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Da Redação
Publicado em 1 de junho de 2023 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
A agricultora Dalila Batista, 38 anos, saiu da zona rural de Monte Santo em direção a Salvador para passar pela sua terceira perícia na Agência da Previdência Social de Brotas, ontem. Diagnosticada com fibromialgia em 2019, a trabalhadora tenta conseguir um benefício desde então. O caso dela não é único. Em todo o estado, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), são 109.422 pessoas com seus processos parados à espera de análise. Muitos baianos chegam a viajar por sete horas para tentar atendimento na capital. >
Ainda em 2019, Dalila deu entrada nos papéis para se aposentar, em Monte Santo, mas só passou pela primeira perícia seis meses depois, em Juazeiro. Depois de receber resultado negativo, a agricultora recorreu ao INSS e só voltou a realizar o exame em outubro de 2022, em Campo Formoso. O auxílio também foi negado na segunda vez. >
"Dói muito. Eu luto todo dia para não me abater. Eu penso assim: se a gente tem direito, eu só quero [o benefício] para comprar os meus remédios, que custam R$ 750,00 e só duram um mês e 15 dias. A minha renda é o bolsa-família", diz a agricultora.>
De acordo com o Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), apesar do tempo médio de concessão dos benefícios do INSS ter diminuído, a fila nacional cresceu 6% de janeiro a março.>
Com 496.208 solicitantes no aguardo, o Nordeste é a região com a maior fila de espera dos benefícios. A Bahia corresponde a 22% do total de toda a região. Segundo Adriane Bramante, presidente do IBDP, a fila do INSS vem de muito tempo, e foi agravada com a reforma da previdência, em 2019. “Depois que a reforma saiu, precisou de uns cinco ou seis meses para que o sistema fosse adaptado às mudanças, e isso comprometeu também o estoque e a análise dos processos, porque ficou muito tempo parado”, conta.>
Outros desafios são o déficit de servidores e o atraso tecnológico de muitas agências. Bramante diz que, com muitos servidores se aposentando e a falta de reposição de profissionais, o problema crônico da falta de funcionários foi reforçado. De acordo com ela, o INSS realizou concurso no último ano, mas apenas mil pessoas foram admitidas em todo o país.>
"A gente tem também muitas falhas no sistema. Às vezes o sistema está fora do ar e isso atrasa perícias que estão agendadas, análises de processo, [existem] agências ainda com internet discada, que não têm tecnologia suficiente para analisar e para atender a tantas demandas".>
Procurado pela reportagem, o INSS afirmou em nota que, junto ao Ministério da Previdência Social, vem aplicando esforços para garantir a nomeação dos aprovados no último concurso como maneira de otimizar a força de trabalho. De acordo com o órgão, não há previsão de novos concursos.>
A longa espera sem garantia do benefício ou possibilidade de trabalhar causa desespero em quem aguarda. A agricultora Dalila afirmou que até tenta trabalhar em dias que a situação financeira "aperta", mas após um dia fazendo a coleta do licuri, coquinho de polpa amarela comum em regiões secas e áridas, as consequências podem chegar a três dias de cama. Dalila Batista tem fibromialgia e tenta se aposentar desde 2019 (Foto: Marina Silva/CORREIO) Filas zeradas>
Carlos Lupi, ministro da Previdência Social, promete zerar a fila do INSS, e, no dia 24 deste mês, se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir as condições para viabilizar este plano e pedir recursos. >
De acordo com ele, para zerar as filas ainda este ano, será necessário conceder 900 mil benefícios a mais que o previsto. Lupi reconheceu as dificuldades de realizar a promessa, citando entre os obstáculos a falta de médicos peritos para verificar cada situação. Ainda assim, reafirmou que pretende acabar com a fila até o fim de 2023, prometendo ainda que os solicitantes terão resposta em até 45 dias.>
Uma colaboradora de serviços gerais de uma escola de Morro São de Paulo, que preferiu não se identificar, já chegou a sair da cidade natal 1h da madrugada para ser atendida em Salvador às 8h da manhã. A moradora de Valença sofre com dores na coluna há cerca de um ano, e precisa pegar dois ônibus, um trator e um barco para ir ao trabalho.>
"É humilhante. Eu sempre trabalhei, desde os meus 13 anos. Me ver nesta situação é horrível, porque eu sei que tem muita gente que mente ou já mentiu para conseguir algum benefício. No meu caso, eu quero apenas me tratar", disse a colaboradora, que foi diagnosticada com duas hérnias na cervical e esteve na agência de Brotas, ontem, para realizar a segunda perícia. O primeiro procedimento aconteceu em março.>
Tecnologia>
Para facilitar o acesso à situação dos brasileiros na fila, foi criada em 2018 a plataforma Meu INSS, como parte do projeto de modernização do órgão. A iniciativa, que pode ser acessada através do site, do aplicativo e por ligação telefônica, permite que os solicitantes de benefícios consultem a situação do seu requerimento. Para acompanhar a solicitação, basta criar uma conta no sistema com o CPF e uma senha. Após fazer o login, deve-se buscar a aba Meus Benefícios, onde estarão os requerimentos e o status: pré-habilitado, habilitado, deferido ou indeferido.>
O Meu INSS oferece atualmente mais de 90 serviços, como acompanhamento da solicitação de benefício, estão a consulta de dados trabalhistas e previdenciários, solicitação de benefícios, agendamento de perícias e consulta de pagamentos do INSS.>