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Agência Correio
Publicado em 21 de outubro de 2025 às 19:00
Rejaniel de Jesus e Sandra Regina, um casal em situação de rua no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, fizeram mais do que devolver uma bolada de R$ 20 mil: eles pavimentaram o próprio caminho de volta à dignidade e à vida.>
O gesto de honestidade, realizado mesmo quando eles tinham apenas um único real em seu nome, tocou profundamente o empresário Miguel Kikuchi, proprietário do restaurante japonês que foi vítima do assalto.
>Honestidade - Entregador encontra carteira cheia de dinheiro e mobiliza moradores para devolver ao dono
A recompensa que veio não foi apenas monetária, mas sim a mais valiosa de todas: a chance de um recomeço completo, com capacitação profissional, emprego e a promessa de um lar, longe da frieza do viaduto.
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Ao descobrir que o casal que havia devolvido o dinheiro era formado por pessoas em situação de rua, Miguel Kikuchi, o chef do restaurante japonês, percebeu que uma simples recompensa em dinheiro seria insuficiente para eles.
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O proprietário, em conversa com seus sócios, ponderou sobre a melhor forma de retribuir a atitude nobre de Rejaniel e Sandra. "Poderíamos dar metade do dinheiro, mas eles não sairiam da rua apenas com isso", contou Kikuchi.
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A ideia não era apenas premiar o ato, mas sim oferecer uma mudança de vida estrutural, um apoio que realmente pudesse tirá-los da condição precária em que se encontravam. A honestidade merecia um prêmio maior.
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O primeiro passo foi simbólico e afetuoso. O casal foi convidado para uma refeição farta no próprio estabelecimento, com direito a bife e batata, uma pausa deliciosa na rotina de quem revirava lixo para sobreviver.
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O dinheiro encontrado, R$ 20 mil, era o que havia sido levado do restaurante em um assalto na semana anterior. Rejaniel e Sandra encontraram o malote e um saco de moedas abandonados por assaltantes apressados.
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Mesmo com R$ 17 mil em notas e R$ 3 mil em moedas nas mãos, eles não vacilaram. A ligação para a polícia foi o ponto de virada, que não apenas garantiu o dinheiro de volta ao dono, mas também o futuro do casal.
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Miguel, ao tomar conhecimento de toda a situação, fez então a grande proposta. O casal teria que escolher entre duas opções de prêmio: uma viagem bancada para o Maranhão ou Paraná, para visitar suas famílias.
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A segunda opção era a mais ambiciosa: o oferecimento de condições concretas para que ambos pudessem recomeçar a vida fora da rua, com emprego e capacitação. E a escolha feita foi pela dignidade duradoura.
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A capacitação e o emprego foram o prêmio escolhido, rechaçando a viagem e até mesmo uma recompensa em dinheiro. O casal estava na rua há três longos anos, sobrevivendo com cerca de R$ 100 por mês, catando recicláveis.
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A perspectiva de uma carreira era muito mais valiosa. "Vou ganhar treinamento para me capacitar e aprender alguma coisa", disse Rejaniel de Jesus, já vislumbrando as novas oportunidades que se abririam para ele.
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Rejaniel não impôs limites: "Da limpeza até a cozinha, posso trabalhar onde quiserem". Sua disposição e integridade garantiram-lhe o cargo de auxiliar de serviços gerais no restaurante, iniciando sua jornada formal.
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Sua esposa, Sandra Regina, não ficou para trás. Ela foi admitida como auxiliar de cozinha, garantindo uma fonte de renda estável para o casal e a chance de saírem de vez da vida precária no viaduto.
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A honestidade, que se manifestou na escuridão da noite paulistana, acendeu uma luz sobre o futuro do casal. Eles deixaram a condição de catadores de lixo para se tornarem trabalhadores formais e respeitados.
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A felicidade era visível no rosto de Sandra, que pôde finalmente traçar um novo horizonte: "Não quero voltar nunca mais para lá", declarou a auxiliar de cozinha, expressando o alívio de um recomeço completo.
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O desfecho do caso prova que a recompensa por um ato de caráter não se resume a valores materiais, mas sim à recuperação da autoestima, da dignidade e da integração a uma sociedade que, por vezes, os ignora.
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