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Após acidente com ferry, Magalhães coloca o bigode de molho

Delegado lembra da hora que carro caiu do ferry: ‘Vi a morte de perto’

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 07:31

Delegado José Magalhães Filho
Delegado José Magalhães Filho Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Salvo pelo bigode. O delegado José Magalhães, titular da 19ª Delegacia, na Ilha de Itaparica, não hesita em atribuir a sua marca registrada o motivo pelo qual foi resgatado por marinheiros depois que o carro em que estava caiu do ferry-boat Anna Nery no mar, na tarde de quarta-feira. “O bigode me salvou. Ficaram loucos quando viram que era eu. Gritaram: ‘É o delegado Magalhães!’. Todo mundo pulou. Se fosse outra pessoa, eles só jogariam a boia porque numa situação dessas a pessoa se desespera e agarra o salva-vidas”, contou o delegado, ontem, em sua residência no Itaigara.

É o terceiro acidente envolvendo ferries em 45 dias. No dia 30 de janeiro, o ferry-boat Ipuaçu ficou à deriva, após sair de Bom Despacho. Já em 4 de janeiro, o Maria Bethânia colidiu com um barco de madeira, após sair do Terminal de São Joaquim. O barco entrou na área de manobra dos ferries (ler boxe). No momento do acidente ontem, além do delegado, o motorista Joelson Sena dos Santos e a policial Maria Alice Maciúba ocupavam o Astra JSH-2006. As vítimas  foram resgatadas por três marinheiros com leves escoriações e receberam atendimento médico. Ontem, Magalhães sentia dores do lado direito do corpo, mas garantiu que hoje está de volta ao trabalho. “Me puxaram com tudo. Dói o corpo, mas tenho que voltar. Vou fazer a travessia sem medo, até porque se eu demonstrar medo as pessoas vão pensar: ‘se o delegado não vai, quanto mais eu’”, acredita.

Delegado contesta a TWB e diz que seu carro estava com freio de mão puxado

O delegado nega que o veículo estivesse desengrenado. “Quem disse isso se sujou comigo. Nem precisava me dar um carro novo, mas não falasse o que falou. O freio de mão estava travado. Independente disso, o carro cairia de qualquer forma por causa do impacto. Outros carros bateram no fundo e empurraram o meu para frente”, argumenta Magalhães. “Não quero prejulgar, mas acho que foi problema da máquina ou do condutor. O menos culpado sou eu”, acrescenta ele.

Para Alexandre Veloso, responsável técnico da TWB, operadora do sistema, o veículo caiu no mar porque o freio de mão estaria destravado. “Depois de resgatadas, as próprias vítimas admitiram que o carro estava solto e desengrenado. Na hora que tocou no píer, o automóvel foi para a frente e caiu”, disse ele, atestando que a manobra foi feita corretamente, inclusive com a rampa frontal da embarcação já estando aberta no momento da parada.

Mas, para Jaime Rangel, diretor de relações institucionais da TWB, pode ter ocorrido falha mecânica. “Temos que investigar para saber se houve falha da máquina ou erro do comandante na manobra. Ele pode mesmo ter encostado numa velocidade acima da adequada”, admite.

Magalhães ressalta que seguiu as normas da travessia e fez o trajeto fora do veículo. “A viagem transcorria normalmente. Eu estava na lanchonete da embarcação e quando estava perto de atracar fui para o carro. Faltando uns 15 metros para chegar, o ferry acelerou ao invés de frear”. Tumulto   Quando o ferry  ganhou velocidade, segundo ele, os passageiros começaram a correr. “Eu gritei: ‘Vai bater, meu Deus!’. Forcei as pernas e os braços e via as pessoas correndo para trás. Se ficassem onde estavam, muitos poderiam ter caído no mar. O meu carro só caiu porque no Anna Nery, apenas um carro fica na primeira fila. Foi a força da batida”, relata o delegado.

O momento mais dramático, lembra Magalhães, foi ver o ferry-boat retornar após a batida. “Depois que bateu e o carro caiu, a embarcação veio em direção a gente. O carro ficou entre o ferry e a murada. Eu vi a morte de perto. Ia passar por cima, mas parou a tempo. Que ninguém passe por nada assim”. O delegado conta que faz a travessia e critica o sistema. “Viajo todos os dias. Gosto do trabalho, mas o sistema é deficiente, a gente tem que reconhecer. Não cobre a demanda, principalmente no Verão.  O Anna Nery é novinho, coisa de primeiro mundo. Como é que acontece isso? Quem sabe a ponte (Salvador-Ilha de Itaparica) possa resolver”.

Além da perda total do veículo, Magalhães teve outros prejuízos. “Perdi celulares, três sindicâncias e um inquérito, mas vamos reconstituir. O carro não presta para nada. Ainda bem que não levei a escopeta, a metralhadora e o revólver. Mas, o pior já passou. Estamos bem”. A TWB, segundo Jaime Rangel, vai arcar com todas as despesas das vítimas, inclusive dando um novo veículo  ao delegado.

Segurança: passageiros preocupados

Um dia após o acidente, usuários do sistema ferry-boat manifestaram preocupação com a travessia. Para a doméstica Rita de Cássia, 48, que faz o trajeto ao menos três vezes por semana, a sensação é de medo. “Ficamos inseguros, né? A gente aposta que está tudo certo e, de repente, não está. Se tem segurança nesses ferries fica em um lugar que eu nunca vi”, afirma. O técnico de manutenção João Carlos dos Santos, 55, atribui a responsabilidade do acidente à TWB. “É o pior sistema do mundo. Não há respeito com o consumidor que paga caro e sofre com o descaso. Se tivesse  barra de proteção, duvido que o carro tivesse caído. Dá medo ficar dependendo de um transporte assim”.

Acompanhada da mãe, a funcionária pública Lúcia Rosário, 53, diz que também se sente insegura. “Ficamos apreensivos. Não é a primeira vez que acontece. Dificilmente uso esse meio de transporte”, lamenta. Já para a comerciante Vilma Silva, 48, a responsabilidade não é só da concessionária TWB. “Antes de o ferry parar, o povo já vai se aglomerando, liga o carro. É aquela confusão! As pessoas são imprudentes e mal educadas. Se tiverem paciência e souberem se comportar, certas coisas podem ser evitadas”, dispara. A vendedora Ana Paula Moreira, 27, concorda: “Todos devem estar atentos quando estiverem em qualquer meio de transporte. A segurança vem da colaboração de todo mundo. A empresa faz a parte dela e a gente faz a nossa. Tem que ser assim”, ensina.

Fiscal ganha fama de herói

O fiscal de terminal de Bom Despacho, Tiago Carvalho, 26 anos, perdeu o horário, mas ganhou fama de herói. Na quarta-feira, ele tinha uma reunião às 15h, no Terminal de São Joaquim, mas não chegou a tempo de embarcar no ferry-boat Ipuaçu. Acabou resgatando o delegado José Magalhães.

“Eu tinha uma reunião, mas me atrasei. Foi Deus quem quis assim. Quando o veículo caiu na água, de imediato me joguei com mais dois marítimos. Estava mais próximo do delegado e o retirei do carro”, lembra. Além dele, participaram do resgate os tripulantes Alessandro Amaral e Wesley Galo.Depois de salvar Magalhães, Tiago retornou para ajudar a resgatar as outras vítimas. “Deixei o delegado na superfície e voltei. Graças a Deus, consegui acertar os procedimentos . O meu papel é cuidar da segurança patrimonial e os passageiros também fazem parte disso. Fiquei comovido com a situação”, diz o rapaz, que é pai de dois filhos e mora em Bom Despacho. Durante o salvamento, Tiago perdeu celular e documentos. “Isso é o mínimo. Tava no momento e na hora certa e com disposição para ajudar”.

Acidente: inquérito vai durar 90 dias

O inquérito da Capitania dos Portos para apurar as causas do acidente deve ser concluído em até 90 dias. O ferry-boat Anna Nery foi inspecionado pelo Grupo Especial de Vistoria e Inspeção (Gevi) da Capitania. Uma comissão de sindicância para investigar o acidente também foi criada pela Agerba, agência estadual que regula o serviço.

Segundo o diretor executivo Eduardo Pessoa, será realizada licitação para contratação de uma auditoria e consultoria do contrato realizado entre a Secretaria de Infraestrutura e a TWB.

 “Não descartamos a possibilidade de uma intervenção na concessionária”, avisa. Além disso, segundo ele, se ficar comprovado que houve negligência, a TWB será punida com multa no valor mínimo de R$ 11 mil e outras penalidades. A  TWB  informou que os passageiros que reclamaram prejuízos também receberam assistência.

CUIDADOS

O embarque e desembarque de passageiros e veículos só devem ser feitos com embarcação totalmente atracada. Após a partida da embarcação, nenhum veículo poderá ser deslocado de sua posição no estacionamento- Todos os veículos deverão estar com o freio de estacionamento (freio de mão) acionado, o motor desligado, a marcha engrenada e as luzes apagadas- Em hipótese alguma o transporte de veículos poderá impedir a perfeita visibilidade do timoneiro (piloto da embarcação)- Os passageiros  não deverão permanecer no interior dos veículos, enquanto a embarcação estiver em movimento