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Governador baiano citou ausência de perfuração nas costas de miliciano Adriano da Nóbrega para rechaçar autenticidade de gravação
Da Redação
Publicado em 19 de fevereiro de 2020 às 21:53
- Atualizado há um ano
Miliciano Adriano da Nóbrega foi morto em Esplanada no último dia 9 (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) O governador Rui Costa (PT) afirmou nesta quarta-feira (19) que o corpo que aparece num vídeo divulgado na véspera pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) nas redes sociais não é do miliciano Adriano da Nóbrega.
A declaração foi feita em Brasília, durante uma conversa com jornalistas. “São falsas. Posso garantir que aquilo não é nem do IML [Instituto Médico Legal] da Bahia nem do IML do Rio. Não são imagens dele. A imagem do corpo tem uma saída de bala nas costas e as costas dele estão lisas", comentou Rui, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
Mais cedo, o CORREIO já havia divulgado que o vídeo foi gravado em um local particular não identificado, como sugerem as secretarias de Segurança Pública da Bahia e do Rio de Janeiro.
Ambas negaram ao CORREIO nessa terça-feira (18) que o vídeo tenha sido gravado nas dependências de algum Departamento de Polícia Técnica (DPT) da Bahia ou do Rio.
Morte Acusado de chefiar uma milícia carioca e de comandar um grupo de matadores conhecido como Esquadrão da Morte, o ex-capitão do Bope do Rio foi morto no último dia 9, durante operação policial na cidade de Esplanada, no Nordeste baiano.
Adriano era ligado a Flávio Bolsonaro, de quem recebeu homenagem na Assembleia Legislativa do Rio (o filho do presidente Jair Bolsonaro foi deputado de fevereiro 2003 a janeiro de 2019). Foi o atual senador quem publicou o vídeo com imagens de um corpo nu sobre uma mesa de necropsia.
“Perícia da Bahia (governo PT) diz não ser possível afirmar se Adriano foi torturado. Foram 7 costelas quebradas, coronhada na cabeça, queimadura com ferro quente no peito, dois tiros à queima-roupa (um na garganta de baixo para cima e outro no tórax, que perdurou coração e pulmões) e as costas desse jeito aí que estão vendo no vídeo”, escreveu Flávio na legenda do vídeo, postado em suas redes sociais.
AS IMAGENS ABAIXO SÃO FORTES
"Desculpas aos mais sensíveis, mas a postagem do vídeo é necessária para que não haja dúvidas de que ele foi torturado e assassinado, como queima de arquivo. E parte da imprensa está querendo botar na nossa conta. Uma semana antes do assassinato, a esposa de Adriano foi à imprensa denunciar que seu marido poderia ser morto a mando do governador do Rio. O caso é muito sério e tem que ser investigado até as últimas consequências", prosseguiu Flávio na publicação.
Nova perícia No embalo da publicação o presidente Jair Bolsonaro também abordou o assunto na terça-feira e defendeu uma perícia independente no corpo de Adriano, dizendo que uma eventual "queima de arquivo" não interessaria a ele.
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) também pediu uma nova perícia no corpo, solicitação que foi aceita em seguida pela Justiça, determinando a conservação do corpo no IML do Rio.
A situação também foi mencionada por Rui. "O Ministério Público da Bahia está apurando, o Ministério Público do Rio seguirá apurando. Todos os telefones foram, com o chip, entregues ao Ministério Público do Rio de Janeiro, na íntegra, sem serem vistos. Quem vai investigar é o Ministério Público do Rio. Vai ser feita uma nova perícia amanhã no Rio de Janeiro pelo IML do Rio. Agora está entregue às autoridades", comentou.
Ainda de acordo com o governador, “a grande pergunta é por que o presidente sonha, acorda, almoça, dorme só pensando naquilo”. “Do que será que ele está com medo? Esta é a grande pergunta que todo mundo deveria fazer", complementou.
Secretário Também em reação ao vídeo divulgado por Flávio Bolsonaro, o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, rechaçou as acusações: “a Secretaria da Segurança Pública da Bahia vai continuar com aquilo que nós começamos a fazer desde antes mesmo do dia do fato, que é o auxílio que nós prestamos à operação do Rio de Janeiro. [Vamos], agir com a máxima transparência, com a máxima intenção de ajudar instituições como o Ministério Público e a Justiça, e não trazer confusões e nem teorias políticas a respeito de um trabalho eminentemente policial”.
Barbosa reforçou que o vídeo divulgado nas redes não é reconhecido como autêntico pela perícia baiana ou pela perícia do Rio. “As imagens não foram feitas nas instalações oficiais do instituto médico legal. Então nós temos a clara convicção de que isso é para trazer algum tipo de dúvida, de questionamento, a um trabalho que ainda não foi concluído”, disse.
Peritos O perito médico legista e diretor do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, Mário Câmara, disse que foi surpreendido com as imagens e afirmou que não é possível analisar um vídeo que não foi autenticado pela perícia.
“Não sabemos se foi adulterado, onde foi feito, não sabemos se o corpo é realmente do senhor Adriano. Então não faremos comentários sobre o vídeo. O que eu posso dizer é reiterar que o laudo pericial foi feito por um perito médico legal especialista na área, com formação e balística, muito experiente em casos como este".
Ainda segundo Mário Câmara, o caso de Adriano não é tecnicamente difícil: “O laudo pericial descreve exatamente os orifícios de entrada, os orifícios de saída, a trajetória dos projéteis, a angulação, não há nenhum sinal de tortura no corpo, não há sinal, no corpo, de execução”.
Vice-presidente do Sindmoba (representa médicos legistas e odontolegistas da Bahia), Murilo Safira disse que imagens em vídeo não fazem parte do protocolo oficial de necropsias, apenas imagens em foto. “Geralmente, quem faz essas imagens e acaba vazando para o público são funcionários terceirizados que atuam nos DPTs. Funcionários do Estado que fazem isso estão sujeitos a punições que a depende do caso podem resultar em exoneração”, disse.