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Pesquisa projeta aumento de 112% de casos de Parkinson e doença antes dos 40 fica mais frequente

Abril é o mês de conscientização sobre a doença

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 26 de abril de 2025 às 05:00

Luiz Castelo Branco teve o primeiro tremor durante uma reunião de trabalho e derrubou um café na mesa
Luiz Castelo Branco desconfiou de algo errado quando derrubou café na mesa durante uma reunião de trabalho Crédito: Marina Silva/CORREIO

O principal fator de risco para o Parkinson continua sendo o envelhecimento, mas a doença já é vista em todas as idades, sendo cada vez mais comum o chamado Parkinson precoce. É o que diz a neurologista Flávia Rolim, do Departamento Científico de Transtornos do Movimento da Associação Brasileira de Neurologia (ABN).

O cenário está atrelado ao que os especialistas nomeiam de pandemia de Parkinson. “Temos de 8 a 10 milhões de pessoas com Parkinson no mundo e esse número vai virar 25 milhões até 2050. É um dado assustador”, diz Flávia.

Os dados são do Global Burden of Disease Study, que calcula um aumento de 112% dos casos na comparação entre 2021 e 2050. A neurologista Roberta Kauark, mestre em neurociências e coordenadora do ambulatório de transtornos do movimento do Hospital das Clínicas de Salvador, destaca que o Parkinson é a doença neurológica com maior crescimento de prevalência, na frente até mesmo do Alzheimer.

Já para o Brasil, a pesquisa do The Lancet Regional Health Americas, publicada em 2025, aponta que o país tinha, no ano passado, cerca de 500 mil casos em pessoas apenas a partir dos 50 anos e que, em 2060, terá mais de um milhão. Com os números exatos, a projeção de aumento é de 133%.

“Existe uma pandemia de Parkinson. A gente relaciona o termo às doenças infectocontagiosas, mas hoje a gente vive uma pandemia de Parkinson, com uma perspectiva de crescimento exponencial dessa doença. Estamos falando de muitas pessoas tendo anos produtivos de vida comprometidos e um impacto muito grande para o sistema de saúde”, avalia a neurologista da ABN.

Nenhuma das duas pesquisas fazem uma separação de casos por idade antes dos 50 anos. A percepção do aumento de diagnósticos em pessoas abaixo dessa idade fica, então, com os neurologistas que atendem diariamente pacientes com a doença.

“É notável o fenômeno de antecipação, ou seja, pessoas cada vez mais jovens recebendo o diagnóstico. Sempre existiu o Parkinson precoce, antes até dos 40, mas esses casos têm aumentado”, acrescenta Flávia.

“A causa a gente não sabe. Provavelmente, o aumento em pessoas mais novas é consequência do aumento de forma geral. Vale lembrar que, hoje, existe mais acesso à informação e mais acesso a serviço médico. Parkinson não é a primeira aposta dos médicos para pessoas de 40 anos, então quanto mais se fala sobre isso, mais fácil será o processo de diagnóstico para essas pessoas”, diz Roberta Kauark.

A administradora Carol Nogueira demorou para descobrir o que tinha. Foi durante o velório do pai que percebeu pela primeira vez o tremor. Na época, com 37 anos e diante da situação, culpou o estresse emocional. Não passava pela cabeça a palavra ‘Parkinson’. Os tremores continuaram, ela buscou diversos médicos até, dois anos depois, recebeu o diagnóstico.

Carol Nogueira
Carol Nogueira ampliou rotina de atividades físicas que já tinha antes do diagnóstico de Parkinson Crédito: Arquivo Pessoal

Luiz Castelo Branco e Bruno Leal foram diagnosticados aos 40. Luiz sentiu o primeiro tremor quando derrubou café durante uma reunião de trabalho e levou cinco meses buscando especialistas até descobriu o Parkinson. Bruno ignorou uma sequência de pequenos tremores durante dois anos, até notar que não conseguia mais escrever e consultar um neurologista. Depois de muitos exames, veio a certeza. 

Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que não possui separação de atendimentos de pessoas com Parkinson por faixa etária. O órgão informou apenas que o SUS registrou 59 milhões de atendimentos ambulatoriais relacionados à doença em 2023 e 62 milhões no ano seguinte, representando um aumento exato de 5,2%. Em 2025, até agora, foram 10,7 milhões de atendimentos.

O mês de abril marca o período de luta pela conscientização em relação à doença, com o objetivo de disseminar conhecimento e quebrar preconceitos. “As pessoas que se deparam com alguém com Parkinson ficam constrangidas, acham que é uma sentença de morte. Não tem nada para ter pena, a gente consegue ter qualidade de vida, viver bem”, defende Carol Nogueira que, depois de sete anos de diagnóstico, não teve progressão significativa de sintomas.

A doença

O tremor é apenas um dos possíveis sintomas do Parkinson, ao lado de lentidão na execução de movimentos e rigidez. Em cada pessoa, a doença pode se manifestar de forma diferente. Os sintomas motores são isolados, podendo haver ainda alterações no sono, mudança de hábito intestinal, sintomas urinários, distúrbios de humor e comprometimento do equilíbrio e da fala.

O Parkinson é uma doença neurológica que provoca a degeneração da região do cérebro capaz de produzir a dopamina, molécula cerebral responsável por controlar os movimentos. O processo é progressivo, sem cura e, portanto, com o passar do tempo, os pacientes tendem a ter uma produção cada vez mais baixa desse neurotransmissor.

Segundo a neurologista Flávia Rolim, há um consenso de que a idade é um fator de risco e o envelhecimento da população seria a principal justificativa para o aumento de casos. O estilo de vida, no entanto, também tem papel fundamental nessa conta. “O sedentarismo e a maior exposição a agrotóxicos e pesticidas são fatores que influenciam”, coloca.

Ao envelhecimento cerebral e aos fatores ambientais somam-se os fatores genéticos. Apesar da maioria dos casos de Parkinson não ser hereditária, a presença de múltiplos parentes de primeiro grau com a doença tende a agravar os riscos da manifestação.

Tratamento

Bruno sempre foi sedentário, até receber o diagnóstico. “Meu médico disse que é tipo remédio. Eu sei que tem que ser todo dia, mas eu sigo um mínimo de três vezes na semana, realmente não é uma coisa que eu gosto”, diz.

Bruno Leal
Bruno Leal está colocando em prática plano de criar uma fundação voltada para pessoas com Parkinson Crédito: Marina Silva/CORREIO

Já Carol sempre praticou musculação. Depois do diagnóstico, ela aumentou a prática de exercícios aeróbicos e acrescentou um treinamento funcional na areia da praia para o treino de equilíbrio e coordenação motora.

Luiz não passava muito do futebol aos finais de semana antes do Parkinson. Depois, começou a praticar atividade física intensa e regular. Ele mescla atividades específicas para a comorbidade com a corrida, sem abandonar o baba aos domingos. Já conseguiu completar uma meia maratona e um triathlon.

“Eu escutei muitos médicos ao longo dessa jornada. Cada um falava uma coisa, cada um passava um remédio. Mas todos eles falaram que eu tinha que praticar atividade física”, diz Luiz. A explicação quem traz é a neurologista Flávia Rolim: “É, comprovadamente, a única coisa capaz de fazer a doença de Parkinson progredir de maneira mais lenta.”

Luiz Carlos Castelo Branco durante treino
Luiz Carlos Castelo Branco durante treino Crédito: Marina Silva/CORREIO

Ela diz que não há atividade perfeita, o perfeito é se movimentar. O melhor é que o paciente encontre uma atividade da qual goste. “Os estudos mostram que a dança acaba sendo o exercício mais completo porque mexe com mobilidade corporal e ritmo, dando ganho na parte aeróbica, e ainda aumentando níveis de dopamina pela felicidade. Mas práticas como pilates, corrida, vôlei, tênis e ping-pong também são ótimas”, acrescenta a especialista.

O tratamento ainda consiste no uso de medicamentos e aplicação de procedimentos de estimulação cerebral capazes de provocar a produção de dopamina. Duas cirurgias são as mais conhecidas: a estimulação cerebral profunda (ou DBS) e o HIFU (High-Intensity Focused Ultrasound).

“Elas não são indicadas para todos os casos, mas, geralmente, pessoas em fases moderadas da doença são elegíveis. Vale lembrar que uma idade mais avançada significa risco maior de complicação no procedimento, então há um cuidado maior ao pensarmos isso para pacientes a partir dos 70”, diz a neurologista Roberta Kauark.

No último dia 6, uma reportagem do Fantástico acompanhou uma cirurgia DBS feita no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, no Rio de Janeiro, que é público e referência em neurocirurgia.

Em Salvador, o local de referência é o Hospital Geral Roberto Santos, que possui um ambulatório especializado no tratamento de Parkinson. Lá foi feita a primeira cirurgia da doença pelo SUS na Bahia, em 2021. Ao todo, já foram 30 procedimentos do tipo, em pacientes entre 50 e 67 anos. O Hospital das Clínicas também possui um ambulatório de neurogenética do adulto e transtornos do movimento.

Todas as frentes de tratamento são oferecidas pelo SUS, segundo o Ministério da Saúde. Além dos medicamentos, podem ser indicadas aos pacientes do sistema público de saúde a cirurgia de estimulação cerebral e a complementação do cuidado com fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e apoio psicológico.