbitos por câncer já ultrapassaram aqueles ocorridos em decorrência de doenças cardiovasculares em 2025.

Entre as cidades que, de janeiro a junho deste ano, tiveram mais mortes por câncer estão Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo baiano, e Vera Cruz, na Região Metropolitana de Salvador. Os números foram levantados pela reportagem e fazem parte do indicador de morbidade hospitalar do Datasus, de acordo com o local de residência.

Até o momento, o contingente de municípios supera o total do ano passado, quando essa era a realidade para 28 deles. Seis municípios que já têm mais mortes por neoplasias em 2025 também tiveram o mesmo cenário em 2024, o que pode indicar um quadro já mais consolidado: Gongogi, Ibotirama, Luís Eduardo Magalhães, Mata de São João, São Félix do Coribe e Sebastião Laranjeiras.

A realidade dos municípios ainda não é a mesma quando todo o estado da Bahia é considerado. Neste caso, entre janeiro e junho 2025, foram 2.081 mortes por câncer contra 3.519 óbitos por doenças cardiovasculares. Assim, 14,3% tiveram mudança de perfil no primeiro semestre.

Esse percentual não é muito distante da realidade no resto do país. Na verdade, essa transição faz parte de uma tendência global que já vinha sendo notada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo publicado no final do ano passado no periódico Lancet mostrou que o número de municípios com mais mortes por câncer do que por doenças cardiovasculares saiu de 366 (7% dos municípios) no ano 2000 para 727 (13%) em 2019.

Mesmo sendo um movimento que acontece simultaneamente em outros países, há um conjunto de motivos que ajudam a explicar esse novo cenário, de acordo com o médico oncologista Cleydson Santos, coordenador da Oncologia do Hospital Mater Dei Salvador. O primeiro desses motivos é a melhoria no tratamento e na prevenção de doenças cardiovasculares.

“Temos melhores medicamentos para prevenção, como hipertensão. Esses cuidados estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) e as pessoas têm acesso a um controle melhor de fatores de risco para doenças cardiovasculares. O tratamento também melhorou muito, com stents, pontes de safena, tratamento do AVC com remédios", pondera.

Mais casos

Por outro lado, ao mesmo tempo em que as doenças cardiovasculares têm sido mais bem cuidadas, a incidência de câncer aumentou - e deve continuar crescendo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados mais de 700 mil novas ocorrências até o fim do triênio 2023-2025, somente no Brasil.

Em pessoas com menos de 50 anos, os casos de câncer cresceram 79,1% globalmente, entre 1990 e 2019, segundo um estudo liderado por cientistas da Zhejiang University School of Medicine, na China. As mortes nesse grupo também tiveram aumento de 27% no mesmo período. No ano passado, a Sociedade Americana de Câncer também divulgou uma estimativa de que a incidência de tumores malignos deve crescer 77% em todo o mundo até 2050.

Essa maior incidência também tem diferentes causas associadas. Apesar dos casos nos mais jovens, a principal razão para a mortalidade ter aumentado ainda é o envelhecimento da população. “As pessoas estão vivendo mais e, quanto mais idoso a gente fica, maior o risco de as células se transformarem em células malignas", acrescenta o oncologista Cleydson Santos.

Alguns novos fatores também têm sido relevantes para isso, a depender do contexto geográfico ou social. “Câncer de pulmão tem muito a ver com ambientes com maior poluição. Não é só o tabagismo, como se pensou, há algum tempo”, alerta a médica oncologista Pamela Malta, representante regional da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) no Nordeste.

Há, ainda, comportamentos que podem levar a tumores malignos, como a obesidade, o sedentarismo, o alcoolismo e uma alimentação baseada em alimentos ultraprocessados.

“O câncer de cólon é muito associado à alimentação com ultraprocessados, ao consumo de carne vermelha e à obesidade. O câncer de bexiga é muito associado ao tabagismo, enquanto a obesidade está ligada a 13 tipos diferentes de câncer. Para cada tipo, a gente vai ter um perfil epidemiológico muito específico, mas hábitos de vida, exposições ambientais e vírus têm relação”, acrescenta Pamela.

No estudo da Lancet, os pesquisadores observaram que a mudança de perfil ocorreu mais em cidades com maior renda per capita, especialmente em alguns estados das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.

“Essa publicação, no final de 2024, trazia uma possível justificativa, entendendo que quanto maior a renda municipal, mais avançada estava essa transição”, diz a médica oncologista Luciana Landeiro, da Oncoclínicas. “Por outro lado, a gente não tem visto uma redução significativa na mortalidade por câncer, enquanto as doenças cardiovasculares têm tido mais controle dos riscos e tratamentos”.

Prevenção

Ainda que também seja causado por fatores genéticos, o câncer pode ser prevenido. Neste contexto, os exames de rastreamento são considerados essenciais. “Para o câncer de mama, temos a mamografia, assim como o preventivo para o rastreamento de câncer de colo de útero e a vacinação (contra o HPV). Mas não temos ainda preconizado no SUS a realização de colonoscopia para rastreamento, só para pacientes com sintomas”, acrescenta Luciana Landeiro.

Para a mamografia anual, a idade indicada para começar é de 40 anos. No caso da colonoscopia (para câncer de intestino), deve ser aos 45. Exames de toque retal e PSA, para detectar câncer de próstata, precisam ser feitos anualmente a partir dos 50 anos - ou aos 45 em situações específicas, como a existência de casos na família.

Tomografias de tórax com baixa dose de radiação são indicadas anualmente a partir dos 50 anos, se a pessoa for fumante ou tiver parado de fumar há menos de 15 anos. Mulheres a partir dos 25 anos e que têm relação sexual devem fazer o exame papanicolau.

“Com esses exames, já se consegue diagnosticar precocemente boa parte dos cânceres. Gosto muito de reforçar essas medidas preventivas e também a importância da descentralização. A Bahia é um estado gigante e às vezes atendo pacientes que vêm do outro lado do estado que, muitas vezes, tinham um diagnóstico de um centímetro de tumor no ano passado, mas chegam para mim já com metástase”, alerta o médico Cleydson Santos, do Hospital Mater Dei Salvador.

Combater a obesidade e a redução do consumo de álcool também são hábitos que podem fazer a diferença. “O consumo de álcool também é um problema de saúde pública, uma vez que é parte da vida da maior parte da população adulta jovem e é um fator de risco para câncer”, completa a oncologista Luciana Landeiro, da Oncoclínicas.

Além disso, os tratamentos para alguns tipos de câncer tiveram grandes avanços nos últimos anos. Ele é o caso da imunoterapia para o melanoma e o câncer de o pulmão, segundo a oncologista Pamela Malta, representante da Sboc. “Temos desfechos surpreendentes, com pacientes vivendo com a doença avançada por mais de cinco anos”, conta.

Atualmente, existe a chamada terapia-alvo, que é um tipo de oncologia de precisão. Com esse tipo de tratamento, são usados medicamentos que atingem especificamente células cancerosas. Assim, há menos prejuízos para as células saudáveis, ao contrário de tratamentos como a quimioterapia tradicional.

Atualmente, uma área da biologia chamada de epigenética estuda as mudanças nas expressões gênicas e como os hábitos podem modular os genes. “Costumo dizer aos pacientes que a gente não consegue controlar que vai ter câncer, porque ele é multifatorial. Só 5% vai ser de razão genética, enquanto 95% são de outros fatores, como os hábitos de vida. E, sobre isso, a gente tem controle. Mesmo com a tendência à mutação, nossos hábitos de vida podem mudar isso”, reforça a médica.

Confira as cidades que tiveram mais mortes por câncer do que por doenças cardiovasculares em 2025:

Aiquara

Aramari

Aratuípe

Boa Nova

Boa Vista do Tupim

Brotas de Macaúbas

Cafarnaum

Canavieiras

Canudos

Central

Conceição do Almeida

Coribe

Firmino Alves

Formosa do Rio Preto

Glória

Gongogi

Governador Mangabeira

Ibiassucê

Ibicoara

Ibitiara

Ibotirama

Ipecaetá

Itambé

Itanagra

Jitaúna

João Dourado

Jucuruçu

Luís Eduardo Magalhães

Marcionílio Souza

Mata de São João

Morpará

Morro do Chapéu

Mortugaba

Muniz Ferreira

Muquém de São Francisco

Muritiba

Nova Fátima

Ourolândia

Pilão Arcado

Pojuca

Retirolândia

Riachão das Neves

Ribeirão do Largo

Rio Real

Rodelas

Salinas da Margarida

Santa Cruz da Vitória

Santa Maria da Vitória

Santanópolis

Santo Antônio de Jesus

São Domingos

São Félix do Coribe

Saubara

Sebastião Laranjeiras

Serra Dourada

Serra Preta

Simões Filho

Tanhaçu

Taperoá

Vera Cruz