PMs baianos presos por sequestro torturavam e buscavam vítimas no trabalho

Eles estavam adulterando um carro quando foram presos

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 18 de abril de 2019 às 17:54

- Atualizado há um ano

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Cativeiro usado pela quadrilha por Divulgação

Eberton foi preso com os policiais Diego e Danilo (Foto: Victor Melo/Polícia Civil da Paraíba) Os dois policiais militares baianos presos na tarde desta quarta-feira (17), em Campina Grande (PB), por suspeita de explosão a bancos e realizar três sequestros de empresários, praticavam tortura nas vítimas. Além disso, eles iam buscá-las nos seus locais de trabalho, onde se apresentavam com distintivos falsos da polícia.

Segundo informou a Polícia Civil da Paraíba, essa forma de atuação da quadrilha facilitava a ação criminosa. Como as vítimas acreditavam que realmente se tratavam de policiais em serviço, acabavam acompanhando os criminosos sem fazer nenhum tipo de questionamento como, por exemplo, o porquê de não haver intimação ou mandado de busca e apreensão.

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Os policiais presos são Diego Afonso Saraiva e Danilo Fernando Oliveira, ambos lotados na 49ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/São Cristóvão). Com eles, a Polícia Civil da Paraíba também prendeu Eberton Carmo dos Santos, que é de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador.

Todos foram presos em fragrante enquanto adulteravam sinais identificadores de um veículo Fiat Toro. Com a quadrilha, a polícia apreendeu armas de fogo, carregadores de pistola, munições, além de diversas placas de veículos, algumas adulteradas. Também foram encontrados distintivos falsos usados para enganar as vítimas no momento inicial da ação criminosa. 

O CORREIO tentou contato com o comandante da 49ª CIPM major Jailson Damasceno de Jesus Santos, mas não conseguiu localizá-lo – ninguém atendeu às chamadas no batalhão. Os policiais não respondiam a processo disciplinar até então.

Já a Corregedoria da Polícia Militar da Bahia informou que “aguarda a remessa dos autos de prisão em flagrante da Polícia Civil da Paraíba para, dessa forma, dar início ao Processo Administrativo Disciplinar (PAD) que tem como pena máxima a demissão”.

Ação criminosa Os bandidos, de acordo com informações da polícia, se revezavam na abordagem às vítimas, sempre com a desculpa que um delegado queria falar com elas, em carro estacionado próximo ao estabelecimento onde trabalhavam. Quando a pessoa abordada chegava ao local indicado, era anunciado o sequestro e iniciada uma sessão de espancamento e tortura.

Segundo relatos das vítimas à polícia, os bandidos colocavam um capuz no rosto dos alvos do sequestro e passavam a dar socos e coronhadas na cabeça. Com exceção de uma ação, quando os criminosos ficaram rodando pela cidade com a vítima no carro, em todos os casos os bandidos levavam os sequestrados para um cativeiro na zona rural da cidade de Fagundes, região de Campina Grande, também na Paraíba.

O cativeiro ficava em um sítio do pai de Diego, um dos PMs presos. Na propriedade rural, a polícia localizou um contêiner onde as vítimas eram torturadas – recebiam socos, tinham uma corda amarrada ao pescoço e recebiam ordens para que o pagamento do resgate fosse feito logo, sob ameaças de morte.

Segundo o delegado Vitor Melo, da Delegacia Especializada de Crimes contra o Patrimônio (DCCPat), os sequestros de empresários ocorreram em 27 de setembro e 31 de outubro de 2018, e em 12 de março de 2019. Neles os bandidos receberam, respectivamente, R$ 70 mil, R$ 80 mil e 50 mil.

“Eles torturaram todas as vítimas”, afirmou o delegado, que vinha investigando o caso o grupo há um ano e dois meses, devido a outras ações criminosas, como venda de armas e participação em explosões de bancos e caixas eletrônicos – não foram dados detalhes sobre estas ações. (Divulgação/Polícia Civil da Paraíba) Outros integrantes da quadrilha estão sendo procurados. Isso porque uma das vítimas relatou à polícia que, logo após ter sido sequestrada em seu trabalho, foi levada para um estacionamento de um shopping. Ao chegar ao local, outros criminosos a aguardavam em um outro veículo.

O sequestrado, um comerciante local, disse à polícia que, na ocasião, acionou seu advogado para negociar com os bandidos, que pediram R$ 100 mil de resgate. Após negociações, o advogado e esposa da vítima pagaram R$ 70 mil. Por questão de segurança, os nomes dos sequestrados foram mantidos sob sigilo.