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Por que Mairi ficou conhecida como a Friburgo baiana?

Cidade do centro-norte do estado se destaca pela produção de queijo

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 16 de junho de 2025 às 05:30

Prefeitura de Mairi brincou com 'semelhança' entre a cidade com Friburgo  Crédito: Reprodução/Redes Sociais

No centro-norte da Bahia, já nas imediações da Chapada Diamantina, desponta de uma região do típico sertão baiano uma cidade modesta com pouco mais de 18 mil habitantes. Trata-se de Mairi, um município que ganhou fama de Friburgo baiana, em uma analogia que passou a despertar curiosidade. Afinal, que semelhança há entre o pedaço de sertão do estado e uma pequena cidade da Suíça?

O rumor de parentesco entre a Friburgo europeia e a antiga Monte Alegre – primeiro nome de batismo da cidade – surgiu através de um blog especializado em comidas da Bahia. Com a missão de experimentar a culinária dos 417 municípios baianos, a influenciadora Gabriela Simões fez uma pequena passagem em Mairi e acabou descobrindo que as iguarias daquela terra não seriam fáceis de deixar passar.

Em texto publicado no site Comidas da Bahia, a criadora de conteúdo relata o encanto com o queijo produzido em Mairi e estabelece a régua elevada. “À primeira vista, parece improvável: de um lado, os Alpes suíços; do outro, as serras baianas, mas tanto Friburgo quanto Mairi, além da paisagem de montanhas e vales, têm a agricultura, a pecuária de leite e, consequentemente, a produção de queijos em região de montanhas, ou montanhês, em comum”, escreveu.

A crítica positiva causou tanto impacto que a própria Prefeitura de Mairi fez questão de ampliar o alcance. Nas redes sociais, o perfil do município publicou a imagem do principal cartão postal mairiense ao lado de uma bandeira da Suíça, o que repercutiu de maneira divertida entre os internautas.

Mesmo com o clima de diversão em torno do assunto, a maior parte dos moradores entende que a comparação com Friburgo não é totalmente infundada. “Temos um clima serrano mesmo no sertão, serras e montanhas, frio no inverno e a produção de queijo, que são coisas em comum entre as duas cidades”, aponta o servidor público Arthur Borges, 34 anos, morador de Mairi.

Na baixa estação, as temperaturas na cidade baiana podem chegar a marcar 14ºC, com sensação térmica que lembra o clima europeu. Nos pontos mais altos da cidade, o frio se torna ainda mais intenso e acomete fazendas da região, proporcionando uma das características do terroir – conjunto de fatores locais que influenciam na originalidade de uma produção agropecuária – perfeito para a produção de queijo artesanal.

Manjar montanhense

É lá, na terra localizada nas montanhas, cercada de um lado pela Caatinga e do outro lado pela Mata Atlântica que Maria da Graça Bandeira, 59 anos, se reencontrou profissionalmente através da produção artesanal de queijo. Proprietária da Queijaria Del Monte, as iguarias feitas por ela já foram cinco vezes premiadas desde que começou a investir no negócio, nascido na segunda metade de 2021.

Natural de Salvador, Graça vivia em Feira de Santana se mudou para uma fazenda em Mairi, de propriedade do marido, naquele ano. Veio dele a sugestão de fazer queijo, uma vez que havia leite em abundância dada a criação de vacas no local. Ela, então, abraçou a ideia tão somente pela curiosidade de aprender algo novo, visto que não tinha maiores habilidades na cozinha.

Entre erros e acertos, Graça decidiu se aperfeiçoar com cursos oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Em menos de dois anos, concorreu e ganhou ao primeiro prêmio de destaque do setor de laticínios.

“Eu trabalhava com serviço social, queria fazer o certo e só encontrava porta fechada. Já tinha decidido que não queria mais aquela carreira quando viemos para cá. Daí veio o queijo, que mudou a minha vida após os 50. É o tipo de coisa que faz você se encontrar”, conta.

Pelas condições climáticas favoráveis, o queijo produzido por Graça e por outros queijeiros de Mairi tem qualidade comparada ao terroir das regiões com clima de montanha, como Friburgo. Ela, no entanto, se encarrega de dar o toque legitimamente mairiense à produção, fazendo variações do laticínio com tempero, com massa filada e até com visual diferente – em imitação a uma trança.

Determinada a manter fabricação artesanal, a queijeira costuma utilizar 80 litros de leite por semana, o que rende 8 kg de queijo. No mês, ela consegue faturar até R$ 12 mil a depender da demanda. Um dos principais pontos de venda é a feira artesanal da cidade, que conta com apoio da prefeitura, sendo uma via de mão dupla para o orçamento pessoal de Graça e para a economia da cidade.

Primos distantes

Em Friburgo, na Suíça, o queijo é uma das forças principais da atividade econômica, que tem a agricultura, a indústria e o turismo como base. Em Mairi, por sua vez, a agricultura, o serviço público e o comércio é que sustentam a cidade, que tem um dos menores PIB não só da Bahia, como também do Brasil: R$ 8.568,25. Só para ter ideia da diferença, o PIB de Salvador é estimado em cerca de R$ 63 bilhões, de acordo com dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A economia é só um dos fatores que revelam que, apesar de algumas semelhanças, Friburgo e Mairi são primos distantes. Isso, no entanto, não incomoda os moradores da cidade baiana, que não têm a menor pretensão de reivindicar qualquer outra identidade além da mairiense.

“Viver em Mairi é viver muito bem. Eu fui para Salvador estudar e voltei para cá com a intenção de passar pouco tempo na cidade, mas voltei a me acostumar com esse ambiente mais aconchegante de interior que sabe receber as pessoas. A cidade tem seus problemas, como a centralização da agropecuária e a falta de distribuição de renda, mas, em geral, é bom viver aqui”, ressalta Arthur Borges.