Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2023 às 23:38
- Atualizado há 2 anos
Na prateleira dos grandes nomes da música baiana, Armandinho Macedo é visto em destaque. Filho do inventor do trio elétrico, foi dele a autoria da criação da guitarra baiana, um feito que deu continuidade com maestria ao legado do pai Osmar. Nesta quarta-feira (24), dois dias após seu aniversário de 70 anos, o cantor e compositor teve sua importância reconhecida para além da convicção popular e unânime quanto ao seu talento: elevado a Doutor, Armandinho recebeu o título Honoris Causa, honraria concedida pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), no Salão Nobre da Reitoria.>
O título foi proposto pelas Escolas de Música, Direito e Faculdade de Medicina, e aprovado pelo Conselho Universitário da Ufba. A distinção de maior importância da universidade é dada apenas às personalidades que tenham prestado serviços relevantes ao ensino, às letras, às pesquisas ou às artes, fora do ambiente acadêmico.>
Com cerimônia prevista para começar às 17h, Armandinho entrou no salão acompanhado dos irmãos Haroldo, Betinho e André Macedo. Por volta das 18h25, recebeu, pelas mãos do reitor Paulo Cesar Miguez, a titulação de doutor. Antes, ouviu em silêncio contemplativo as homenagens do diretor da Escola de Música e Maestro da Orquestra Sinfônica da Ufba, José Maurício Brandão, do diretor da Escola de Medicina da Ufba, Luis Fernando Adam, e do professor da Faculdade de Direito da Ufba, Heron Gordilho, representando o diretor da unidade, Júlio Rocha.>
Em seu discurso, Armandinho começou agradecendo e, em seguida, resgatou o início da sua carreira, sob alegação de que as homenagens estavam o transportando para o princípio de tudo. Imerso nas memórias, lembrou da infância e do transe que entrava toda vez que ouvia o pai tocando cavaquinho ou tamborim. Sem deixar de lado a reprovação da mãe pelo seu interesse na música, ele recordou sem remorso o apelo dela para que ele fizesse a vida através dos estudos formais, algo que não aconteceu.>
É que não foi preciso estudo, no caso de Armandinho, para se tornar doutor no que se propunha a fazer. Expert na sua arte, foi com 9 anos, depois da morte da mãe, que ele pediu a Osmar para que lhe ensinasse a tocar cavaquinho. O pai não hesitou em atender o pedido do filho, que não só aprendeu a tocar, como começou a dar seus primeiros passos na música seguindo tão somente sua vocação. Osmar ainda tentou incentivar os estudos para que o filho participasse do concurso “A grande chance”, do programa do apresentador Flávio Cavalcanti, mas, mais uma vez, Armandinho tinha em mente o que faria com os acordes do seu futuro.“Meu aprendizado consistia basicamente em escutar meu pai tocando. E é quando nasce uma escuta atenta, sensível, dedicada e dedilhada”, pontuou.Sem acreditar que pudesse aprender através dos livros e de aulas, Armandinho ainda contou o que fez quando foi desafiado por Osmar a estudar para tocar as músicas dos clássicos. “Com o tempo mais lento na radiola, eu ouvia a música e, em três meses, eu já tinha toda aquela melodia decoreba. Era só praticar a velocidade. Esse foi meu maior treinamento”, brincou.>
No Teatro Municipal do Rio de Janeiro, na final do programa de Flávio Cavalcanti, Armandinho estreou e brilhou para o Brasil. Ele lembrou do momento com alegria, embora no dia não tenha contido as lágrimas. Afinal, não se tratava apenas da sua apresentação para o mundo, mas o início de uma nova fase na sua arte. “Considero que neste momento singular que começa a minha vida profissional na arte, mais precisamente em 1969, com três discos gravados nesse período”, destacou. Armandinho Macedo finalizou a cerimônia de titulação tocando sua guitarra baiana (Foto: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO) Armandinho ainda trouxe a lembrança da sua reprovação na Escola de Música da Ufba e sua aprovação no curso de Artes Plásticas, que abandonou para seguir a carreira musical. Irreverente, ele brincou que não é formado, mas agora é doutor. “Esse aqui é um prêmio completamente fora de tudo que eu propus na minha vida, porque eu nunca estudei nada. Eu só toquei e fui agraciado pela Ufba. Esse prêmio é honroso, é uma outorga, é o título da minha vida”, afirmou.>
Diretor da Escola de Música, José Maurício Brandão fez questão de frisar que a reprovação na faculdade não fazia de Armandinho pouco conhecedor da música.“Talvez, a Escola de Música não soubesse o que fazer com você. Talvez, fosse você que tivesse que ensinar à Escola de Música”, disse o diretor da unidade.Reitor da Ufba, Paulo Cesar Miguez afirmou que o título que a universidade estava concedendo a Armandinho era um reconhecimento ao seu talento. “Esse título celebra a excelência e a trajetória de um grande músico baiano e brasileiro. Ultrapassa a figura de Armandinho, na medida que também é uma homenagem à criação genial de Dodô e Osmar, que é o trio elétrico. Sem Armandinho, que foi um dos grandes continuadores do trio, a Bahia certamente não teria a alegria que tem hoje”.>
Luis Fernando Adam, diretor da Escola de Medicina da Ufba, transmitiu ao homenageado e à plateia o reconhecimento de outros grandes nomes da música baiana, pondo em execução a iniciativa do maestro Alfredo Moura, amigo e grande responsável por idealizar e mobilizar a concessão do título a Armandinho. Com a licença de Gilberto Gil e Caetano, Luis leu as palavras dos cantores ao inventor da guitarra baiana.“Armandinho é um músico com alta formação, um atleta musical com habilidade manual e mental excepcionais. O mais importante é que ele é um músico de muito bom gosto, com bom ouvido para o que é interessante. É um músico que reflete todo respeito que todos os músicos brasileiros têm pela música”, afirmou Gil.“Armandinho é um dos músicos mais elegantes e refinados do Brasil. Um artista completo que toca com uma sensibilidade incrível combinando virtuosismo e emoção. Armando Macedo, por todas as realizações e conquistas em sua vida, o senhor é um herói e um símbolo de inspiração para todos nós”, completou Caetano.Presente na cerimônia, o titular da Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA), Bruno Monteiro, ressaltou a importância de homenagear os artistas que contribuíram para a cultura baiana e não escondeu a admiração por Armandinho. “Nesse marco de 70 anos da vida de Armandinho, no ano do centenário do pai dele, ele ainda está cheio de vigor, produzindo e levando cultura para todos os lugares. É muito prazeroso estar nesse momento que celebra este grande patrimônio da nossa cultura, que é Armandinho Macedo”.>
Ao lado dos familiares e amigos de música, Armandinho finalizou a cerimônia fazendo o que, segundo ele, sabe fazer de melhor: tocando sua guitarra baiana e fazendo uma homenagem a Moraes Moreira, seu companheiro de trio elétrico. Com ‘Chame Gente’ como música derradeira do seu repertório no evento, ele embalou o Salão Nobre da Reitoria fazendo valer a sua vocação, acima de tudo, para manifestar e inspirar a alegria.>
Conheça outros músicos baianos que já receberam o título:>
Caetano Veloso Em 1998, o cantor e compositor Caetano Veloso recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Ufba. A entrega ocorreu em cima do trio elétrico Folia Universitária, na abertura do Carnaval daquele ano.>
Maria Bethânia A cantora, compositora e intérprete baiana, Maria Bethânia, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Ufba, em 2016. A cerimônia de titulação ocorreu no Salão Nobre da Reitoria da Ufba.>
Dona Cadu Em 2021, a ceramista, sambadeira e também rezadeira Ricardina Pereira da Silva, mais conhecida como Dona Cadu, recebeu o título de Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A cerimônia virtual aconteceu através do canal TV Ufba no YouTube.>
Mateus Aleluia O cantor, compositor e pesquisador Mateus Aleluia recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, em Cruz das Almas, em 2022.>
Gilberto Gil O cantor e compositor Gilberto Gil recebeu, em março deste ano, o título de Doutor Honoris Causa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba).>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>