Roceirinho trabalhava e era um ‘rapaz do bem’, diz ex-vizinha

Comerciante tenta desfazer imagem do traficante

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  • Bruno Wendel

Publicado em 23 de agosto de 2015 às 10:54

- Atualizado há um ano

Entre os moradores entrevistados pelo CORREIO, em Nazaré, uma chamou mais atenção. Uma comerciante que disse que foi vizinha de Roceirinho. Indo de encontro com os relatos da polícia e de outros moradores, a mulher tentou desfazer a imagem do traficante. “Quando jovem, sempre foi um rapaz do bem, educado, prestativo à família e aos vizinhos”, disse ela, que não vê o antigo vizinho há muitos anos. “Se eu vê-lo, não o reconheço”, admitiu. Porém, as lembranças de Adílson Souza Lima, na adolescência, não vão embora. Segundo ela, o rapaz cuidava de cavalos e gado nas fazendas da região. “Daí o apelido de Roceirinho. Ele vivia na roça”, contou. Roceirinho (à esquerda) está desde 2012 em presídio federal no Mato Grosso do Sul(Foto: Divulgação/Polícia Civil)Adulto, ele ganhava a vida vendendo carne numa feira da cidade. Segundo relatos de outros moradores, ele trabalhava todos os dias, acordava quando o sol nascia e só voltava para casa quando a noite chegava. A casa dele, onde morava com os pais e irmãos, ficava próxima a uma boca de fumo, controlada por dois rapazes. À época, o tráfico não era nada grandioso como hoje. “Foi então que um cara grande (traficante) de Salvador o convenceu a ser o gerente dele aqui, pois queria se expandir no Recôncavo por Nazaré”, disse um morador.Roceirinho não pensou duas vezes antes de mudar de ocupação ao comparar as vantagens: dinheiro, carro e mulheres – tudo bancado pelo tráfico da capital. Perspicaz, já aos 40 anos, percebeu que poderia andar com as próprias pernas, rompeu a ligação com Salvador, e recrutou um exército, formado majoritariamente por meninos, e tomou as duas bocas, eliminando os concorrentes. Rapidamente, aumentou seu faturamento e investiu na ampliação do seu bando.

Entrevista com o titular da Delegacia de Nazaré

Titular da Delegacia de Nazaré, o delegado Marcos Maia minimizou o poderio da Katiara e destacou algumas ações que têm sido tomadas para neutralizar o grupo na cidade  onde foi criado. Para ele, Roceirinho só ganhou força porque conseguiu dominar uma área importante em Salvador.Maia: comando de operação (Foto: Betto Jr.)

Como é a atuação da Katiara na região?A quadrilha se sustenta somente no tráfico. A base central dela é em Valéria. O bando transporta a droga de lá para cá. Não vejo eles como uma organização criminosa. É apenas um grupo  que acabou ganhando força por estar em Valéria.

Já que o senhor minimiza a facção Katiara, chamando-a de grupo, por que se fez necessário uma megaoperação, por terra  e água, incluindo a participação da Polícia Federal, para desestabilizar a quadrilha?Isso é normal. É uma ação do governo para trazer mais segurança nas comunidades, com vários mandados. A gente faz uma megaoperação para pegar tudo de uma vez. É uma resposta à sociedade. Aqui, em especial, tentei de uma forma maior, por causa das dificuldades: mangue, rio e morro. Tive a informação de que esses traficantes ficavam escondidos em cabanas no mangue. Com helicóptero, descobrimos quatro cabanas e encontramos em uma delas mantimentos, balança de precisão. 

Como o senhor avalia a  operação de terça-feira?Foi uma grande resposta aos criminosos, que se achavam intocáveis, e à população que vivia assustada. Hoje, a cidade está mais tranquila. A operação tirou de circulação criminosos importantes que articulavam as ações da quadrilha, como subgerentes, responsáveis pela coleta de dinheiro nas bocas de fumo.

As ações conjuntas vão continuar em Nazaré? E até quando?Estamos com o patrulhamento diário e com a PM também fazendo rondas. Montamos ações conjuntas e continuaremos fazendo patrulhamento conjunto com mais veemência nas  periferias.