Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

Saiba como baiano transformou festas com papel crepom em negócio de até R$ 90 mil na Cidade Baixa

Claudio Sena se especializou em festas e hoje possui três cerimoniais na Ribeira

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 20 de setembro de 2025 às 15:00

Claudio Sena Crédito: Acervo pessoal

Em uma das muitas ruas do bairro Jardim Cruzeiro, em Salvador, reside um morador que nasceu, cresceu e se recusou a sair da Cidade Baixa (CBX). Trata-se do empreendedor Claudio Sena, 51 anos, que, embora seja conhecido por muitas alcunhas, adotou para si uma única identificação: a de realizador de sonhos. Essa missão foi abraçada por ele ainda na juventude, quando, aos 21 anos, fez a primeira festa com papel crepom e cartolina, e decidiu que era esse o seu negócio. Hoje, ele se tornou o dono de três casas de festas – todas na CBX –, por meio das quais consegue faturar, em média, R$ 30 mil mensais.

Para falar da própria trajetória, Claudio faz questão de citar a influência da mãe, Lourdes de Sena, que na década de 80 determinou que ele deveria encontrar um emprego, mesmo tendo apenas 13 anos de idade. Por trás da decisão, existia a preocupação e o medo de que o filho fosse cooptado pelo crime, como tantos jovens da região eram. O pai de Claudio, o eletricista Joaquim Sena, não apoiou a ideia.

Alheio ao impasse entre o pai e a mãe, Claudio começava a dar sinais do caminho que que queria percorrer. Na escola, ele juntava as moedas que ganhava dos colegas como forma de pagamento pelas capas dos trabalhos escolares em papel pautado, que fazia com capricho artístico. Depois, fez uma amizade na vizinhança e pediu a ela que o levasse para conhecer o local em que trabalhava. Lá, encontrou o lugar que foi um divisor de águas na sua vida.

“Me deparei com uma loja que tinha aquários, ornamentações, vasos e uma variedade de plantas e flores. Tudo isso me encantou. No mesmo dia em que fui visitar, eu ajudei na faxina e no atendimento, e fui contratado. Fiquei lá por sete anos e, nesse tempo, aprendi a administrar com Dona Alice, a proprietária, me meti com o almoxarifado, fui office boy, vitrinista e balconista. Ganhava um salário de 9 mil cruzeiros para fazer tudo, mas gostava do que fazia, a ponto de só faltar três dias ao longo desses anos”, conta.

Claudio Sena por Larissa Almeida/CORREIO

Quando saiu do emprego na loja Alice Flores, Claudio decidiu que iria tentar o risco de ser realizador de festas. Com o dinheiro que tinha na época, comprou uma cola, cartolina e papel crepom. Como já era popular na vizinhança, foi chamado por uma conhecida para fazer uma festa de aniversário com tema junino e aceitou o desafio sem pestanejar.

Na festa, usou o material que comprou, fez decorações com recortes, criou um cabelo de lã para as bonecas, colocou um painel com estrelas de papel ofício e utilizou uma toalha de bordado. Quando o DJ acendeu as luzes em tom neon, as estrelas de papel começaram a brilhar, e os convidados, vendo pela primeira vez tal efeito, se encantaram pelo trabalho de Claudio.

“De lá para cá, não parei de fazer festa. A segunda que fiz foi um casamento na Igreja Nossa Senhora da Luz. Nessa festa, usei tronco de bananeira e flores que eram enfiadas em um arame recozido, porque não tinha esponja. Só depois eu fui melhorando, até que fiz meu primeiro buffet completo, em São Joaquim. O recurso que tinha, à época, era a coragem. Com o dinheiro que o cliente pagava, eu comprava tecido, material de decoração, capa de cadeira, contratava floristas e ajudantes”, relata.

Líder mais velho de um grupo de garotos na Cidade Baixa, ele arrastou a meninada para o trabalho. Inicialmente, apesar de conseguir contratação para diversos eventos, a conta quase nunca fechava. Em mais de uma ocasião, Claudio se viu obrigado a tirar dinheiro do bolso para complementar os valores necessários para a realização de algumas festas.

Ele afirma que começou a juntar dinheiro muitos anos depois, quando investiu, em 2000, na reforma de um imóvel nos Mares, que deveria ser sua primeira casa de eventos. O negócio não deu certo por interferência dos proprietários do imóvel, que tomaram a propriedade depois de reformada, o que lhe rendeu um grande prejuízo financeiro.

Graças aos contatos que já havia estabelecido no ramo, ele conseguiu manter na agenda alguns eventos que não exigiam maiores recursos. Isso foi até a ligação de Valdelice, uma cliente e amiga que deu a ele um desafio inédito na carreira: realizar um casamento na Pupileira, em Nazaré.

“Eu estava sem dinheiro, sem conta, sem nada. Fui todo desanimado fazer o orçamento. Eu já sabia que precisava de dinheiro para conseguir reformar outro local para ser minha casa de eventos e tinha encontrado um lugar que a reforma ia me custar R$ 5 mil. Nesse casamento, pela primeira vez, queriam espelho na festa e luz debaixo da mesa, então eu fiz o orçamento e mandei. Ela só pediu a conta do banco para depositar o dinheiro. Aquilo foi o pontapé para a casa de eventos”, narra Claudio.

No dia seguinte, o empreendedor foi surpreendido com uma ligação de Valdelice, que queria oferecer R$ 5 mil para ampliar a festa para 300 pessoas. Ele prontamente assentiu. Com o dinheiro, reformou a fachada da casa, a escadaria, a entrada, a coluna, colocou lustres, desenhou portas e janelas e, à medida que fechava contratos, passou a encher o espaço com material para festa.

O espaço foi inaugurado em 2002, sendo o primeiro cerimonial a oferecer festas completas – desde espaço a buffet – da região. Desde então, ele abriu duas filiais, todas na Cidade Baixa, local que não pretende abandonar. “A concorrência lá em cima é maior e, além disso, minha mãe enterrou meu umbigo em um pé de árvore da Igreja do Bonfim. Acredito que seja por isso que eu não gosto de sair da Cidade Baixa e me mantenho aqui. Esse hábitat para mim está ótimo”, enfatiza.

Na amada Cidade Baixa, Claudio realizou a festa mais luxuosas da carreira: uma celebração para Padilha, entidade da umbanda e quimbanda, com tema totalmente em vermelho. Para essa festa, foram utilizados candelabros, estruturas metálicas, flores, ornamentos em prata e montada uma megaestrutura. Pela primeira vez, ele faturou R$ 90 mil em um só evento.

Quando questionado sobre como se aperfeiçoou ao longo do tempo, Claudio responde que se inspirou em revistas, mas nunca fez nenhum curso na área. Atribui toda a criatividade que tem ao dom e aos ensinamentos de Dona Alice. Afirma que possui uma curiosidade e capacidade de reinvenção natas – não à toa, algumas das peças exclusivas mais requisitadas em sua casa de festas são recicladas e feitas artesanalmente por ele.

Atualmente, ele não conta com uma equipe de funcionários formais, mas paga a taxa MEI dos fornecedores mais frequentes. No andar superior de uma das casas de festas, fez uma espécie de puxadinho para chamar de lar e de lá também não quer sair. O local, que não nasceu com esse propósito, se tornou muito íntimo na pandemia, quando o negócio de Claudio paralisou por completo.

Na época, ele pegou reservas para pagar as despesas e não teve nenhum lucro ou receita. Ainda assim, nunca pensou em desistir, nem se permitiu ter receio. “Eu nunca tive medo, porque tenho a casa da minha mãe. Lá está meu quarto, lá tem comida. Minha mãe ganha pouco, mas sabe dividir o dinheiro. Tem café da manhã, pão e queijo. Tem almoço, tem energia, eu não tenho filhos que dependam de mim. E, acima de tudo, não tenho medo de trabalho”, conclui.

Serviço

Claudio Sena Cerimonial

Espaços: Maison de Eventos – Av. Porto dos Tainherios, 78, Ribeira | Espaço Buffet Gury –  Av. Beira Mar, 367, Ribeira | Villa Prime Cerimonial –  Av. Beira Mar, 367, Ribeira

Quanto: Orçamento a combinar

Contato: Instagram @claudiosenacerimonial / @maisondeeventosclaudiosena | Telefone: (71) 3033-9990