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Thais Borges
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 05:00
Mulheres nas faixas etárias mais maduras ainda são maioria entre os diagnósticos de câncer de mama. No entanto, nos últimos anos, casos de pacientes jovens têm se tornado cada vez mais frequentes. Em apenas três anos, as ocorrências aumentaram 30% em pacientes com até 39 anos na Bahia. >
Em 2022, as internações por neoplasias malignas da mama eram 469 no estado, de acordo com o Datasus. Em 2024, já tinham passado a 629 - ou seja, 30% de crescimento. Em 2025, os números só estão disponíveis até agosto, mas já há registro de 387 casos no sistema. Esse total já corresponde a 82% de tudo registrado em 2022.>
Desde setembro, a mamografia foi ampliada para mulheres a partir de 40 anos no SUS
Esse aumento registrado na Bahia segue uma tendência mundial, segundo a médica oncologista Geila Nuñez, da Oncoclínicas. “Não é uma coisa pontual. A Bahia está seguindo uma tendência global. Existe esse aumento em pacientes jovens, abaixo dos 40 anos, e tem ocorrido em diferentes lugares”, diz. >
A maior incidência de câncer continua sendo nas idades mais avançadas, como lembra o cirurgião geral Everton Ferrão, especialista em cirurgia oncológica e professor da Afya Salvador. Mas, paralelamente a isso, tem esse dado alarmante que é o aumento da incidência desse câncer precoce”, alerta. >
Uma das principais hipóteses para esse aumento é o estilo de vida. Ter sobrepeso ou obesidade, além de uma vida de sedentarismo, com hábitos como tabagismo e ingestão de álcool, além de alimentos ultraprocessados, estão entre os aspectos mais citados pelos médicos. >
Ao mesmo tempo, existem fatores hormonais que podem estar associados ao risco maior de alguns tipos de câncer de mama. Um deles é o tempo de exposição ao estrógeno, que são os hormônios sexuais femininos. Nesse contexto, alguns aspectos refletem a mudança no perfil geracional. Um deles é que a primeira menstruação - chamada menarca - da menina vir aos 9 ou 10 anos se tornou algo mais frequente. >
Somado a isso, muitas das mulheres mais jovens, por terem entrado no mercado de trabalho, acabam por retardar a gravidez ou até decidem não ter filhos. “Muitas de nós postergamos isso e, hoje, é comum ter filhos aos 35 anos”, lembra a médica oncologista Geila Nuñez. >
“Na gravidez, existe uma mudança no processo hormonal”, explica Geila. Ocorre uma espécie de ‘amadurecimento’ da mama na gestação, ao mesmo tempo em que a pessoa fica sem ciclos menstruais por nove meses. >
Além disso, a amamentação costuma ser um fator de proteção. De acordo com o cirurgião oncológico Everton Ferrão, professor da Afya Salvador, durante esse período, os ciclos menstruais também são reduzidos, o que leva à diminuição da exposição ao estrógeno. >
“Quando a glândula mamária começa a aumentar, passa por um processo de maturação. Então, a célula fica menos vulnerável a mutações que podem levar à formação do câncer também. O processo de amamentação promove uma renovação celular e ajuda a eliminar qualquer dano de DNA", acrescenta. >
Tipos >
Apesar do nome genérico ‘câncer de mama’, existem diferentes tipos da neoplasia. Em geral, os tumores diagnosticados em mulheres com menos de 39 anos são de linhagens mais agressivas. >
Até setembro, o rastreamento no Sistema Único de Saúde (SUS) era com a mamografia bienal a partir dos 50 anos. No mês passado, contudo, o Ministério da Saúde anunciou a ampliação do acesso à mamografia para mulheres com idades a partir dos 40 anos, como já funcionava na saúde suplementar. De acordo com o órgão, casos nessa faixa etária dos 40 aos 49 anos já representam 23% das ocorrências no país. Por outro lado, quase 60% dos diagnósticos são de mulheres com idades entre 50 e 74 anos. >
“Essa mudança foi muito sensível. Mas (rastreamento) abaixo dos 40 anos, é uma decisão compartilhada entre médico e paciente”, explica o cirurgião oncológico Everton Ferrão, da Afya Salvador. “Quando temos pacientes que têm casos em parentes de primeiro grau, o risco aumenta. Se a paciente tem mutações conhecidas, a estratégia muda. Tudo vai depender da idade em que foi detectado, para saber se vai antecipar esse rastreio”. >
No momento do diagnóstico, é obrigatório que, pela biópsia do tecido, se identifique o subtipo de tumor. O tratamento é individualizado e depende disso. No cenário de doença precoce, segundo a médica oncologista Geila Nuñez, há três tipos mais prevalentes: os luminais (que são positivos para receptores hormonais), o subtipo em que a proteína HER2 está superexpressa e o terceiro tipo que é chamado triplo negativo (quando as células tumorais não expressam receptores de estrogênio, progesterona ou da proteína HER2). >
“Não necessariamente a gente utiliza todos os tratamentos em todos os momentos. Dentro do tratamento sistêmico, por exemplo, existe a associação de quimioterapia e imunoterapia. Ela é aprovada e benéfica para o triplo negativo”, diz a médica, citando, ainda, outras abordagens, como a associação com a terapia alvo anti-HER2 para o subtipo HER2 enriquecido e a hormonioterapia que pode ser usada nos subtipos luminais.>
Ainda que seja uma doença multifatorial, há formas de prevenir o câncer. A principal delas é manter bons hábitos de vida, como a prática regular de atividade física e a redução do consumo de alimentos ultraprocessados. “O uso de terapias hormonais combinadas tem que ser muito discutida e, além disso, o controle de peso é fundamental, principalmente nas mulheres pós-menopausa”, reforça o cirurgião oncológico Everton Ferrão, professor da Afya Salvador. >
Para mulheres abaixo dos 40 anos, sem fazer parte dos grupos de risco, o ideal é conhecer o próprio corpo. “Saber reconhecer qualquer alteração no toque é importante para marcar uma consulta com ginecologista ou mastologista”, completa. >