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Fernanda Santana
Publicado em 13 de dezembro de 2018 às 02:00
- Atualizado há 2 anos
Assembleia Legislativa teve mais um dia tenso, com protesto de servidores e proteção policial (Foto: Marina Silva/CORREIO) Logo que receberam a notícia de aprovação da reforma administrativa pelos deputados da ala governista, os representantes de sindicatos de servidores públicos organizaram uma reunião informal em frente à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), nessa quarta-feira (12). Diziam se sentir traídos e decidiram, ali mesmo, organizar um dia decisivo de diálogos entre lideranças, na próxima segunda-feira (17), no auditório do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia.>
Na ocasião, pretendem decidir os próximos passos da reação, que podem, sim, envolver paralisações. No mesmo dia, será votada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para determinar os ganhos do governador Rui Costa (PT) como teto salarial do estado.>
Leia também: Com mobilização de delegados, investigações são paralisadas na Bahia>
Os mais de 15 representantes das entidades de repartições públicas estaduais, junto a outros 350 trabalhadores, reagiram com tristeza à aprovação da reforma, proposta pelo governador, que aumentará a contribuição previdenciária dos servidores de 12% para 14% e redução de 4% para 2% do repasse do governo para o Planserv – o equivalente a R$ 200 milhões anuais.>
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Na noite anterior, pelo menos 100 pessoas dormiram no plenário da Alba. Os deputados oposicionistas deixaram a votação em protesto. “A gente se sente como? Injustiçado! A gente se sente muito injustiçado. Mas, não vamos ficar quietos e calados. Vamos para o enfrentamento, sim. Queremos o que é justo”, falou a presidente do Sindsaúde, Ivanilda Brito, ao CORREIO. As conversas dos sindicalistas e servidores giraram em torno, justamente, da revolta contra a decisão do governo. Desde 2015, os servidores estaduais não têm reajuste salarial. O presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), Marcos Maurício, saía da Alba quando conversou com a reportagem por telefone.“Foi uma decepção o governo aprovar uma reforma dessa sem diálogo. Aprovar uma pauta dessa sem diálogo, sem transparência, sem sentar com os sindicatos”, afirmou.Os deputados seguiram para o auditório Jorge Calmon, enquanto a casa era cercada por policiais militares que impediram a entrada de servidores. Não houve nenhum registro de agressão. “É uma decepção, vindo do Partido dos Trabalhadores. Esperamos que o governo vença essa truculência. Nós [servidores] não podemos assumir a culpa”, completou. O representante referia-se à justificativa do líder do governo, deputado Zé Neto (PT), de que o pacote apresentado era amargo, mas necessário. O petista defendeu: antes arrumar as contas “dentro de casa” que mexer na vida de todos os baianos.>
“Estamos [servidores] sendo os patinhos feios da situação”, reforçou o sindicalista.>
Na próxima semana, os policiais civis se reunirão em assembleia para decidir, coletivamente, o que farão. >
A aprovação também foi seguida de um início de cálculos e previsões para o futuro. Futuro próximo, já que, a partir de 2019, as mudanças começam a valer.>
“Se o Planserv vai ter corte de orçamento, como é que a gente não vai sentir? A questão do Planserv é um bem para o trabalhador e a gente não quer que esse plano se acabe”, disse a vice-coordenadora da APLB, Marilene Betros.>
A Secretaria da Administração do Estado (Saeb) voltou a ser questionada sobre como funcionará o equacionamento de menos dinheiro no caixa com a manutenção do suporte. Perguntada sobre a possibilidade de equilibrar a conta com demissão de funcionários, a pasta negou:“Não haverá mudança no quadro de funcionários.” Ivana Brito, do Sindsaúde, apontou outra questão. “Acredito que crie um clima de competitividade entre os servidores públicos e os servidores Reda [Regime especial de contratação]. Mas, no geral, são conflitos pequenos”, observou.>
Muitos servidores criticam a contratação excessiva via regime especial – que mantém vínculo de trabalho por no máximo dois anos – em detrimento de concursos. São 27.328 servidores Reda, segundo a Saeb. No total, são 150 mil servidores públicos ativos e 120 mil inativos. A Saeb não comentou a questão. >
Contas na prática As mudanças previdenciárias impactarão em quase 17% no salário dos servidores. O aumento porcentual foi de 2%, mas, na prática, significa uma variação positiva de 16,6% para o governo. Enquanto isso, são esperados R$ 200 milhões anuais de verbas retiradas do Planserv. A repercussão depende do salário de cada servidor.>
O educador financeiro Ângelo Guerreiro ilustra como funcionará. O exemplo é aplicado em um trabalhador que ganha R$ 1 mil. Se, antes da aprovação, ele 'perdia' R$ 120 mensais para a previdência, a partir de 2019 o valor subirá para R$ 140.>
A contribuição desse mesmo trabalhador com o INSS é de 8%. Ou seja, as contas do servidor começam a ficar apertadas, explica Guerreiro.“É como se uma determinada conta tivesse subido 16,6%. Imagine se esse aumento em todos os setores. Ele quebra”, afirma.Para o governo, no entanto, o aumento da contribuição poderá amortizar o déficit de R$ 4 bilhões da Previdência do estado. >
E, em casos como esse, é impossível fugir da cobrança. “A contribuição é obrigatória. O trabalhador entra com uma parte, o Estado com outra. O regime público e dos servidores não é como o privado”, conclui Guerreiro.>
Aprovada com revolta A polêmica reforma administrativa e econômica proposta pelo governo do estado foi aprovada ontem na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Mas não sem resistência dos servidres. O prédio da Assembleia foi cercado por viaturas do Batalhão de Choque e da Rondesp, da Polícia Militar.>
Grades de proteção foram colocadas no entorno a pedido da Alba - e servidores em protesto foram impedidos de entrar. Os deputados acessaram o local sob escolta e se depararam com gente que sequer dormiu em casa.>
Eles foram recebidos no Centro Administrativo da Bahia (CAB) sob gritos de “traidores”. Horas depois, acabaram aprovando o pacote de medidas que inclui o aumento da contribuição previdenciária de 12% para 14%, a redução dos repasses do governo do estado para o Planserv em R$ 200 milhões, além da extinção de órgãos - a exemplo da Conder. PMs do Batalhão de Choque fazem barreira na frente da Alba (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Houve tumulto. Servidores tentaram impedir o acesso de parlamentares ao prédio da Alba e chegaram a se posicionar em frente ao carro da deputada Angela Sousa (PSD), que foi levada até a Assembleia por policiais militares. >
Do lado de fora, os servidores cantavam: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”, trecho de Vou Festejar, de Beth Carvalho. Com o plenário ocupado por cerca de 100 servidores que dormiram lá, a sessão, que tinha sido interrompida na véspera por conta de mais confusão, ocorreu no auditório Jorge Calmon.>
A decisão provocou revolta de funcionários públicos e da bancada de oposição, que decidiu abandonar o local antes da votação. O presidente do Legislativo baiano, Angelo Coronel (PSD), justificou a mudança em função da ocupação dos servidores, que, segundo ele, depredaram o patrimônio público. “Eu aceito que as pessoas venham protestar, mas não depredar o patrimônio. Quebraram a porta, cadeiras. Eu estou cumprindo meu papel como presidente colocando para votar”.A mudança de local foi criticada pela bancada de oposição, que tentou barrar a votação. “Oque vimos hoje foi um Parlamento acovardado, com deputados estaduais no porão da Casa, entrando pelos fundos. Vimos a Casa do povo sendo sitiada pelo Batalhão de Choque”, afirmou o Luciano Ribeiro (DEM), líder do bloco.>
Para ele, faltou debate. O líder do governo, Zé Neto (PT), rebateu: “O governador falou em debates, nós aqui na Assembleia já estávamos discutindo a crise e as consequências dela”, disse. Apesar de boa parte da reforma ter sido aprovada, a votação da PEC que determina o salário do governador, de R$ 22,4 mil, como teto para o funcionalismo público ainda começará a ser votada na semana que vem. Negociação com os delegados, porém, já asseguraram que eles não terão perdas.>
10 minutos O texto proposto pelo governo foi aprovado com 38 votos de deputados governistas, de um total de 63 parlamentares. Cinco deputados da base do governo não compareceram: Ivana Bastos (PSD), Paulo Câmera (PR), Marcelino Galo (PT), Euclides Fernandes (PDT) e SamuelJúnior (PDT). Os 19 da bancada de oposição abandonaram o auditório antes da votação.>
Com quórum suficiente, o texto passou por unanimidade entre os presentes, em 10 minutos. Significa que a contribuição previdenciária dos servidores sobe e o repasse do governo no Planserv cai, além da extinção de três órgãos- como a Conder, com quem ainda há conversar - e da autorização para privatizar a Bahia Pesca. >
Segundo o governo, o objetivo é gerar uma economia de R$ 390 milhões anuais aos cofres do estado com as medidas. Com a mudança na Previdência, o Executivo espera arrecadar mais R$ 250 milhões por ano. O déficit previdenciário, contudo, já supera os R$ 4 bilhões.>
*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.>