Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Estatal frisou que valores estavam congelados há 99 dias, mas as bombas já haviam sofrido 17 alterações este ano no estado
Gil Santos
Publicado em 17 de junho de 2022 às 14:38
- Atualizado há um ano
Os preços dos combustíveis foram reajustados de novo. Nesta sexta-feira (17), a Petrobrás anunciou aumento de 5,2% para a gasolina e de 14,2% para o diesel, e informou que o motivo da alteração foi o aumento nos valores dos insumos no mercado internacional. À noite, a refinaria privada que opera na Bahia e fornece combustíveis para o estado também anunciou reajuste de preço, o valor do diesel S10 sobe 6,4% a partir deste sábado, de R$ 5,767 para R$ 6,11. Não houve aumento na gasolina.
A Petrobras destacou que há 99 dias não reajustava a gasolina, e há 39 dias o diesel. Com o reajuste anunciado nesta sexta-feira, o preço médio de venda de gasolina da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro. Para o diesel, a alteração será de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. O secretário executivo do sindicato que representa os donos de postos de combustíveis na Bahia (Sindicombustíveis), Marcelo Travassos, explicou as diferenças.
“A refinaria da Bahia é operada por uma empresa privada que faz precificação semanal de acordo com as variações do mercado internacional. Enquanto a Petrobrás é uma empresa estatal que, acredito que por pressões políticas, está fazendo ajustes com menor frequência. O aumento dos preços na Petrobrás pode ser um indício de que também haverá reajuste nos preços praticados pela refinaria baiana, mas isso é especulação, temos que aguardar”, disse.
Procurada, a Acelen, operadora da refinaria baiana de Mataripe, informou que não existe relação de reajustes da empresa com a Petrobrás, e que o aumento nos preços da gasolina e do diesel na estatal não altera o preço do petróleo comprado pela empresa.
antes do reajuste de ontem, foram 11 reajustes para mais (65%) e seis para menos (35%) na Bahia. O último havia sido no dia 4 de junho. Na semana seguinte, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou uma pesquisa que mostrou que os baianos pagavam pela gasolina mais cara do Brasil. A média nacional do litro era de R$ 7,247, mas na Bahia o preço médio foi de R$ 7,972, o maior dentre todas as unidades federativas, o que representou uma elevação de 5,21%, na comparação com a semana anterior.
O professor de economia e conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon), Alex Gama, explicou que a disparada no preço dos combustíveis afeta a todos, mesmo quem não tem carro, e que o impacto é maior sobre as famílias que sobrevivem com um salário mínimo, atualmente em R$ 1.212.
“O peso do transporte no IPCA é de 20,8%. É o maior peso na cesta de produtos para o cálculo do indicador, uma vez que o frete afeta o mercado de bens e serviços, principalmente os valores dos alimentos. Geralmente uma pessoa que ganha salário mínimo não tem como ter um veículo, fica difícil fazer a projeção [do impacto nessa renda]. Mas pode ser analisado o preço dos combustíveis sobre o IPCA”, afirmou.
Ele acredita que a má fase da economia brasileira vai perdurar e que a inflação vai fechar ao ano acima de 10%, como aconteceu em 2021. Sobre os combustíveis, o conselheiro está pouco otimista. “Se não houver mudanças da política de preços da Petrobrás, a paridade de preços de importações, acredito que em breve a gasolina chegará a valores próximos a R$ 10”, afirmou.
A projeção deixa preocupado principalmente quem precisa diretamente dos combustíveis para trabalhar. O motorista por aplicativo Ivan Andrade, 35 anos, disse que não sabe mais o que fazer. “As corridas não estão mais compensando. A maior parte do dinheiro que a gente faz é para pagar combustível. Para se ter uma ideia, desde o ano passado estou trabalhando de 2h a 3h a mais para conseguir a mesma meta, e ainda assim tem dias em que não consigo atingir. Essa política de preços tem que mudar”, afirmou.
O presidente da Associação Geral dos Taxistas (AGT), Denis Paim, contou que a categoria tem 7 mil trabalhadores que dependem dos veículos para conseguir pagar as contas e que a alta nos preços dos combustíveis associada a outras dificuldades tem obrigado os profissionais a buscarem atividades complementares.
“A maior despesa dos taxistas é com combustível. Muitos estão tendo que trabalhar mais de 12h para conseguir pagar as contas e mesmo assim estão tendo dificuldade. Temos 7.296 taxistas, mas apenas 2,5 mil trabalham somente nessa atividade, os outros têm algum tipo de ação complementar. Antes, a gente comprava o cilindro do gás de R$ 35 ou R$ 40. Agora, estamos pagando R$ 80 ou R$ 90. Sem falar nas despesas com a manutenção do veículo” contou. A entidade está fazendo uma enquete para saber se a categoria apoia um reajuste no valor da bandeia.
Redução do ICMS O projeto de lei que fixa o teto de 17% para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre energia elétrica, combustíveis, telecomunicações e transporte coletivo pode ser sancionado a qualquer momento pelo presidente Jair Bolsonaro. A matéria foi aprovada pela Câmara dos Deputados, em segunda votação, na quarta-feira (16). O texto é uma tentativa do Executivo de segurar os preços dos combustíveis, mas terá um efeito sobre as contas dos estados e municípios.
Segundo a Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz), a Bahia vai perder R$ 5,5 bilhões em arrecadação. A medida terá impacto direto sobre a educação, que deixará de receber R$ 1,03 bilhão anuais, enquanto a saúde perderá R$ 495 milhões e os municípios baianos em torno de R$ 1,4 bilhão, anualmente. Nesta quarta-feira (15), durante a inauguração de uma policlínica no Subúrbio Ferroviário de Salvador, o governador Rui Costa disse que fará um encontro na próxima semana para avaliar a situação.
“Vou marcar uma reunião na semana que vem com todos os poderes, com a Assembleia Legislativa, o Judiciário e o Ministério Público para que os outros poderes também possam ajustar as suas contas. E também os prefeitos. Quero alertar aos deputados que avisem aos seus prefeitos que eles terão redução de R$ 600 milhões na transferência do ICMS, é o corte do governo Bolsonaro”, afirmou.
A Acelen, operadora da Refinaria de Mataripe, informou que vai aguardar a sansão do presidente para depois se manifestar sobre o projeto.
Confira a lista dos reajustes aplicados pela refinaria e por postos de gasolina na Bahia em 2022:Data Variação 15/jan 1,43% 22/jan 2,25% 05/fev 2,36% 05/mar 18,82% 19/mar -0,80% 26/mar 3,68% 02/abr -10,03% 09/abr -0,95% 16/abr 2,60% 23/abr 0,09% 30/abr 6,68% 7/mai 10,34% 14/mai -2,3% 21/mai -2,6% 28/mai -3,4 3/jun 10% 4/jun 3,2%