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Pombo Correio
Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 05:30
O caso dos três trabalhadores mortos por uma facção em Salvador devido à falta de pagamento de “pedágio” exigido pela organização criminosa escancarou um fato que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e seus aliados insistem em negar: o domínio territorial cada vez maior do crime organizado. A situação é grave, como se viu, e causou uma enorme dor de cabeça para o núcleo duro de Jerônimo. Lideranças da base petista admitiram que o caso, que causou grande comoção no estado, preocupou também pela repercussão e pela cobrança direta feita pelos trabalhadores, que foram ao CAB protestar. Inclusive, o núcleo duro de Jerônimo já vinha percebendo, em pesquisas internas, que o tema da segurança teria uma importância maior nas eleições do ano que vem em comparação com as disputas anteriores. Contudo, avaliam agora que o assunto pode ser mais relevante para o povo do que o esperado.>
Fala povo>
O crime brutal ganhou tanta repercussão que o governador Jerônimo, que normalmente se cala em ocorrências de violência, teve que se pronunciar nas suas redes sociais - com um grande atraso, diga-se de passagem. Na publicação, o que mais se viu foram críticas e cobranças ao governador, e mais ainda porque, numa entrevista em rede nacional um pouco antes, o petista celebrou o que chamou de redução das mortes violentas no estado. “Cartinha no Instagram não resolve”, disse um usuário da rede social. “Culpa de um governador que não tem responsabilidade com a segurança”, escreveu outro. “Realmente o estado perdeu o controle”, acrescentou outra conta. “Toda hora um lamento, mas as famílias seguem enterrando as vítimas da violência causadas pelas facções”, finalizou outro.>
Tiro no pé>
Lideranças petistas passaram a comparar os investimentos da Bahia com São Paulo na área da segurança pública. Na tese petista, a Bahia governada pelo PT investe mais que o estado do Sudeste e, por isso, para eles, deveria ser motivo de destaque positivo. O problema é que a comparação é extremamente negativa para a Bahia. Dados do Atlas da Violência apontam que o estado lidera, com folga, o ranking de mortes violentas, com 6.616 em 2023, enquanto São Paulo aparece com 3.043 - ou seja, menos da metade. O detalhe é que o estado do Sudeste tem o triplo da população da Bahia.>
Balanço indigesto>
Em um balanço apresentado à imprensa nesta quinta, a bancada de oposição na Assembleia Legislativa detalhou as razões de ter obstruído as votações por quase 45 horas nas últimas semanas. Só em 2025, o governo enviou 64 projetos à Assembleia, sendo 58 em regime de urgência e 23 dedicados a pedidos de empréstimo. Ou seja, grande parte do trabalho dos deputados foi para autorizar dívidas a partir de operações de crédito cujos detalhes técnicos são completamente desconhecidos. Segundo a oposição, isso mostra a bagunça financeira que retrata o governo Jerônimo Rodrigues, que, em menos de três anos, já acumula R$ 27 bilhões em empréstimos - um terço do orçamento anual do estado. Em linhas gerais, a cada R$ 100 produzidos pelos baianos, R$ 30 estão comprometidos para liquidar o endividamento petista. No popular, dizem que o governo está na mão do agiota.>
Mais do mesmo>
O governador Jerônimo Rodrigues usou as dependências da Assembleia Legislativa para reunir prefeitos e lideranças do interior num ato de assinatura de termos de convênio que, na prática, apenas requentam promessas de obras ainda empacadas. A agenda fez com que aliados cruzassem centenas de quilômetros para, mais uma vez, erguer plaquinhas e posar para fotos de anúncios já conhecidos. Até entre os governistas, o ato foi notadamente visto mais como uma tentativa de criar fato político e mobilizar a base, mas sem nenhum gesto concreto para tirar as obras do papel. Na saída, muitos prefeitos tentavam equilibrar o discurso entre o otimismo da nova promessa e o pragmatismo da descrença que cerca o governo.>
Ah, se esse celular tocasse…>
Durante o evento, a propósito, ocorreu um episódio curioso. Um dos prefeitos que ladeavam o governador em fotos e vídeos mantém conversas frequentes com interlocutores da oposição, com ligações e troca de mensagens recentes no celular. Enquanto posava para selfies ao lado de Jerônimo, um colega, que sabe do namoro nos bastidores, soltou essa: “ah, se esse celular tocasse agora…”. Disse isso brincando sobre o receio do nome do contato aparecer na tela durante uma selfie com o governador e gerar uma saia justa em meio à ovação governista. Dizem até que em eventos com o governador, o aconselhável é fazer fotos com o celular só no modo avião.>
Me engana que eu gosto>
Após sucessivas promessas não cumpridas, o governo Jerônimo parece agora ter criado uma nova etapa para tentar engabelar lideranças políticas do interior: anunciar aviso de licitação. Isso mesmo, não é a abertura da licitação, mas o aviso de que o processo será iniciado. Nos últimos dias, diante do crescimento das críticas na própria base, essa parece ter sido a estratégia encontrada pelo governo para tentar amenizar as reclamações. O problema é que nem todo mundo acredita. Um ex-prefeito chegou a publicar nas redes sociais o aviso de licitação para uma obra, mas viu uma reação bastante crítica da população. Resultado: se arrependeu.>
Visto como Judas>
O deputado estadual Luciano Araújo (SD) decidiu levar até o limite a tentativa de disputar a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), mesmo contrariando a indicação do governador Jerônimo Rodrigues, que escolheu o deputado federal Josias Gomes (PT). Luciano chegou a reunir assinaturas de colegas, inclusive da base governista, mas teve o registro barrado por um parecer da Procuradoria da Assembleia, que atribuiu a prerrogativa exclusivamente ao Executivo. Ainda assim, durante a sabatina de Josias, Araújo sustentou que deveria haver a disputa porque a vaga caberia originalmente aos técnicos do TCE, que pleiteiam o espaço via medida judicial. Para ampliar o desconforto no Palácio de Ondina, descobriu-se que um dos apoiadores do movimento de Luciano foi o deputado estadual Matheus Ferreira (MDB), filho do vice-governador Geraldo Júnior (MDB).>
Fiado>
A Secretaria de Turismo e a Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur) realizaram, de uma única vez, o pagamento de mais de R$ 14 milhões em caráter indenizatório por eventos e serviços prestados sem contrato prévio. Na prática, é o velho e conhecido fiado. O problema é que os lançamentos não informam datas, nem os motivos dos pagamentos, limitando-se, em alguns casos, apenas ao nome das empresas recebedoras. Em outros, nem isso: apenas a vaga referência à realização de um projeto em determinada data. É como uma feira livre contábil, em que quem comprou não anotou e quem vendeu não lembra. No fim do dia, não há como fechar essa conta surpresa, e não tem orçamento que aguente essa montanha-russa.>