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Moyses Suzart
Publicado em 25 de maio de 2025 às 05:00
Já pensou na possibilidade de buscar e aprender a fazer sua própria comida, manejar fogo, construir um abrigo, pegar frutas, ler mapas, selecionar gravetos e curtir com seus amigos uma noite no acampamento? Não, não estamos falando de alguma realidade virtual e o acampamento não é na sala de sua casa. A ideia é fazer isso tudo na vida real mesmo, ao ar livre. Num mundo cada vez mais virtual, um costume secular pode ser a salvação para a garotada que não desgruda da tela: a arte de ser escoteiro. >
Vem com o tio Millennial. Nos anos 80/90, quando a única tela era o da TV de casa, ser escoteiro era quase sinônimo de herói. Um Magaiver. (pesquise no Google) . Fazer parte do escotismo era como ser o melhor player no bioma de Minecraft: orientação com bússolas, acendimento seguro de fogueiras; a montagem de barracas e abrigos improvisados; a culinária de campo com métodos de purificação da água; e a prática de nós; rastreamento de animais, o reconhecimento de plantas comestíveis e medicinais, os primeiros socorros, técnicas de sinalização como o código Morse, entre outros. Quase um herói da Marvel. >
E se os pais estão procurando uma opção para tirar seus filhos da tela, o escotismo está firme e forte em Salvador. “Na Bahia, o escotismo está prestes a completar 110 anos de atividade, no final do ano. Atualmente, há 26 Grupos Escoteiros (Unidade Escoteira Local) ativos na Bahia, sendo 12 somente em Salvador”, explica Samuel Urpia, diretor presidente do grupo de escoteiros do Colégio Antônio Vieira, uma das unidades da União dos Escoteiros do Brasil (UEB) na Bahia. Lá, os encontros são aos sábados, nas dependências do colégio. >
Este grupo nacional é o único do país com certificado da Organização Mundial do Movimento Escoteiro, a principal no mundo. Fundada em 1924, a UEB, que é uma associação sem fins lucrativos, atualmente contabiliza 68.762 escoteiros no Brasil, além de 26.929 voluntários, boa parte os próprios pais da garotada que entram no clima aventureiro. >
Samuel afirma que o escotismo muda a vida do jovem e dos pais quando entram na rotina deles. “Os pais sempre relatam como o escotismo contribuiu em mudanças positivas nas crianças e jovens, como organização, pontualidade, comprometimento, respeito e desenvolvimento de habilidades no âmbito familiar e social. Aqui, eles nem terão tempo de lembrar das telas. Vejo isso ocorrer todos os sábados à tarde em nossas atividades ou acampamentos”, conta Urpia, que teve dois filhos escoteiros e passaram por quase todas as etapas (confira quadro). >
Mesmo com tanta violência e uma cidade com pouca área verde, os escoteiros se viram como podem. “Para acampamentos, buscamos igualmente locais que ofereçam segurança e infraestrutura básica, como banheiros e cozinha para os Lobinhos, pois preparamos todas as refeições. Temos um protocolo de visita prévia e algumas ações, como comunicar ao batalhão da região sobre acampamento e o atendimento médico de emergência mais próximo”, garante Urpia. Os principais locais desbravador pelos escoteiros são o Parque da Cidade, de Pituaçu, das Dunas e o Vale Encantado.>
Escoteiro desde os tempos de Lobinho e agora exercendo um papel de liderança voluntária, Kleiver Cazumbá não imagina sua vida sem a arte de ser escoteiro. Toda filosofia que ele aprendeu ao longo de 18 anos como escoteiro ele leva para sua rotina adulta. Desde o desenvolvimento intelectual até a gambiarra, como o varal de casa que quebrou e ele fez um nó de escoteiro que ninguém mais consegue tirar. Tampouco quebrou novamente. >
“Sou escoteiro desde os 8 anos. Me apaixonei e tô lá desde então. O escoteiro tem várias atividades, em vários âmbitos:força, tempo, aptidão física, intelectual… O escoteiro aprende a pensar em equipe, pensar às vezes sozinho, espírito de solidariedade, tudo. Utilizo tudo isso no meu trabalho, na minha rotina, são aprendizados que levamos para toda vida”, garante Kleiver.>
Aos 26 anos, Kleiver não esconde que também pertence a uma geração tecnológica, mas garante que ser escoteiro não é abandonar as telas, mas saber usá-las com harmonia e sem exageros. >
“Me angustia muito saber que muitas crianças de hoje em dia ficam apenas na tela, sem ter essa experiência de contato com o outro. Eu também fico em tela, mas não abandono a oportunidade de ter outras experiências. Ser escoteiro transforma a vida da criança, desde o lobinho até as idades mais elevadas. Tenho diversos casos, mas temos uma escoteira que chorava para não ir para os encontros de escoteiros. Preferia as telas. Hoje, é uma das nossas principais lideranças do grupo, não abre mão. Isso transforma”, completa Kleiver. >
Aos 17 anos, 9 deles como escoteiro, Antônio diz que o escotismo, embora fundado há mais de um século, mantém-se vivo por sua capacidade de adaptação, inclusive para a geração das telas. O movimento idealizado por Baden-Powell não foi criado para ser algo fixo, mas sim flexível, capaz de se reformular conforme as necessidades do tempo presente. Em um cenário marcado pelo excesso de redes sociais e pelo isolamento juvenil, o escotismo surge como um contraponto valioso.>
“Em relação às redes sociais, o escotismo se moldou para que seja esse espaço de acolhimento, de contato com a natureza para não deixar com que isso se perca na geração atual e futura”, disse Antônio, que ainda assegura que o escotismo é um ponto crucial para mudar o cenário dos jovens tecnológicos.>
“Com o excesso de redes sociais, de estar o tempo todo dentro do quarto jogando, se escoteiro é trazer esses jovens de hoje para a natureza, para a vida em comunidade, em sociedade, impedir com que aconteça esse isolamento que muitos jovens estão enfrentando com esse advento das redes sociais e o excesso delas hoje em dia. Aqui, o acolhimento é real, diferente do que estamos vendo nas redes sociais”, completa. >
Se no passado ser escoteiro era visto como sinônimo de aventura, hoje pode ser a chave para reequilibrar uma infância sufocada pelo excesso de telas e isolamento. O escotismo não apenas ensina a fazer fogo, nós ou ler mapas, mas forma cidadãos mais conscientes, solidários e conectados com o bioma que não precisa de internet: do mundo real.>
Não importa a idade. No lugar do “bom dia”, todo escoteiro que se preze começa a saudação com a frase “Sempre Alerta” , um lema do Movimento Escoteiro no Brasil. Mais do que ensinar sobrevivência, o escotismo forma crianças e jovens em valores como lealdade, civilidade, cortesia, respeito e diversidade. Reconhecido internacionalmente, é o único movimento juvenil do país com esse certificado. A União dos Escoteiros do Brasil (UEB) completou 100 anos em 2024, mas o escotismo chegou ao Brasil bem antes, em 1909. Na Bahia, os primeiros registros de acampamentos escoteiros são de 1910. >
Criado pelo general britânico Robert Baden-Powell em 1907, após um acampamento experimental na Ilha de Brownsea, na Inglaterra, o escotismo tinha como foco formar jovens responsáveis e solidários, por meio de atividades ao ar livre, disciplina e trabalho em equipe. Não precisa pensar muito para perceber que a criação do escotismo tinha a essência dos ensinamentos militares de sobrevivência. A prática se espalhou rapidamente e chegou ao Brasil com militares da Marinha que tiveram contato com o movimento durante expedições pela Europa.>
Hoje, cada estado brasileiro conta com uma Regional vinculada à UEB, responsável por definir as diretrizes locais do movimento. Na Bahia, o escotismo se aproxima dos 110 anos de história, em dezembro deste ano. Atualmente, são 26 Grupos Escoteiros ativos no estado, sendo 12 só em Salvador. Cada faixa etária tem um programa específico e adaptado (veja info).>
Apesar da tradição centenária, o escotismo se transformou em fenômeno da cultura pop no Brasil a partir dos anos 1970, graças a filmes, desenhos animados e, principalmente, ao “Manual do Escoteiro Mirim”, uma febre na época em que internet era só um experimento militar. Criado pela Disney e protagonizado por Huguinho, Zezinho e Luisinho, o manual virou um guia prático com mais de 200 páginas. Era um verdadeiro “Google impresso” que ensinava desde como fazer uma fogueira até ler estrelas, usar código Morse e sobreviver na mata. Um destaque chamava atenção: entre as dicas, havia até uma receita de coquetel feito com conhaque , mesmo sendo voltado para crianças e adolescentes.>
Em 2016, a Editora Abril relançou o manual, substituindo o conhaque por leite de coco (o Estatuto da Criança e do Adolescente agradece). O sucesso foi imediato: mais de 30 mil exemplares vendidos só no primeiro ano, o que levou à publicação de um segundo volume em 2017. As edições ainda podem ser encontradas em livrarias online como a Amazon e a Estante Virtual.>
Quer ser escoteiro na Bahia? Basta procurar uma unidade do Movimento Escoteiro no Brasil mais próxima (confira info). Sempre alerta!>
A arte centenária pode ser uma boa solução para tirar seu filho da tela. Confira o que o escoteiro aprende ao longo dos anos.
1. Ramo Lobinho (6,5 a 10 anos)
Objetivo: Desenvolver o senso de coletividade, respeito e disciplina de forma lúdica.
Aprendizados:
ESCOTEIROS DA BAHIA
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