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Tharsila Prates
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 19:54
Antes do tradicional cortejo nesta sexta-feira (15), em Cachoeira, no Recôncavo baiano, a Irmandade da Boa Morte recebeu o título de Promotora da Igualdade Racial, concedido pelo governo federal. A tradição afro-católica, conduzida exclusivamente por mulheres negras – hoje são 48 –, foi criada no século XVII em Salvador e transferida para Cachoeira em meio a conflitos que marcaram a capital baiana. >
Segundo a provedora da festa deste ano, Irmã Neci Santos Leite, há 17 anos na Irmandade, o principal papel da entidade religiosa foi garantir uma partida digna às pessoas vulneráveis e fazer ressoar a mensagem de liberdade.>
“É o nosso reconhecimento de uma alforria. Isso foi uma busca, uma luta nossa ao longo dos séculos e começou com nossos ancestrais escravizados. Pessoas escravizadas não tinham direito a uma morte digna, eram jogadas em uma vala, de qualquer jeito, para os bichos destruírem. Então, nossa busca foi sempre por dignidade e por liberdade”, contou Irmã Neci, que ocupa com outras integrantes, anualmente, os cargos de provedora, procuradora, tesoureira e escrivã, responsáveis pela organização dos rituais e atividades culturais.>
Também em Cachoeira foi realizada a entrega do Prêmio do Ministério da Cultura para dona Dalva, sambista tradicional da cidade. Na ocasião, foram anunciadas ainda as obras pelo PAC Cidades para a casa de Samba da Dona Dalva e para o Terreiro Ilê Axé Icimimó. Dona Dalva também foi apresentada como a provedora da Festa da Boa Morte de 2026. O terreiro ganhou também uma placa de tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).>
Na Igreja da Matriz de Cachoeira, autoridades participaram da missa solene. A primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, e as ministras Margareth Menezes (Cultura) e Anielle Franco (Igualdade Racial) foram homenageadas pela Irmandade da Boa Morte pela contribuição com políticas de valorização da cultura. >
“A Festa da Boa Morte tem uma importância muito grande por tudo que já entregou para a sociedade brasileira, resgatando a história, em outros tempos comprando a liberdade de pessoas escravizadas. É uma história muito comovente. É uma comunidade de mulheres, um movimento de mulheres defendendo a liberdade, defendendo os direitos humanos”, disse a ministra da Cultura Margareth Menezes, presente na cerimônia.>
Sobre a festa>
A Festa da Boa Morte começou na última quarta-feira (13) e vai até o domingo (17), com manifestações culturais, sambas de roda, missas, procissões e espaços dedicados ao empreendedorismo negro na cidade de Cachoeira. Os festejos acontecem desde 1820.>