Pedaço da Bahia em Portugal: conheça baianas que empreenderam para matar a saudade de casa

Bares e restaurantes têm de acarajé à moqueca no cardápio e também trazem o aconchego baiano na decoração

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 12 de maio de 2024 às 11:00

Lisboa
Da esquerda para a direita, Carol, Paula e Mônica Crédito: Arte/CORREIO

Elas saíram da Bahia para morar em Portugal em busca de melhores condições financeiras e mais qualidade de vida. Podem até ter encontrado, mas há um espaço vazio difícil de preencher quando se está fora de casa: a saudade. Não é só da família e dos amigos, mas do lugar mesmo, principalmente quando o assunto é a Bahia. As cores, os cheiros, os sabores e os sotaques fazem falta. Foi em busca de diminuir esse vazio que elas resolveram juntar empreendedorismo e axé.

Mônica Moreira, de 52 anos, chegou de Salvador em Portugal com o marido em fevereiro de 2022 e começou a vender abará em outubro do mesmo ano para afastar a tristeza. "Quando eu estou cozinhando, esqueço o lado ruim de ser imigrante, distraio a cabeça. É algo que realmente me faz bem, faço com muito amor", diz.

O negócio despertou uma paixão após ela ter passado anos trabalhando na empresa do marido na área de assessoria jurídica. "Aos 52 anos, me redescobri. Por enquanto a renda mesmo ainda vem do escritório, mas o plano é que o Abará da Mônica caminhe lado a lado com ele", acrescenta.

Mônica nunca tinha feito abará antes de se aventurar em Lisboa
Mônica nunca tinha feito abará antes de se aventurar em Lisboa Crédito: Arquivo Pessoal

Abará da Mônica

Mônica trabalha sob encomenda e os kits podem ser retirados na sua casa, que fica no bairro Marvila, em Lisboa. Ela faz todo o processo sozinha e conta que encontrar os ingredientes tipicamente baianos não é tarefa tão simples. "Na Bahia encontro fácil o feijão fradinho quebrado, a massa pronta. Aqui, é muito difícil de achar, eu tenho que fazer todo o processo e até achar um moinho apropriado foi bem difícil também", compartilha.

O abará é feito com feijão fradinho, sal, cebola, camarão e dendê. Há pedaços generosos de camarão na massa. As opções são o kit congelado com 12 unidades e o kit com 20. Eles vêm acompanhados de uma porção de pimenta e outra de vatapá que ninguém diz que foi feito fora da Bahia. Para agradar os clientes portugueses, Mônica acrescentou uma porção extra de catado de bacalhau (em referência ao catado de siri), que pode ser ou não adicionado à encomenda.

Kit de abará tem opção de porção de catado de bacalhau
Kit de abará tem opção de porção de catado de bacalhau Crédito: Divulgação

Serviço:

  • Preços: 12 unidades com vatapá e pimenta - 25 euros / 20 unidades com vatapá e pimenta - 30 euros / porção de catado de bacalhau - 10 euros
  • Instagram: @abaradamonica
  • WhatsApp para encomenda: +351 933241766
  • Endereço de retirada: Rua Vale Formoso de Cima, Marvila, Lisboa

Boteco da Baiana

Paula Ribeiro, de 25 anos, chegou em Portugal aos 18 e, desde então, nunca conseguiu visitar a terra natal. "Apesar de gostar de morar aqui, a saudade de casa é muito grande", garante. O Boteco da Baiana, que ela abriu em 2020 com a mãe em Almada, na Região Metropolitana de Lisboa, é o que a faz se sentir, mesmo que por alguns instantes, em Salvador.

Boteco da Baiana
Da direita para a esquerda, Paula, a mãe Siomara e a irmã Raquel Crédito: Arquivo Pessoal

"Quando a gente entra aqui e ouve o sotaque baiano, o coração aquece. E baiano adora puxar conversa, já pergunta de qual cidade é, de qual bairro, se é Bahia ou Vitória. É sempre uma resenha", diz, rindo. O clima, segundo ela, é o mesmo de sua casa. A mãe, Siomara, de 53 anos, sempre gostou de cozinhar e costumava preparar acarajé para receber a família e os amigos.

O aconchego está na comida (o cardápio tem iguarias como acarajé, moqueca, banana real, caldo de sururu e cocada) e na decoração do espaço. Há fotos do Elevador Lacerda, Farol da Barra, Pelourinho e Igreja do Bonfim. Ainda é possível notar fitinhas do Senhor do Bonfim espalhadas e, claro, a típica frase "Baiano não nasce, estreia".

Assim como Mônica, Paula e Siomara também sentem dificuldade para encontrar os ingredientes corretos. "Aqui não tem camarão seco, então a gente que tem que secar. E também fazemos adaptações. Aqui, o sururu vira berbigão e é ele que usamos para o caldo", conta. Para acompanhar, assim como na Bahia, a iguaria é servida com um pedaço de limão e um molho de pimenta à parte (saboroso, mas quente, viu? Não se engane!).

Moqueca de camarão do Boteco da Baiana
Moqueca de camarão do Boteco da Baiana Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Serviço:

  • Preços de alguns itens: moqueca de camarão para duas pessoas - 21,50 euros / acarajé sem camarão - 5 euros / acarajé com camarão - 6 euros / caldo de sururu - 4,60 / banana real - 4,60 euros / cocada - 2 euros / queijo coalho no espeto - 5,20 euros
  • Instagram: @botecodabaiana
  • Endereço: Avenida Dom Afonso Henriques 15b, Almada
  • Horário de funcionamento: Segunda a sexta: 12h às 22h / sábado: 12h às 20h

Acarajé da Carol

Carolina Alves, de 41 anos, é filha de um barraqueiro de praia e uma baiana de acarajé do bairro de Itapuã, em Salvador. Desde os seis anos ela ajudava a mãe nas vendas, mas nunca imaginou que se tornaria uma baiana de acarajé em Lisboa. “Foi o acarajé que me deu norte nessa vida, que me fez me reconhecer como mulher”, diz.

Ela chegou em Portugal há 21 anos e começou trabalhando em um restaurante de comida brasileira, até abrir o Acarajé da Carol, em 2015. No ano passado, foi inaugurada a segunda unidade. “Cresceu tanto que tive que trazer irmãos, primos e sobrinhos para trabalharem comigo e me ajudarem”, conta Carol.

Carol é filha de uma baiana de acarajé de Itapuã e está em Lisboa há 21 anos dando continuidade à tradição familiar
Carol é filha de uma baiana de acarajé de Itapuã e está em Lisboa há 21 anos dando continuidade à tradição familiar Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Hoje ela faz acarajé para grandes eventos e famosos como o cantor Saulo e a atriz Luana Piovani já foram provar o seu tempero. Mesmo ganhando fama, ela faz questão de colocar a mão na massa. “Eu amo o meu trabalho e tenho muito orgulho de representar a Bahia”, destaca.

Além do acarajé, o cardápio ainda traz opções como caldo de feijão, moqueca e bolinho de estudante. Na decoração, estão placas com dizeres como “Salvador Bahia Meu Rei” e “Fiado só amanhã”. Quem visita o espaço leva uma fitinha do Senhor do Bonfim para casa, não sem antes receber as orientações: dê três nós e faça um pedido para cada um deles”.

Carol começou a ajudar a mãe no ponto de acarajé em Itapuã aos 6 anos
Carol começou a ajudar a mãe no ponto de acarajé em Itapuã aos 6 anos Crédito: Reprodução/Redes Sociais

Serviço:

  • Preços de alguns itens: acarajé sem camarão - 8 euros / acarajé com camarão - 9 euros / caldo de feijão - 4,50 euros / bolinho de estudante - 5,99 euros
  • Instagram: @acarajedacarol
  • Endereço 1: Rua da Rosa, 63 - Bairro Alto
  • Horário de funcionamento: Terça a sexta das 17h às 22h30, sábado das 12h às 14h30 e 18h às 22h30, e domingo das 13h às 17h30
  • Endereço 2: Rua de Santa Marta, 79 - Marquês de Pombal
  • Horário de funcionamento: Terça a sábado das 12h às 15h e das 18h às 22h30, e domingo das 12h às 15h