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Primeiros casos de zika no Brasil foram identificados na Bahia há 10 anos; reveja o que aconteceu

Parte das grávidas infectadas com o vírus deu à luz crianças com microcefalia

  • Foto do(a) author(a) Carolina Cerqueira
  • Carolina Cerqueira

Publicado em 10 de maio de 2025 às 10:00

Joana é mãe de Alice (à esquerda) e Gabriela (à direita)
Joana é mãe de Alice (à esquerda) e Gabriela (à direita) Crédito: Marina Silva/CORREIO

Em abril de 2015, os hospitais de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, recebiam uma avalanche de pessoas com os mesmos sintomas: manchas e dores no corpo, febre baixa e conjuntivite. Começava ali o primeiro surto do vírus da zika no Brasil. No final daquele mesmo ano, mulheres infectadas durante a gestação começaram a dar à luz bebês com microcefalia. 

Quem conta essa história é o virologista da Universidade Federal da Bahia Gubio Soares. Em abril de 2015 ele e a colega Silvia Sardi receberam no  laboratório do Instituto de Ciências da Saúde as primeiras amostras vindas do Hospital Santa Helena, em Camaçari, através do infectologista Antonio Bandeira, que percebeu que havia algo fora da curva.

“Primeiro testamos para diversas arboviroses e sempre dava negativo. Não tinha nenhum caso de zika no Brasil ainda, só fora do país, mas decidimos testar e, para nossa surpresa, deu positivo”, lembra ele.

O Ministério da Saúde foi alertado pela instituição e amostras positivas foram encaminhadas para São Paulo, confirmando-se uma epidemia de zika no Brasil. Só que, até então, o que se sabia sobre zika em países asiáticos e africanos era que se tratava de uma arbovirose que causava uma infecção branda. Essa percepção durou até novembro de 2015, quando as primeiras grávidas que pegaram zika durante a gravidez começaram a parir.

Foi em Recife a primeira identificação de uma quantidade fora da curva de nascimentos de crianças com microcefalia. A partir de estudos, pesquisadores descobriram que as grávidas afetadas no primeiro trimestre de gestação gerariam os bebês com mais comprometimentos neurológicos.

Cenário atual

A maior parte dos casos de comprometimentos esteve associada à microcefalia. A principal característica dessa condição é a redução do tamanho do cérebro, que provoca comprometimento neuropsicomotor, bem como problemas de visão e audição, a depender da gravidade. A microcefalia não tem como causa exclusiva a zika, podendo ter também influência genética e ambiental e de outras doenças, como sífilis e rubéola. Segundo a ONG UniZika, o país tem hoje ao menos 1.589 pessoas com microcefalia.

Em todo o país, cerca de mil casos de síndrome congênita da zika (conjunto de anomalias congênitas causadas pelo vírus) foram confirmados em 2015. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), 162 deles foram na Bahia, com nove óbitos. No ano seguinte, os casos subiram para 332, com 36 óbitos. De 2021 para cá, os anos ficam zerados, com exceção de 2023, que teve um único caso.

Casos confirmados da síndrome congênita do zika vírus
Casos confirmados da síndrome congênita do zika vírus Crédito: Sesab

O virologista Gubio Soares alerta que o vírus continua circulando no Brasil e no mundo, principalmente em locais com mais mosquito, já que o transmissor é o aedes aegypti. “Mas a transmissão não é somente pela picada. As mulheres também podem ser infectadas através do espermatozoide do homem com zika. Por isso, a recomendação é que o homem infectado não tenha relação sexual sem preservativo por ao menos seis meses”, recomenda.

Ainda não há uma vacina que forneça proteção contra o vírus, mas as pesquisas estão em curso. “Temos estudos em fase final de testes fora do Brasil. Aqui, vamos entrar agora na fase de teste clínico e isso demora de um a dois anos, somente essa fase. Acredito que teremos uma vacina de fora em 2026”, projeta Gubio.

Cobertura

Pessoas com deficiência, incluindo as crianças com microcefalia, estão contempladas em diversas políticas de saúde, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa com Deficiência (PNAISPD) e da Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência (RCPD) e a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB).

De acordo com a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), logo após o parto, o procedimento padrão é que os bebês passem por uma avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor. Caso sejam identificados indícios de atrasos do desenvolvimento, a criança poderá ser encaminhada para os serviços da RCPD. 

O serviço pode ser complementado com o atendimento em Centros Especializados em Reabilitação (CER), que faz parte da RCPD citada acima. Esse atendimento compreende reabilitação em áreas como auditiva, intelectual, física e visual. Na Bahia, tais centros são organizados de forma regionalizada, de modo a garantir a disponibilidade de ao menos um serviço de referência por modalidade de reabilitação por macrorregião de saúde, informa a Sesab. 

Atualmente a Bahia possui 16 CER habilitados na RCPD e 9 Estabelecimentos Únicos em Reabilitação (EUR), estes últimos atendendo apenas a uma temática em reabilitação, distribuídos em 22 municípios de 16 das 28 regiões de Saúde.

Segundo a Sesab, no levantamento realizado este ano na Bahia, foi possível identificar um total de 133 crianças com microcefalia com necessidade de intervenções cirúrgicas, sendo 83 com cirurgia a serem realizadas pelo Estado e 50 pelo município de Salvador. 

Casos

Joana, Jéssica e Eulina são mães de crianças com microcefalia que foram infectadas pelo vírus da zika durante a gravidez, em 2015. Hoje, os filhos Gabriela, Aila e Deividy estão com 9 anos, nas vésperas de completarem 10, assim como a epidemia de zika no Brasil. 

Veja na reportagem abaixo, especial de dia das mães, os depoimentos dessas três mães que adaptaram os sonhos e idealizações que tinham à nova realidade que bateu à porta em 2015. Elas compartilharam os desafios e os presentes dessa nova forma de maternar.