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Gilberto Barbosa
Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 05:00
Uma casa que abriga a história do Brasil. Depois de 25 anos fechado, o Museu do Recôncavo Wanderley Pinho reabriu as portas para o público nesta segunda-feira (8). Localizado no distrito de Caboto, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, o equipamento funcionará de quarta a domingo, das 10 às 17h, com acesso gratuito. >
Ao todo, o museu conta com cerca de 260 peças, entre objetos, documentos, mobiliário, paramentos, cerâmicas, pinturas, fotografias e achados arqueológicos, espalhadas por 55 cômodos. A requalificação envolveu os processos de restauração do espaço físico e das obras expostas, um trabalho iniciado há alguns anos. >
O acervo foi reorganizado em cinco núcleos: Histórico, Povos Originários, Povos Escravizados, Doméstico e Memória, um recorte museográfico que busca dar voz aos que sempre viveram à margem da história oficial. As salas exibem fotos, documentos, mobiliário e peças que remetem ao período colonial e ao longo dos séculos. Com duração média de duas horas, o passeio inclui também a visita à Capela de Nossa Senhora da Conceição da Freguesia, preservada e integrada à memória do antigo engenho.>
No primeiro andar, o museu abriga a exposição “Encruzilhadas”, com obras de arte negra brasileira e africana, vindas dos acervos do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) e do Solar Ferrão, fortalecendo o diálogo entre passado colonial e os traços vivos da cultura negra e afrodescendente. “Nós temos uma casa que já é a história. Essa é uma experiência, onde não se faz apenas uma visita e sai. O museu não é só o casarão ou as peças que estão expostas. Ele ainda está sendo modelado e acho que levaremos, ao menos, dois anos montando o museu para que tenha um corpo e sua marca”, afirmou a coordenadora Daniela Steele. >
O artista indígena Thiago Tupinambá foi responsável pela pintura das salas que compõem o Núcleo dos Povos Originários, decoradas com grafismos que remetem à tradição Tupinambá. A intervenção representa não só um resgate simbólico, mas a afirmação de narrativas indígenas muitas vezes invisibilizadas. >
“Temos uma sala com o povo Tupinambá dentro do museu, mas precisamos ter museus indígenas e ter outros espaços para levarmos a nossa história e a nossa arte. É um grande passo que o Museu do Recôncavo reconheça que os povos indígenas também carregam a sua arte”, pontuou o artista. Ele fez questão de destacar que esse foi o primeiro trabalho para um museu. “Isso abre portas não só para mim, como para outras pessoas”, destacou Thiago Tupinambá. >
Para a direção do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), que supervisionou a restauração, a reabertura do museu representa a valorização de histórias antes marginalizadas. O edifício, datado do século XVI, foi originalmente o Engenho Freguesia, considerado um dos primeiros engenhos de açúcar do Brasil colonial e um símbolo da economia açucareira, da escravidão e das transformações urbanas e culturais da Bahia. >
O investimento público na restauração foi de cerca de R$ 42 milhões, por meio do programa estadual ligado ao turismo e com apoio de financiamento internacional. A intervenção restaurou o casarão, a antiga fábrica do engenho, a capela, a área urbanística ao redor, e incluiu a construção de um novo atracadouro com acesso pela Baía de Todos-os-Santos.>
Para além de um espaço de memória, o museu assume também papel central no turismo cultural, ecológico e comunitário da região. No entorno do Engenho há áreas de Mata Atlântica preservada, um dos trechos mais valorizados ambientalmente do Recôncavo, o que amplia a experiência do visitante ao aliar história, natureza e identidade. >
Durante a cerimônia de reabertura estavam presentes o governador Jerônimo Rodrigues, o prefeito de Candeias Eriton Ramos, secretários estaduais, municipais e autoridades culturais. O evento foi encerrado com um show do cantor Lazzo Matumbi.>