Política & Economia: ‘Fiol vai trazer dinheiro que nunca vimos’, diz Tramm

Com ferrovia, royalties pela produção de minério de ferro podem chegar aos R$ 500 bilhões por ano

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  • Da Redação

Publicado em 20 de novembro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Mesmo em um ano difícil, a mineração baiana chegou ao mês de outubro com um crescimento de 63% desde janeiro, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM). Quarto maior em produção comercializada, o estado registrou uma movimentação de R$ 4,7 bilhões no período. E, como um sinal de que ainda há muito o que crescer, estão previstos R$ 70 bilhões em novos investimentos no setor nos próximos três anos. 

O presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm, explica que para tornar todo o potencial do subsolo realidade falta apenas a infraestrutura para escoar a produção das áreas de lavras para os portos. Um dos grandes defensores da conclusão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), o administrador foi o convidado do jornalista Donaldson Gomes, no programa Política & Economia, realizado ontem no Instagram do CORREIO (@correio24horas). 

“A Fiol vai trazer toda a produção mineral da Bahia, uma boa parte que só depende mesmo da ferrovia para começar acontecer, diretamente para o porto”, projeta. Segundo Tramm, com a Fiol em operação, a geração de royalties da mineração (Cfem) pela produção de minério de ferro, que hoje é próxima de zero, pode chegar aos R$ 500 milhões por ano.  

“Com a nossa Fiol começando a funcionar razoavelmente, nem precisa funcionar 100%, a Bahia vai ter uma contribuição em torno de R$ 500 milhões. É um dinheiro que nós nunca vimos antes. Hoje é zero porque nós não temos logística. Não se transporta minério para exportação em kombis”, ressalta. 

Ele acredita que a situação trará um enorme impacto positivo para os municípios por onde a ferrovia irá passar no futuro. 

Processo longo Ele lembra que o processo de análise da licitação para conceder à iniciativa privada o trecho entre Ilheus e Caetité foi “bastante longo”. 

“Chegou ao ponto nos últimos meses até de contestar o modelo de sistema ferroviário, dizendo que estava se gerando um monopólio”, lembra. Para ele, é necessário discutir isso nos âmbitos corretos. “Esse trecho que estamos falando sobre a necessidade de licitar está 74% concluída. Estão esperando o que, o trilho pegar ferrugem?”, questiona.  Segundo estimativa divulgada pelo Ministério da Infraestrutura, a licitação do primeiro trecho da Fiol deve render aproximadamente R$ 3,3 bilhões aos cofres públicos. 

Para Tramm a demora para se chegar a uma solução no caso da Fiol é algo inexplicável.  “Essa obra não é só para a mineração. O nosso algodão, que é um dos melhores que existem, sai de São Desidério para o Porto de Santos ao custo de US$ 100 (por tonelada). Com a Fiol funcionando, esse custo cai para US$ 20”, calcula. “Quem ganha é o Brasil, que vai conseguir concorrer melhor no mercado externo”, acrescenta. 

Ele lembra que a movimentação de um grande volume de cargas pelas rodovias, além de trazer dificuldades econômicas, torna as estradas mais perigosas. “Quanto problema se causa ao meio ambiente com a movimentação de um grande volume de cargas pelas estradas”, pondera. Tramm diz ainda que o encaminhamento de uma solução para a Fiol é o último empecilho para a conclusão do Porto Sul, que é tocado em parceria pelo governo da Bahia e a mineradora Bamin. Ele ressaltou o esforço do setor para ser reconhecido como uma atividade essencial no início da pandemia do coronavírus. “Depois de muita briga, a mineração conseguiu ser incluída entre as atividades que não poderiam parar. Isso deu fôlego. Apesar das providências para atender as normas relacionadas à saúde, continuou trabalhou”. 

“A mineração está presente em tudo. Não existe um setor da atividade econômica em que ela não esteja presente. Estamos fazendo uma live agora usando o celular, que está cheio de produtos minerais, desde a capa de plástico, passando pelas partes metálicas e até na tela de vidro que você tem”, exemplifica. “Nossos óculos são produtos minerais, a casa onde a gente mora tem a base de pedra, colunas feitas com ferro, tudo isso é mineral”. 

A Bahia tem 47 minérios identificados. É líder na produção de diamantes, magnesita, talco, dentre outros. Segunda maior em níquel, terceira maior em cobre e rochas ornamentais. Desde 2017, a produção estadual cresce a taxas entre 20% e 30%, de acordo com dados do Sindicato das Mineradoras da Bahia (Sindimiba).  “Nós sempre lembramos da história de que o ouro é produzido em Minas Gerais, mas na realidade hoje nós somos grande produtores”, destaca. 

Tramm destaca o caráter inovador das empresas que operam na Bahia. “Nós não estamos apenas mandando pedras para fora do Brasil, estamos inovando na produção. Estamos acrescentando valor a essa produção”, ressalta. 

Atualmente, a mineração gera quase 20 mil empregos diretos no estado, afirma o presidente da CBPM. Aproximadamente 75% das vagas são ocupadas por trabalhadores baianos, de acordo com o Sindimiba. “A geração de empregos diretos é muito importante, mas o impacto da atividade vai além disso, porque a atividade fomenta o setor de serviços”, explica. Ele lembra ainda que a remuneração média do setor é duas vezes maior que a das indústrias e da construção e chega a três vezes o que é pago no comércio. 

“Quando uma empresa chega num rincão, ela é uma revolução para o município porque ela compra. O comércio se movimenta. Se tem dois mil funcionários, esse pessoal está consumindo onde? Naquela cidade. Mexe com tudo”, acredita. “Como a atividade paga um pouco mais, isso gera mais consumo, o que é fundamental para melhorar as condições de vida das pessoas”, afirma. 

Para Antonio Tramm, o setor mineral precisa aprender a “vender mais a sua utilidade”, mostrando o impacto da contribuição que paga e o impacto dela para os municípios. Mas não apenas isso. Sem mineração, os confortos da vida moderna seriam apenas sonhos.