Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

O fim dos repertórios de bolso: Redação do Enem deve punir argumentos prontos

Especialistas acreditam que a correção será mais criteriosa; Inep lançou cartilha que orienta evitar referências memorizadas

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 18 de outubro de 2025 às 05:00

Todo o processo de elaboração e correção da prova do Enem é muito sigiloso e rigoroso (Imagem: Brenda Rocha - Blossom | Shutterstock)
[Edicase]Todo o processo de elaboração e correção da prova do Enem é muito sigiloso e rigoroso (Imagem: Brenda Rocha - Blossom | Shutterstock) Crédito: Imagem: Brenda Rocha - Blossom | Shutterstock

Basta um olhar mais atento para perceber que a obra Utopia, do filósofo britânico Thomas More, pouco tem a ver com a discussão sobre a valorização das heranças africanas no Brasil. Ainda assim, houve candidato que usou o texto sobre uma sociedade perfeita, harmoniosa e sem mazelas sociais para referenciar esse mesmo tema na prova de Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2024.

Isso é o que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem, tem chamado de ‘repertório de bolso’. No início deste mês, o órgão lançou uma cartilha para orientar os estudantes quanto à Redação e há recomendações para evitar especificamente esse tipo de argumento. O exemplo de Utopia é real e foi trazido pelo próprio instituto, diante de tanta recorrência nas provas dos estudantes. Os repertórios são obrigatórios na prova, mas, de acordo com o órgão, precisam ser adequados ao assunto.

A Redação do Enem é um texto dissertativo-argumentativo sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. "Primeiro, a gente tem que entender a funcionalidade desse texto. Esse é um texto que vai defender um ponto de vista e, nessa defesa, são utilizados alguns argumentos. Então, é importante que o aluno desenvolva bem o repertório sociocultural para que a argumentação seja satisfatória", diz a professora Vitória Lago, que ensina Redação do Grupo PED, sistema educacional soteropolitano com atuação na Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Brasília, Goiás, Santa Catarina e Pará.

Esses argumentos vão mostrar que o estudante tem conhecimento de mundo. De acordo com a Cartilha do Enem, o repertório sociocultural pode ser uma informação, um fato, uma citação ou até mesmo uma experiência vivida que, de alguma forma, esteja relacionada ao tema e contribua como argumento para a discussão proposta. No entanto, nem sempre esses argumentos são usados de forma adequada.

"Os repertórios de bolso são aqueles já memorizados, chamados curinga, porque servem para qualquer tipo de tema. É genérico", explica o professor Samuel Guimarães, docente de Redação do Colégio Vitória-Régia.

O Inep divulgou que o ‘repertório de bolso’ pode afetar a nota da Competência 2 na prova, que é justamente a que exige que o estudante demonstre conhecimento de outras áreas. A nota da Redação é calculada a partir de cinco competências - cada uma podendo receber até 200 pontos. "Se o(a) avaliador(a) perceber que o repertório foi inserido de forma decorada, automática ou forçada, ele(a) pode avaliá-lo como não produtivo, o que poderá prejudicar a nota da competência II", diz o órgão.

Conhecimento

Os repertórios são obrigatórios na prova. Em geral, a maioria dos professores indica que os estudantes usem pelo menos dois: um para cada parágrafo de desenvolvimento. Mas muitos docentes orientam também que é possível usar um terceiro repertório no parágrafo de introdução. Se isso não for feito, os avaliadores podem descontar pontos da nota final do candidato.

O foco principal deve ser em usar referências que sejam de fato relacionadas ao assunto. O professor Samuel Guimarães, do Colégio Vitória-Régia, sugere que os alunos usem referências que já conhecem, a exemplo de músicas. "A banda BaianaSystem, por exemplo, tem uma tradição de trabalhar temáticas sociais, assim como outros cantores. Outra opção é trazer livros que tenham lido, séries e filmes que tenham assistido".

Não é um problema usar uma referência de cultura pop. No entanto, é preciso ter cuidado em como conectar isso e identificar se é possível conectar e aprofundar aquelas realidades. Não pode ser algo forçado. "Harry Potter, por exemplo, fica difícil porque vai depender do contexto. Você não pode relacionar o fato de ele ter sido discriminado por ser bruxo (pelos tios, no começo da história) com uma pessoa que é discriminada por ser negra. Tem que buscar um repertório que faça sentido’.

A professora de Redação do Bernoulli, Mônica Melo, alerta que, além dos repertórios de bolso, os erros mais frequentes na prova de Redação incluem não atender ao recorte temático. Isso é o que acontece quando o candidato não foca na delimitação da proposta e só apresenta o assunto, sem especificar o tema.

"O estudante deve demonstrar que compreendeu a proposta e usar de maneira produtiva os repertórios pertinentes ao tema. A nota mil geralmente é dada para um texto claro e coerente, que demonstra um plano de abordagem sustentado e comprovado".

De forma geral, os professores esperam esperam que o aviso sobre os repertórios de bolso seja refletido nas notas, inclusive com uma menor quantidade de redações avaliadas com a nota 1000. A prova de 2024 já teve uma queda no número de textos com nota máxima. No ano passado, segundo o Ministério da Educação (MEC), apenas 12 candidatos alcançaram a nota 1000. A quantidade é bem menor do que a do ano anterior, 2023, quando 60 candidatos chegaram ao nível máximo. Na ocasião, o MEC atribuiu a redução ao aumento do rigor na correção da Redação.

"Desde o ano passado, eles adotaram uma postura muito mais crítica, principalmente em relação ao repertório sociocultural. Mas acredito que, esse ano, seja ainda mais contundente porque está na cartilha o quanto o repertório de bolso pode ser prejudicial. Acredito que essa sinalização signifique um caminho mais crítico para a correção", opina a professora Vitória Lago, do Grupo PED.