Organização oferece cursos de programação para mulheres

As profissionais representam cerca de 20% do mercado de trabalho em tecnologia

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  • Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2023 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O mercado de trabalho em empresas de tecnologia ainda é bastante masculino. Atualmente, estima-se que menos de 20% do mercado de trabalho é composto por mulheres. Quando a análise se dá em relação a desenvolvedores, o número é ainda menor, destaca Regina Acher é cofundadora da Laboratória no Brasil e CMO global da organização. “Quando a gente pensa que a cada 10 pessoas, no máximo, a depender da área, duas são mulheres, estamos falando de uma realidade muito pouco diversa”, diz. 

“O que a gente vê na realidade é que em muitas áreas não se consegue chegar nem a estes 20% de participação feminina, quando nós temos uma proporção de mulheres muito maior na nossa sociedade”, destacou Regina Acher durante conversa com o jornalista Donaldson Gomes, no Programa Política & Economia, veiculado ontem no Instagram do CORREIO  (@correio24horas). “É um mercado crescente, com boas remunerações e se a gente não fizer nada, estes 20% hoje podem se transformar em 10% ou em 5%”.  

Um caminho para ajudar as mulheres interessadas em ingressar em carreiras na área de tecnologia é o processo seletivo aberto pela Laboratória até o dia 4 de junho. As oportunidades são para a formação de desenvolvedoras web, que são profissionais responsáveis pela produção das interfaces de aplicações digitais. “É uma porta de entrada para o mercado tecnológico. Nossa formação tem seis meses, intensiva, para que as pessoas se sintam seguras a começar a trabalhar”, explica.  

“Essas mulheres vão entrar e terão que continuar se desenvolvendo sempre. Elas podem iniciar como desenvolvedoras e migrar para outras áreas, como dados, que está crescendo muito, mas oferecemos uma porta de entrada para elas”, pondera.  

Para Regina Acher, mesmo com as ondas de demissões nas grandes empresas do setor, a área de tecnologia deverá continuar a ser atrativa profissionalmente. “Ninguém imagina que essas áreas irão diminuir. A gente tem um gap de talentos, tem um processo de ajustes em curso, mas o talento continua e continuará a ser necessário”, aponta.  

“Tem uma barreira da qual a gente fala muito e que precisa ser superada, que é a do estereótipo. As pessoas gostam de dizer que determinadas profissões são para homens e outras para mulheres”, pondera. Além disso, ela indica dificuldades no processo educacional, porque as turmas de cursos tecnológicos costumam ter menos mulheres e muitas não encontram um ambiente favorável à diversidade. “Nós mulheres enfrentamos inclusive a dificuldade de encontrar modelos em quem possamos nos espelhar. Temos exemplos de profissionais bem sucedidas em destaque? Sim, mas em quantidade ainda é muito pouco”, afirma.  

Além das barreiras específicas da atividade, ela lembra que as profissionais ainda precisam lidar com questões comuns também em outras áreas, como as diferenças de remuneração e a cobrança por parte de muitos homens para que respondam pelas atividades domésticas também. 

A Laboratória é uma organização social que nasceu no Peru em 2014 e é pioneira no treinamento em tecnologia. Segundo Regina Acher, a entidade surgiu quando uma das fundadoras estava criando uma agência digital e montou um time de desenvolvedores, mas percebeu que não tinha nenhuma mulher na equipe. “Os cofundadores decidiram criar a Laboratória porque perceberam que a ausência de mulheres na área de programação era um problema que precisava ser resolvido”, conta. “Ao mesmo tempo, havia uma quantidade enorme de mulheres em empregos menos técnicos”.  

Regina Acher contou que veio do mercado financeiro, que era outra área em que a presença feminina era bastante inferior à masculina. “Eu trabalhei 10 anos no mercado financeiro e na época ele também era pouco diverso em termos de gênero. Hoje, ele conseguiu se transformar. Ainda não é igual, mas tornou-se bastante igualitário”, lembra.  

“Hoje no Brasil, a depender da sua renda, da renda da sua família e da sua rede de relacionamentos, pode ser que você consiga entrar no mercado numa condição muito mais favorável, enquanto outros enfrentam uma condição muito desigual”, avalia Regina, lembrando que este incômodo foi o que a levou para a Laboratória.   

Ela conheceu os fundadores da organização e percebeu que os desafios de outros países na América Latina eram parecidos com os enfrentados aqui no Brasil. “Estava começando, mas já tinha experimentado algumas coisas, havia um histórico que eu queria implementar por aqui”, lembra. Na época já atuava em projetos sociais, em paralelo a outras atividades profissionais. “Foi uma coincidência que se encaixou com uma inquietude que eu tinha”, conta.