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Daniel Aloísio
Publicado em 10 de novembro de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Três jovens de menos de 21 anos, moradores de Simões Filho, foram presos pela Polícia Federal na manhã dessa segunda-feira sob acusação de cometerem fraudes no auxílio emergencial. O grupo solicitou o benefício pelo aplicativo da Caixa no nome deles e de mais outros 59 nomes , sem a prévia autorização. Por meio de boletos, eles transferiam o auxílio para suas próprias contas e chegaram a desviar R$ 33 mil entre maio e junho. >
O valor total roubado, no entanto, pode ter sido maior, segundo a Policia Federal. “Constatamos uma situação de continuidade de fraude com o FGTS emergencial, principalmente pelo líder do grupo. Vamos continuar investigando para descobrir se existem outros integrantes nessa quadrilha”, disse a delegada Suzana Jacobina. >
Os jovens presos não tinham antecedentes criminais, são maiores de idade e viviam com os pais no bairro CIA 1 de Simões Filho. Junto com eles, cinco veículos foram apreendidos (alguns importados), assim como também foi autorizada a quebra do sigilo bancário dos investigados e o bloqueio dos valores depositados. Um outro carro também está com mandado de busca e apreensão aberto, mas não foi localizado pelos policiais. Os criminosos alegaram que o veículo foi vendido. >
“A família nega que tinha ciência da prática dos rapazes, mas o IP utilizado para criação das contas está no nome da mãe de um deles. Eles se declararam autônomos e chamou a nossa atenção o número de veículos com marcas importadas. Os pais conviviam com esse patrimônio do filho, que não é condizente como o que ele receberia como autônomo”, afirmou Jacobina. >
Ainda não se sabe como o grupo conseguiu ter acesso aos dados das vítimas. “Isso é algo que também queremos descobrir no decorrer das investigações: precisar como eles conseguiram o CPF e o nome dessas pessoas. A gente sabe que existe um mercado de dados e suspeitamos que possa ter relação”, disse Daniel Justo Madruga, superintendente regional da Polícia Federal. Veículo de alto padrão dos jovens de menos de 21 anos foi apreendido (Foto: reprodução) Operação A operação foi o resultado da Estratégia Integrada contra as Fraudes ao Auxílio Emergencial, da qual participam diversos órgãos públicos: Ministério Público Federal, Ministério da Cidadania, Caixa Econômica Federal, Receita Federal, Controladoria-Geral da União e Tribunal de Contas da União, além da própria Polícia Federal. >
Todos os casos investigados nessa operação foram resultados de contestações que as vítimas fizeram no próprio banco. Elas não conseguiram solicitar o auxílio, pois o grupo criminoso já havia solicitado com os seus dados. De 2/4, dia que o auxílio emergencial foi criado, até 8/6, a Caixa tinha recebido mais de 150 mil processos de contestação em todo o país. >
“Era inviável a polícia investigar fraude a fraude pois o volume de denúncia é enorme. Então, juntamos instituições para cruzar dados e identificar potenciais quadrilhas”, explicou Madruga. Outras fraudes, como a de pessoas que solicitaram indevidamente o benefício ou tiveram acesso às solicitações de outros cidadãos, também estão sendo apuradas.>
Além de Simões Filho, a operação aconteceu conjuntamente em outras cidades brasileiras, desarticulando outros grupos criminosos. “A operação aponta a existência de uma fraude sistêmica no nosso país. É um crime comum em outros tipos de benefícios. Só que no auxílio emergencial, a urgência fazia com que o dinheiro chegasse rapidamente às pessoas e os criminosos se valeram disso”, avalia o superintendente regional da PF.>
Os três homens presos ontem responderão pelos crimes de furto qualificado mediante fraude, lavagem de dinheiro e organização criminosa, cujas penas, somadas, podem alcançar até 26 anos de reclusão. >
Servidores Outros tipos de fraudes investigadas pela PF são a de servidores municipais que solicitaram o benefício, mesmo recebendo salário do poder público. Pelo menos, 70.296 servidores podem ter recebido indevidamente cotas do auxílio emergencial. O número foi levantado a partir da relação de pagamento das três primeiras parcelas do auxílio emergencial liberadas pelo Governo. >
Com isso, foi realizado o cruzamento de dados de beneficiados no estado com a relação dos servidores municipais do banco de dados do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, que inclui servidores concursados, ocupantes de cargos em comissão e agentes políticos. Os indícios de fraude com o auxílio emergencial podem envolver recursos que chegam a R$ 117 milhões pagos indevidamente.>
O número de suspeitos de fraude no auxílio emergencial na Bahia, envolvendo servidores públicos, agentes políticos e ocupantes de cargos temporários ou função de confiança, foi o segundo maior entre todos os estados do país, só perdendo para o Maranhão. O presidente do TCM-BA, conselheiro Plínio Carneiro Filho, afirmou que o TCM será parceiro e irá auxiliar a CGU e os demais órgãos de controle para que todos os que receberam indevidamente façam o mais rápido possível o ressarcimento devido dos valores.>
“A nossa Corte de Contas, no caso, não tem poder fiscalizatório, mas vamos alertar os prefeitos e todos os demais gestores públicos municipais da Bahia no sentido de adotar ações para cobrar dos servidores ativos, inativos ou agentes públicos que devolvam o mais rápido possível o que receberam indevidamente, advertindo-os sobre as punições a que estão sujeitos”, afirmou. >
* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>