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Maria Raquel Brito
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 06:00
A arte do continente africano tomará conta dos cinemas de Salvador esta semana. É a Mostra de Cinemas Africanos, que chega à oitava edição com a exibição de 12 longas e sete curtas de nove países. A programação vai de 17 a 24 de setembro, na Saladearte Cinema da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Cinema do Museu e no Cineteatro 2 de Julho. Os ingressos variam entre gratuitos e o preço único de R$15. >
A curadoria ficou por conta de Ana Camila Esteves, idealizadora da Mostra, e pela ganense Jacqueline Nsiah, integrante do comitê de seleção do Festival Internacional de Cinema de Berlim. O destaque do festival nesta edição é o cinema nigeriano contemporâneo, o “Naija Focus”, através da exibição de cinco longas e seis curtas-metragens lançados entre 2023 e 2025. >
Segundo Jacqueline, a escolha se deu naturalmente, tanto pelo conhecimento que Ana Camila tem do cinema nigeriano como pelo tamanho da indústria cinematográfica do país. Para ela, é um momento emocionante promover a troca cultural entre o continente africano e o Brasil, que tem a maior diáspora africana. >
“Se você olhar para o Brasil e os países da diáspora africana e da África, nossa indústria é relativamente nova em comparação com as da América e da Europa. Então, no que diz respeito à nossa trajetória de crescimento, estamos caminhando em direções semelhantes em relação a como enfrentamos desafios de financiamento e distribuição. Faz sentido unirmos forças, nos unirmos, pensarmos e encontrarmos maneiras de quebrar essas barreiras”, defende.>
A Mostra de Cinemas Africanos nasceu em Salvador em 2018, com a proposta de desconstruir estereótipos sobre o continente africano por meio do cinema. Ana Camila Esteves conta que, desde o início, o objetivo foi trazer para o Brasil filmes africanos contemporâneos, obras recém-lançadas que circulavam em festivais internacionais, mas dificilmente chegavam ao circuito de distribuição comercial brasileiro.>
De lá para cá, o festival já passou por Porto Alegre, Aracaju, São Paulo, Poços de Caldas e Curitiba, até se fixar na capital paulista. As atividades retomaram em Salvador no ano passado e, este ano, a programação soteropolitana é maior que as de São Paulo e do Rio de Janeiro, outras paradas da mostra, devido ao financiamento recebido.>
“Para mim, é muito especial que a Mostra consiga permanecer em Salvador depois de tantos anos tentando voltar. Graças ao Edital de Eventos Calendarizados, recebemos um recurso público que garante a realização de quatro edições consecutivas – ou seja, até 2027 já temos a permanência assegurada na cidade. A relação da Bahia com o continente africano é intensa, direta e essencial. Esses filmes encontram aqui um eco muito particular, ressoam de forma profunda tanto em Salvador quanto no estado como um todo”, diz Ana Camila.>
Este ano, a programação da Mostra de Cinemas Africanos mantém a diversidade de e atividades, com lançamentos inéditos no Brasil, sessões de debates com cineastas, mesas de discussão e atividades formativas gratuitas, como uma masterclass de roteiro com o cineasta senegalês Mamadou Dia. >
Entre os dias 15 e 19, acontece dentro da Mostra a segunda edição do Encontros do Audiovisual Brasil-África. O evento reúne mais de 40 especialistas em design de audiência, produção, circulação, distribuição e realização de países como Senegal, Nigéria, Quênia, França, Reino Unido e Brasil, com o objetivo de construir estratégias coletivas para ampliar a circulação de filmes africanos no Brasil e de produções brasileiras no continente africano.>
A edição é dedicada ao professor costa-marfinense Mahomed Bamba, que viveu mais de duas décadas no Brasil e desenvolveu aqui suas pesquisas em cinema e audiovisual africanos e da diáspora, recém-titulado Professor Emérito post-mortem da Universidade Federal da Bahia, neste que marca os dez anos do seu falecimento. >
Como forma de tributo, será realizado um curso, ministrado por Jusciele Oliveira (UFBA) e Morgana Gama (UFRB), ambas discípulas de Bamba, que trabalharão com seus textos para pensar os cinemas africanos a partir de sua obra, além de uma sessão especial na Sala de Arte da UFBA do filme “Djeli – Contos Modernos”, da Costa do Marfim, seu país natal, e uma obra que ele admirava profundamente e citou em diversos artigos. >
“Eu sempre digo que Bamba é o começo de tudo. Foi com ele que conheci o cinema africano e foi ele quem trouxe esses filmes para a minha vida. Além de ser um pesquisador brilhante, erudito e apaixonado por cinema, Bamba era um grande amigo. Tenho certeza de que a Mostra jamais existiria sem a sua influência. Por isso, de certa forma, todas as edições são dedicadas a ele – à sua memória e ao seu legado”, afirma a idealizadora Ana Camila.>
Entre as presenças confirmadas ao longo dos oito dias de festival estão Philbert Aimé Mbabazi Sharangabo, representante de uma cena efervescente de cinema em Ruanda, e a diretora nigeriana Ema Edosio, que traz ao Brasil seu novo filme, “O Fardo da Nigéria” (When Nigeria Happens). Na obra, Edosio retrata um grupo de jovens dançarinos que enfrenta desafios para manter vivos seus sonhos, diante das incertezas do seu país.>
Ema Edosio e o filme O Fardo da Nigéria
Esta é a terceira vez que a cineasta tem um filme exibido na Mostra de Cinemas Africanos e a segunda que participa pessoalmente. Segundo Ema, é sempre uma honra compartilhar o trabalho com novas audiências e o Brasil ocupa um espaço especial.>
“A conexão é profunda e as pessoas aqui parecem entender nossas histórias de uma forma que nos é familiar. Há um vínculo poderoso entre a Nigéria e o Brasil, desde nossa história compartilhada até nosso amor pela dança, pelo ritmo e pela narrativa. ‘When Nigeria Happens’ é uma história sobre nosso povo, nossas lutas e nossa resiliência, e acredito que repercutirá profundamente no público daqui. Mal posso esperar para ver como o público da Bahia receberá nossa história”, anseia.>
Mostra de Cinemas Africanos 2025>
Salvador (BA): 17 a 24 de setembro>
Abertura: 17/09 (quarta), às 19h, no Cineteatro 2 de Julho (entrada gratuita)>
Exibição de filmes: Cineteatro 2 de Julho - Gratuito; Saladearte Cinema da UFBA e Cinema do Museu - Ingressos: R$ 15 Programação completa: www.mostradecinemasafricanos.com>
Encontros do Audiovisual Brasil-África e Atividades Formativas:>
Data: 15 a 19 de setembro>
Local: Auditório Makota Valdina: Casa das Histórias / Arquivo Público de Salvador>
Inscrições: https://www.even3.com.br/encontros-do-audiovisual-brasil-africa-611686/>