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Criança gasta mil reais em skins do Roblox. Saiba como ensinar finanças na era dos jogos online

Em tempos de Roblox, Fortnite e Pix, pais enfrentam o desafio de educar filhos para lidar com o consumo dentro dos games e evitar armadilhas financeiras digitais.

  • M
  • Moyses Suzart

Publicado em 18 de outubro de 2025 às 09:00

Criança gasta toda economia no jogo online
Criança gasta toda economia no jogo online Crédito: Divulgação

No seu aniversário de 10 anos, Vinícius Vieira pediu de presente uma conta no banco e uma mesadinha todo o mês. Seu objetivo: juntar grana para comprar um computador gamer. Ele conseguiu a continha e a família mandou alguns pixs de presente. Do nada, ele já tinha quase R$ 1 mil. Alguns meses depois, os pais decidiram ‘interar’ o que ele já tinha e comprar o PC de presente. Ao olhar a conta, o susto: só tinha R$ 2,30. Vini gastou tudo que tinha em skins no Roblox, um jogo online. O pai queria deixar o filho de castigo pelo resto da vida, mas não há prisão perpétua no Brasil. O que fazer nesta situação?

As crianças de hoje vivem em um universo digital onde a informação e o consumo estão ao alcance de um clique. A educadora financeira Mila Gaudencio, consultora do will bank, afirma que esse cenário exige ensinar finanças muito além da matemática: é preciso ensinar comportamento, emoções e consciência. Ela observa que as crianças veem propagandas, notificações, “ofertas” dentro de jogos e tudo isso estimula desejos que muitas vezes nem são próprios. As crianças, assim como os adultos em jogos de tigrinhos, são vítimas. Fisgadas por uma criação de necessidade do mundo digital, como skins, pacotes e outros benefícios para turbinar seus jogos preferidos.

“Hoje, uma criança de 7 ou 8 anos já está imersa em um universo cheio de estímulos: propagandas nos vídeos, compras dentro de jogos, notificações o tempo todo. E tudo isso é construído para gerar desejo. Quando ela ganha uma moeda virtual, ou vê um personagem com uma roupa nova, aquilo ativa gatilhos emocionais fortíssimos. Se a gente não ensina a perceber isso, a criança cresce achando que consumo é sinônimo de felicidade. E só vai querer aquilo”, explica Mila.

O nome do maior vilão para educar seu filho financeiramente no universo dos jogos online é o famigerado Free-to-play. É uma denominação para aquele joguinho, geralmente de celular, que a princípio se baixa de graça. Muitos jogos famosos seguem este estilo, como o Fortnite, Roblox, entre outros. Contudo, não passa de uma fisgada. Lá dentro do jogo, microtransações de pacotes pagos para turbinar seu jogo, roupinhas bonitinhas, entre outras vitrines passam a ser um atrativo para as crianças. Lembra de Vini? Ele não gastou o dinheiro de vez. No extrato de sua conta, ele gastou com microtransações que não passavam de R$ 10.

É aí que entra o aspecto emocional. Ou melhor, a educação financeira. Que, neste caso, dá no mesmo. A solução sempre é conversar e impor limites, a depender da maturidade da criança. “Quando eu falo que dinheiro é emocional, é porque ele reflete o que sentimos. Às vezes a gente compra porque está triste, ou porque quer pertencer a um grupo, ou simplesmente porque quer se recompensar. E isso acontece com adultos e com crianças. Então, se ensinamos desde cedo a identificar o que sentimos, alegria, ansiedade, vontade de ser aceito, a criança aprende a diferenciar o “querer” do “precisar”. Isso é fundamental, especialmente num mundo que estimula o consumo o tempo inteiro”, acrescenta Mila.

Outro ponto que Mila enfatiza é a importância de instituir limites claros: mesada ou semanada com valor estipulado, regras para uso do “dinheiro de brinquedo” ou digital, ensinar que se algo é comprado hoje, talvez não haja para outra coisa amanhã (“troca justa”). Ela destaca que crianças entre 5 e 12 anos já conseguem entender a espera, metas curtas e planejamento, desde que haja orientação de pais ou responsáveis.

A educadora financeira Mila Gaudencio, consultora do will bank, afirma que esse cenário exige ensinar finanças muito além da matemática
A educadora financeira Mila Gaudencio, consultora do will bank, afirma que esse cenário exige ensinar finanças muito além da matemática Crédito: Divulgação

Pesquisas corroboram essas ideias de Mila. Um estudo da Serasa com o Instituto Opinion Box revelou que 53% dos pais começam a falar de finanças com os filhos antes dos 8 anos, e 41% veem o ensino financeiro como algo que deve estar presente já nos anos iniciais do ensino fundamental.

A mesma pesquisa mostra que o dinheiro digital já faz parte da rotina infantil: mesadas via Pix ou cartão, contas digitais, etc. Outro levantamento da Pesquisa Game Brasil 2024 indica que 82,8% das crianças e adolescentes consomem jogos digitais, muitos dos quais com microtransações ou compras dentro dos jogos. Nesta pesquisa também apontou que metade dos brasileiros consomem jogos eletrônicos e metade gastam, em média, R$ 250 por mês, seja em jogos pagos, pacotes ou assinaturas. Isso reforça a urgência de educar para que os gastos virtuais não se tornem armadilhas financeiras ou emocionais.

Para Mila, o papel dos pais e responsáveis é conversar, explicar, mostrar erros também, aceitar que a criança erre, mas usar esses erros como lições. É ter transparência sobre como são tomadas as decisões de consumo em casa: “O que nós adultos fazemos com o dinheiro? Como a gente divide para contas, lazer, emergências?” Ela sugere que se deixe visível para criança um orçamento simples ou explicações sobre para que cada parte do dinheiro da casa serve.

A educação financeira infantil, segundo especialistas, traz benefícios duradouros: crianças que aprendem desde cedo têm mais chance de ter melhores hábitos de poupança, evitar dívidas futuras, além de fazer escolhas conscientes. E diante da revolução digital, com compras instantâneas, promoções no celular e ofertas o tempo todo, esse aprendizado emocional se torna peça-chave para evitar arrependimentos ou impulsos difíceis de desfazer.

Lembra do Vinícius? O outro sobrenome dele é Suzart. Sim, é meu filho. Confisquei a conta, passei a administrar a mesada dele. Depois de alguns meses da catástrofe, enfim ele conseguiu o computador, sem precisar de interação. Aprendeu a lição? Nem tanto. Outro dia pediu R$ 200 reais para gastar no Roblox. Mas, desta vez, pediu antes de gastar. Conversamos e ele abortou a ideia. Gastou só 50 conto. “Se a criança também viver só para poupar, ficar ansiosa, ou vai sentir culpa por querer algo pequeno. É importante equilibrar: deixar espaço para alegria no presente, lazer, sentir e expressar emoções, e sempre fazer esse processo de forma sensível, acompanhado sempre. Não podemos esquecer que são crianças…”, completa Mila.