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Larissa Almeida
Publicado em 21 de maio de 2025 às 06:00
Eles piscam os olhos, indicam a necessidade de trocar a fralda e, em alguns casos, imitam com perfeição o som de choro. Por mais que a descrição seja compatível, não se trata de um bebê comum, mas sim do reborn, que tem ganhado a atenção do público conectado às redes sociais há algumas semanas. A popularidade foi tamanha que uma igreja tradicional de Salvador precisou emitir uma nota dizendo que não batiza esse tipo de bebê. É que, dada a semelhança – uma vez que são extremamente realistas –, não são poucos os casos de pessoas que querem comprar um dos bonecos para tratá-lo como um ser vivo. Mas, afinal, o que faz o bebê reborn tão realista? >
De acordo com a artesã Sheila Carapiá, que é especialista em arte reborn e pioneira no ramo em Salvador, o ultrarrealismo é justamente o que diferencia o bebê reborn de um boneco possível de ser adquirido em uma loja de brinquedos infantil. Diferente do brinquedo, o bebê reborn, que surgiu no início dos anos 2000, tem o objetivo de promover conexão real. >
“Para que um bebê reborn realmente provoque aquelas emoções profundas e traga conforto de verdade, ele precisa ser muito realista. Não é só uma questão de estética, é que quanto mais parecido com um bebê de verdade ele for, mais fácil é para o nosso subconsciente ‘acreditar’ que está diante de um bebê real. É aí que tudo começa a acontecer dentro da gente. Quando a gente segura um bebê reborn bem-feito no colo, com aquele rostinho delicado, o peso certo e o cheirinho de neném, o corpo começa a responder de forma positiva aos estímulos”, explica a artesã. >
Com os estímulos adequados, quem cuida de um bebê reborn consegue sentir satisfação imediata, tal como uma mãe ou pai de um bebê humano. “Sem perceber, a gente começa a liberar ocitocina, que é o hormônio do afeto e do vínculo, e dopamina, que traz aquela sensação gostosa de bem-estar, aconchego e paz”, aponta Sheila. >
Ela ressalta, no entanto, que esse sentimento não é motivo para tratar o bebê reborn como humano fora do contexto em que isso é aceito – geralmente, dentro de casa ou em ambientes com outras pessoas que lidam com o boneco realista da mesma forma. “Essa conexão emocional que muitas pessoas sentem com os bebês reborn não tem nada a ver com atitudes exageradas que estão aparecendo por aí, como levar o bebê reborn em hospitais, tentar furar filas ou exigir tratamento como se fosse um bebê real”, afirma. >
“Essas não são reações naturais provocadas pelas emoções ou pelos hormônios liberados no nosso subconsciente. Na verdade, isso costuma ser uma tentativa forçada de chamar atenção, muitas vezes para gerar engajamento nas redes sociais”, complementa Sheila. >
Para que os bebês reborn atinjam esse grau de verossimilhança com um bebê humano o investimento precisa ser alto. Só o preço do silicone custa R$ 1 mil o litro, sendo que, geralmente, são necessários quatro litros para a confecção de um boneco. Todos esses custos se refletem no preço de venda, que pode chegar até R$ 12 mil. >
No que diz respeito às técnicas para obter o efeito de realismo, Sheila Carapiá precisou fazer formação online com artistas canadenses, que ensinaram a forma correta de produzir os detalhes dos bebês reborn. “Aprendi que a vascularização de veia tem que ter a profundidade, a dimensão e o alinhamento certos. As veias são de acordo com a anatomia humana. Logo, o artista precisa ter noção de anatomia”, conta. >
Em geral, o bebê reborn é feito com rosto, braço e perna de vinil e com corpo de tecido aveludado. Esses dois materiais, inclusive, fazem com que eles ganhem a temperatura corporal que se assemelha a de um ser humano e a textura maleável que lembra a pele frágil de um recém-nascido. A depender do grau desejado de realismo, eles podem ser feitos com silicone e ter o corpo todo confeccionado com o material, que tende a ser ideal para os modelos maiores, que podem medir até 1,20 m. >
Os bebês reborn de silicone, que são mais sólidos, passam por um processo de confecção mais extenso. A artesã Célia Rosa, proprietária da marca Célia Reborn, relata que são bonecos mais fiéis aos bebês humanos, daí o motivo de ter um trabalho praticamente redobrado em relação aos que são feitos de vinil. >
“A cada camada de pintura que faço eu preciso levar ele ao forno para selar tudo. Faço manchinha de frio, marca da vacina, veias, microvasos, implante de cabelo. Para que fique mais real ainda, junto com o bebê eu mando certidão de nascimento, carteirinha de vacina, teste do pezinho e todas as primeiras documentações que um bebê real tem. O bebê também vai para a cliente com um enxoval completo”, diz. >
Os bebês reborn produzidos por Célia Rosa custam entre R$ 1.780 e R$ 2.2300. Ela afirma que os clientes que procuram os bonecos ultrarrealistas são, principalmente, filhos de pessoas com Alzheimer e crianças. “Os bebês fazem superbem para elas. A arte me traz toda essa riqueza de ajudar”, finaliza. >