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Bruno Wendel
Publicado em 27 de outubro de 2016 às 07:03
- Atualizado há 2 anos
O duradouro pacto de não agressão entre o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), as duas maiores organizações criminosas do país, talvez seja explicado pela origem de ambos os grupos, nascidos dentro de presídios e comandados com mão de ferro por líderes tão ambiciosos quanto engenhosos. O nascimento da facção paulista é mais recente e tem até data: 31 de agosto de agosto de 1993. A gênese é no anexo da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, interior de São Paulo, local que acolhia presos transferidos por ser considerados de alta periculosidade.>
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A maioria dos líderes da organização está presa, sendo o principal deles Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que cumpre pena de 44 anos, no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Venceslau (SP), após ser condenado principalmente por assalto a bancos. O local abriga toda a cúpula da facção e é de onde partem, ainda hoje, os comandos de ações. >
Já o Comando Vermelho Rogério Lemgruber, mais conhecido como Comando Vermelho, ou pelas siglas CV e CVRL, foi criado em 1979 na prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, Angra dos Reis (RJ), como um conjunto de presos comuns e presos políticos, militantes de grupos armados, sendo que os presos comuns eram membros da conhecida Falange Vermelha.>
Ela foi criada pelo traficante Rogério Lemgruber, morto em 1992 por complicações da diabetes. Uma das primeiras medidas do CV foi a instituição do “caixa comum”, alimentado pelo dinheiro adquirido em atividades criminosas isoladas dos que estavam em liberdade - o dízimo. Entre os integrantes da facção que se tornaram notórios depois de suas prisões, estão o líder da facção, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, além de Marcinho VP, Mineiro da Cidade Alta, Elias Maluco e Fabiano Atanazio, o FB.>
Fim do pacto de paz matou 22 nas cadeiasSomando as mortes ocorridas desde o dia 16 deste mês nos presídios do Acre, Roraima e Rondônia, já são 22 óbitos que podem ser os primeiros efeitos de uma importante reconfiguração do crime organizado no país. Os governos de cada estado atribuíram as mortes ao rompimento de uma aliança entre PCC e o CV. As rebeliões deixaram 19 feridos. A aliança entre os grupos vigorava desde, pelo menos, 1997 – mas a parceria entre os grupos era negociada desde 1993, ano de criação do PCC. >
Segundo o artigo Tabuleiro do Crime: o Jogo de Xadrez por Trás da Guerra entre PCC e CV, publicado no jornal Estadão, o PCC, além de São Paulo, se consolidou no Paraná e em Mato Grosso do Sul – estados cujas fronteiras são importantes portas de entrada de drogas ilícitas que abastecem o mercado brasileiro – e passou a habitar algumas áreas estratégicas para esses negócios, coligando-se com o CV em consórcios que permitiram melhores condições comerciais aos dois grupos. O texto é assinado pela socióloga e professora universitária Camila Caldeira Nunes Dias.>
Segundo ela, as duas facções adotaram estratégias de expansão de seus negócios em todos os estados – com predominância do PCC –, coligando-se, fundindo-se ou opondo-se às facções locais que surgem nas prisões. Segundo o site Ponte, especializado em Segurança, o conflito entre as facções começou em 2015, quando presos do CV de Roraima, Rondônia e Acre se aliaram à facção FDN (Família do Norte) e outros rivais do PCC.>
Internos dos presídios do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas foram orientados pela liderança de São Paulo a pedirem transferência para outras unidades onde a facção paulista tem vantagem numérica.>
No ano passado, internos do PCC em presídios do Norte e Nordeste enviaram cartas à cúpula da organização, na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), relatando que uma guerra seria inevitável por causa da aliança entre o CV com grupos rivais. Ainda segundo o site, os membros do CV no Norte e Nordeste também comunicaram os chefes da facção fluminense que a paz com o PCC estaria no fim porque os paulistas não concordavam com suas coligações.>
Desde sua criação, em 1993, o PCC buscou uma coligação com o CV. O grupo paulista até adotou em seu estatuto o lema do grupo do Rio: Paz, Justiça e Liberdade.>